Brasil É de Todos, Não de Quem Tem Mais: Entrevista com Jango Filho

O ex-deputado estadual João Vicente Goulart atualmente no Partido Pátria Livre (PPL-DF), filho do ex-presidente João Goulart (1961-64), manifestou recentemente a disposição de se candidatar à Presidência do Brasil. “O PPL está decidindo se vai lançar um nome à Presidência da República que possa sensibilizar mais o eleitor com um programa de governo independente, sem máculas, com história de lutas e propostas claras para a Nação brasileira”, diz o possível presidenciável na conversa a seguir.

O pré-candidato analisa, de maneira altamente crítica, a conjuntura brasileira com especial atenção às reformas do governo Temer, “um engodo entreguista que está vendendo a Pátria”, além de apresentar propostas concretas para que o País saia deste atoleiro ao mesmo tempo que, segundo o ex-parlamentar, possui “a mais reacionária bancada ruralista do mundo”.

“Jango Filho” condena também o que chama de golpe parlamentar contra a ex-presidente Dilma Rousseff, segundo ele “tomada de assalto pelos ratos que habitavam o porão do navio, um verdadeiro complot (…) apoiados por um presidente da Câmara ladrão, corrupto, embusteiro e golpista como era o deputado Eduardo Cunha, partícipe e subchefe da quadrilha que hoje comanda o País”.

Em abril, João Vicente Goulart desfiliou-se do PDT, partido que ajudou a construir “nos momentos mais difíceis” e pelo qual fora deputado estadual de 1983 a 1987 pelo Rio Grande do Sul. O motivo foi a aliança partidária com o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), que à época inviabilizou a entrega do terreno onde seria construído o Memorial da Liberdade e Democracia Presidente João Goulart (imagem abaixo), última obra do arquiteto Oscar Niemeyer.

“Cassou Jango, meu pai, pela segunda vez”, indignou-se então o atual vice-presidente nacional do PPL, qualificando a atitude do governador braziliense de “covarde”. “Depois de tudo pronto, Rollemberg cassou o terreno quando começamos a botar os tapumes da obra”, lamenta o filho do ex-presidente Jango, em conversa particular com esta reportagem.

Logo após sua desfiliação do PDT, João Vicente, 8, ex-presidente do Instituto de Terras, ex-sub-secretário de Agricultura e ex-presidente do Banco da Terra no Rio, disse que a aliança do PDT com o PSB é formada “em nome do pragmatismo fisiológico, eleitoreiro e das piores práticas políticas que esta figura, disfarçada de ‘socialista’, pratica também contra o povo do Distrito Federal”.

Nesta entrevista “Janguinho”, nascido no Rio em 22 de novembro de 1956, também comenta o quanto seu pai Jango – inédito promotor, em toda a história do Brasil, das Reformas de Base que em pleno auge da Guerra Fria incluíam reforma agrária e limitação das remessas de lucro ao exterior, entre outras tantas medidas altamente populares que, jamais, seriam minimamente abordadas sequer verbalmente por nenhumpresidente da República que o sucedeu – influencia seu caráter até os dias de hoje, e sua própria carreira política: “Ensinamentos que levarei como exemplo até o fim dos meus dias”, afirma o pré-candidato à Presidência do Brasil.

Testemunha mais íntima e herdeiro direto das maiores lições democráticas e de coragem que este País já teve, “Jango Filho”, que ao lado da mãe, a ex-primeira-dama Maria Thereza Goulart, preside o Instituto João Goulart, conta as experiências da família Goulart no exílio, como se sentia o pai nos últimos dias de vida, e o atual descaso do Estado brasileiro em concluir as investigações que evidenciam que a causa do falecimento de Jango, em 6 de dezembro de 1976 na cidade argentina de Mercedes, foi envenenamento.

Em um país que banaliza a memória de suas conquistas e, não raras vezes, martiriza nobres peronagens da sociedade dos mais diversos segmentos, tudo isso decorrente do acentuado individualismo e da apatia entre outras antivirtudes que forma uma nação carente de referências, é fundamental dar voz ao possível presidenciável como João Vicente Goulart.

Mais que justo, é urgente agora e sempre trazer à memória um presidente que ao mesmo tempo que contava com altíssimos índices de popularidade nos delicados anos 60, acabou covardemente derrubado em nome de uma autodenominada revolução democrática, que logo se revelou farsante diante do golpe militar – enganado mesmo antes de sua execução apenas os mais incautos, guardando enorme semelhança com os sombrios tempos atuais.

Remontar à história agora ouvindo alguém diretamente envolvido na questão é altamente construtivo, podendo funcionar até mesmo como antídoto intelectual e moral para uns tantos diante dos inúmeros oportunistas de plantão que empesteiam este País falido, especialmente o Partido dos Trabalhadores que, em enorme medida, utiliza-se da imagem do ex-presidente Jango muito mais nominalmente a fim de, com a peculiar hipocrisia, embarcar Luiz Inácio no trem dos revolucionários contrários às oligarquias locais e ao capital estrangeiro, além de distrair as atenções das próprias estripulias do PT, que para fazer com que Jango sirva realmente como exemplo prático.

A seguir, política nacional e presidente Jango, por João Goulart “Filho”.

Edu Montesanti: Senhor João Vicente Goulart, muitíssimo obrigado por conceder esta tão honrosa entrevista. Quais os grandes ensinamentos de seu pai, e de que maneira ele influenciou sua vida?

João Vicente Goulart: Devo agradecer o espaço concedido, neste tão importante momento da situação política brasileira em que vivemos apreensivos com o destino do país e dos cidadãos, cada vez mais sufocados com a perda dos direitos mais essenciais à vida, conduzidos a um obscuro e enigmático destino que este governo ilegítimo vem imprimindo ao povo.

Jango, meu pai, sem dúvidas trouxe para dentro de mim ensinamentos que levarei como exemplo até o fim dos meus dias. Crescer no exílio junto dele construiu alicerces sólidos no que tange ao desprendimento pessoal, tenaz e combativo que ele teve até o fim da vida, deixando em pé até hoje sua luta e exemplo, não só pela concessão de direitos a uma sociedade mais justa, mais fraterna e mais distributiva aos trabalhadores brasileiros, como também construiu dentro de nós a certeza de que não se deve abandonar jamais os objetivos sociais e coletivos, para nos manter vivos e de pé para enfrentar a resistência e a tirania da opressão.

A sua consciência unívoca de conceitos como a liberdade, a legalidade, a justiça social, a democracia em sua plenitude, o direito a idênticas oportunidades para todos os cidadãos brasileiros, e a certeza de que as riquezas de um país devem estar a serviço de todo o povo que constrói a Pátria brasileira foram, sem dúvidas, a razão do porquê, até hoje, a feroz ditadura brasileira não conseguiu, como queria, enterrar o sonho de construirmos uma Nação soberana, solidaria, briosa, onde todo o seu povo tenha orgulho de ser brasileiro.

Este é o meu legado, herdado de Jango. Após 53 anos do golpe de 1964, continuamos falando no projeto de Nação que foi ceifada naquela época. Temos ainda muito a falar, muito a construir e a não desistir do sonho de termos um país para todos, e não apenas para alguns privilegiados que insistem em manter nosso povo sob sua tutela.

Fale um pouco do seu tempo com Jango, nos momentos bons e nos mais dramáticos.

 Momentos de fé e esperança. O exílio constrói em nós uma couraça de resistência, baseada na fé inabalável de que lutar pela Pátria, não é pouca sorte para ninguém. A dramaticidade do que ocorreu na América Latina, através dos golpes militares sucessivos de efeito dominó que se abateram sobre nós a partir do golpe brasileiro de abril de 1964, atingiu uma geração inteira que acabou sacrificada nas diversas nações deste hemisfério sul.

Foram derrubadas as democracias do Brasil, Argentina, Uruguai, Chile, Peru, Bolívia, e assim sucessivamente ao ponto de em 1976, quando meu pai Jango morreu no exílio, praticamente toda a América do Sul tinha regimes militares com algumas exceções como a Venezuela, que naquela época tinha o governo de Andrés Perez, subserviente do Império americano, que vendia a eles a preço de banana o petróleo venezuelano.

Recentemente lancei um livro, Jango e Eu, Memórias de um Exílio sem Volta, o qual relata muito bem esse período do desterro, os sofrimentos que essa perseguição trouxe não só ao meu pai, mas a todos os patriotas de diferentes países que, naquela época, lutavam também no exílio para restaurar a democracia e a liberdade que as ditaduras militares haviam imposto na América Latina.

Milhares de pessoas desapareceram, foram assassinadas, torturadas por estes regimes de exceção, instalados todos eles, diga-se de passagem, por uma política externa do Departamento de Estado americano, dirigidas e orientadas pelo Comitê dos 40 sob a orientação de Henry Kissinger. O exílio
nos faz ser aves peregrinas que voam constantemente à procura de novos sóis e de novas pousadas.

Leia: Golpes Militares na América Latina – O Brasil Subjugado por Uma Elite Ignorante, Histérica e Devastadora

Por que a decisão de candidatar-se à Presidência do Brasil?

Não sou, não fui e não serei candidato de mim mesmo. Não existe ainda essa decisão. Diante das antidemocráticas medidas eleitorais implantadas recentemente pelo Congresso Nacional que estabelecem cláusulas de barreira aos pequenos partidos, e a necessidade de se fazer no mínimo 1% em nove Estados da Federação além de 1,5% em todo o Brasil na legenda de deputados federais, o PPL está decidindo se vai lançar um nome à Presidência da República que possa sensibilizar mais o eleitor com um programa de governo independente, sem máculas, com história de lutas e propostas claras para a Nação brasileira, e desta forma puxar os votos necessários para a sobrevivência partidária.

O PPL tem reunião do Diretório Nacional marcada para os dias 18 e 19 de novembro, e só ele soberanamente pode decidir esta questão da candidatura presidencial. Entrei no PPL para acatar as decisões coletivas e, se for o caso, cumprir tarefas como missões partidárias. Esta poderá ser uma delas.

O quanto Jango serve de inspiração ao senhor, especialmente nesta pré-candidatura?

Deixemos a pré-candidatura de lado e detenhamo-nos no período de governo do presidente João Goulart. O Brasil vivia, na década dos anos sessenta, uma efervescência cultural muita ativa. Debatia-se o país e a política governamental nas praças, nas ruas, nas universidades e sindicatos; era uma época de profundo debate sobre os destinos do país, e muitas manifestações sociais foram absorvidas naquele período com muito destaque e projeção no surgimento de um modelo de Nação mais participativa.

Foi um período brilhante, onde surge no Brasil o Cinema Novo, a Bossa Nova, o Teatro de Arena na seara cultural. Surgem novos movimentos sociais tais como as ligas camponesas, o sindicalismo industrial e rural, o movimento estudantil que, no fervor do debate durante o governo Jango, projetava uma nação nacionalista em antagonismo com o internacionalismo de seus opositores.

O governo João Goulart traz à discussão ampla da sociedade, a reforma do Estado brasileiro através das “Reformas de Base”, um conjunto de propostas que visavam ao desenvolvimento do mercado interno como alavanca do desenvolvimento.

As reformas agrária, tributária, bancária e universitária, o Plano Nacional de Alfabetização, a reforma urbana, a lei de remessas de lucros das empresas multinacionais, a encampação das refinarias de petróleo outorgando o monopólio não só da exploração como também do refino à Petrobras, foram medidas nacionalistas que desagradaram os donos do mundo e as elites nacionais.

Conquistas importantes na área social foram obtidas com muito esforço, como a outorga do décimo terceiro salário a todos os trabalhadores brasileiros. A criação e instalação da Eletrobras, a criação do sindicalismo rural, o projeto Sete Quedas que a ditadura maquiou e que depois veio a ser denominado Itaipu, surgem no governo João Goulart.

Na política externa, pela primeira vez o Brasil posiciona-se internacionalmente com absoluta independência e soberania, respeitando o que Santiago Dantas, seu chanceler, defendeu a pedido de Jango: a política de “autodeterminação dos povos”. O Brasil restabelece relações com a União Soviética, vota contra o colonialismo nas instâncias da ONU, avança com o restabelecimento de relações com a China e com os povos asiáticos e africanos, enfim, todas estas conquistas foram negadas pelos ditadores militares que, durante anos, tentaram esconder estas propostas do povo brasileiro.

A história relatada no período da ditadura tentou não só apagar o período de governo do presidente João Goulart, como fez questão de alienar duas gerações brasileiras da bandeira do nacionalismo, enquanto entregavam ao capital internacional a capacidade de reação de um povo livre.

Qualquer semelhança com o que hoje estamos vivendo não é mera semelhança, é a mais pura realidade de um entreguismo covarde de um governo ilícito, que voltou a tomar conta do Brasil. 

Vídeo: A duas semanas do golpe militar: Comício de Jango sobre Reformas de Base / Central do Brasil, Rio, 13.3.1964

Quais suas propostas e como deverá ser a campanha, se vier a acontecer?

Se o PPL decidir ter uma candidatura à Presidência da República, qualquer um dos nomes à disposição desta luta terá, necessariamente, que seguir a orientação doutrinária e a política que consta no programa partidário.

O nacional-desenvolvimentismo é nosso fundamento de atuação, que traz em seu DNA as grandes lutas do trabalhismo muito bem gravadas e trilhadas ao longo da nossa história. Os anos de 1945 a 1964, conhecidos como o período nacional-desenvolvimentista, são uns dos poucos na história republicana brasileira nos quais o Brasil vivenciou uma experiência democrática mais estável.

É claro que precisaremos, no Brasil de hoje, debater com a sociedade novos paradigmas que nos anos sessenta ainda não revelavam a importância de hoje.

Quais paradigmas?

Debater a questão ambiental, a segurança alimentar, a proteção de nosso ecossistema, a questão da violência e segurança, a questão previdenciária e a própria democracia através de um sistema eleitoral que nos permita ter verdadeiros representantes do povo brasileiro, com no máximo uma reeleição dos parlamentos e não termos mais essas excelências, os despachantes de grandes corporações que hoje temos como deputados e senadores; enfim, necessitamos urgentemente de um grande diálogo nacional que nos permita agrupar opiniões divergentes e por fim a esse discurso de ódio que hoje trava a sociedade brasileira.

Rediscutir com as Forças Armadas o conceito de “segurança nacional”, pois hoje temos que ter como prioridade a defesa dos nossos biomas naturais como as florestas da nossa Amazônia, da nossa plataforma continental, a Amazônia azul, dos novos minerais tais como o nióbio, os quais devem estar sob estrita proteção nacional, e retomar, sem dúvidas, a discussão de nossa matriz energética, inclusive a questão atômica que é um direito envolvendo nossa soberania.

Quais as medidas mais nocivas do governo Temer a seu ver, o que o senhor faria para reverter isso, e como?

Este governo não somente traz medidas nocivas ao Brasil, como o governo Temer em si é uma grande tragédia, revestido por sua ilegalidade para a Nação brasileira pois traz em seu contexto a fraude política, a inconstitucionalidade, a mentira imbuída de um cinismo disfarçado de conspiração contra as instituições brasileiras, desestabilizando princípios básicos de democracia e soberania.

Isto, sinceramente, não é um governo. Havia um barco meio sem rumo na economia, mas eleita democraticamente que foi, tomada de assalto pelos ratos que habitavam o porão do navio, um verdadeiro complot arquitetado desde o início do segundo governo Dilma Rousseff por aqueles que perderam a eleição, mas não eram brasileiros. Basta lembrar o primeiro discurso de Aécio no Senado Federal carregado de ódio e ressentimentos, pedindo recontagem de votos, e exclamando a quatro ventos que houve estelionato eleitoral.

Esses personagens que, em seguida, deram início à conspiração e ao golpe parlamentar, o fizeram contra a Constituição brasileira apoiados por um presidente da Câmara ladrão, corrupto, embusteiro e golpista como era o deputado Eduardo Cunha, partícipe e subchefe da quadrilha que hoje comanda o País enclausurada no Palácio do Planalto sob denúncias das mais graves as quais, nunca na história republicana do Brasil, haviam acontecido contra um presidente em exercício no comando da Nação.

O congelamento de investimentos pelo prazo de vinte anos que engessará o desenvolvimento social, a educação, a saúde, a segurança, é um crime de lesa-pátria que este governo está cometendo, e que terá que responder diante das novas gerações. Somos uma nação que cresce demograficamente na ordem de 1,5% ao ano e necessitamos abrir este número de vagas escolares, necessitamos integrar estes novos brasileiros ao País e suas riquezas que a eles pertencem.

Como fazê-lo sem novos investimentos em educação, em saúde, em segurança? Estas crianças, com certeza, não nascerão com uma poupança de mais de um milhão de reais como certos Michelzinhos, não terão direito a uma escola digna, não terão direito à saúde pública, não terão direito a oportunidades iguais em relação àqueles que muito têm.

A reforma trabalhista que subtraiu direitos dos trabalhadores brasileiros, trazendo à tona uma aberração jurídica que o “acordado está acima do legislado”, nos traz novamente um princípio de escravismo fantasiado de modernidade ao ponto de, na iiminência do empregado perder o posto de trabalho, daqui a pouco estará “acordando” por sua comida e por sua moradia, apenas.

Tudo em nome da modernidade pois, como argumentam com ampla divulgação da mídia comprometida não com o social mas com a exploração humana de seus pares, os grandes grupos econômicos oligopolistas e rentistas, nacionais e multinacionais que operam o sofrimento humano no Brasil, a CLT estava muita vetusta e, portanto, havia que modernizá-la.

Ora, não só usaram essa falácia na CLT como também, recentemente através de uma portaria ministerial atendendo a mais reacionária bancada ruralista do mundo, tentam revogar a Lei Áurea para que os ruralistas, que os sustentaram no poder votando contra o andamento do processo pelo Supremo Tribunal Federal que iria processá-los e afastá-los do poder por formação de quadrilha, pudessem contratar pessoas em situação análogas à escravidão.

Este é o governo Temer, um engodo entreguista que está vendendo a Pátria. Agora mesmo, está em andamento a venda da Eletrobrás, outra conquista do governo João Goulart que pertence ao povo brasileiro, sendo preparada para ir a leilão por pouco mais de seis bilhões de reais. A Eletrobrás possui dez grandes usinas de produção energética, e toda uma rede de distribuição desta energia produzida. Somente uma qualquer destas usinas custaria mais do que este valor para ser construída. É roubo do patrimônio público, é roubo de nossa soberania por uma quadrilha de entreguistas refugiados no Palácio do Planalto.

Quantos ministros caíram por suspeita de corrupção desde a posse de Temer? Não iria ele afastar qualquer um que fosse denunciado? O que fazem Moreira Franco e Eliseu Padilha lá dentro daquele ninho, plenipotenciários do abandonado mandatário pela população, que não atinge sequer 3% favorável da opinião publica brasileira.

O que estão fazendo com a base de Alcântara no Maranhão, entregando aos americanos? O que estão fazendo com a reserva florestal de Renca, ao tentar cinicamente ser aberta a exploração de garimpo quando um de seus comparsas, o ex-ministro do Planejamento, tem uma filha com as permissões de exploração? O que estão fazendo com a entrega de nosso petróleo do pré-sal, riqueza que seria dirigida para investimento em educação e saúde? O que estão fazendo com essa política de entregar tudo o que é do povo brasileiro? E a Casa da Moeda? O Banco do Brasil? A Caixa Econômica?

E pior ainda, no último dia 3, em pleno feriado o presidente, sorrateiramente, publica o decreto 9188/17 que coloca à venda todas as empresas públicas, de “desinvestimento de ativos das sociedades de economia mista”. Tudo isso sem licitação e sem debate, como gostam os traidores do povo e ninguém mais que esta figura repugnante que no futuro, para a nossa história significará a pior espécie de traidor da Pátria.

Como nosso povo enfrentará isso? Com um novo governo eleito pela absoluta maioria democrática do nosso povo e, consequentemente, com um grande plebiscito revogatório, com punição penal não só para estes vendilhões da Pátria, mas também para aqueles compradores que, sabendo da ilicitude criminosa da venda do patrimônio brasileiro, fizeram olhos cegos para se apossar da esperança e do futuro de nosso povo.

Quais as tendências do novo Partido Pátria Livre, e como é a própria estrutura do PPL?

Uma característica que distingue nosso partido, e cada vez mais essa característica é marcante, é o fato de que ele se tornou o desaguadouro de uma série de companheiros, grupos, tendências políticas e ideológicas, e até mesmo partidos que estavam em formação no Brasil devido à profunda insatisfação com o esquema partidário dominante, de resto oligárquico e extremamente corrompido que sufoca a vida política do país.

São exemplos, além dos companheiros como é o meu caso, que tiveram origem no trabalhismo nacionalista, aqueles que estavam formando o Partido dos Pensionistas, Aposentados e Idosos do Brasil (PAI), o Partido pela Acessibilidade e Inclusão Social (PAIS) e o Partido Popular de Liberdade de Expressão (PPLE).

Além disso, há lideranças de uma série de entidades populares que, na sua luta diária, sentindo a necessidade de implementar a atividade política, optaram e estão optando pelo PPL.

A integração de todos esses companheiros, a partir do núcleo originário que fundou o PPL, os companheiros que vieram do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, ainda está em curso. Mas posso dizer que esse processo está se dando velozmente.

O Brasil, evidentemente, é um país muito complexo, portanto nosso partido tem que espelhar essa complexidade. O que é perfeitamente possível quando o ponto de união é o resgate do Brasil enquanto Nação, enquanto país independente, país soberano, autodeterminado, ou seja, um país em que as decisões sobre o seu destino sejam tomadas pelo seu povo.

As diferenças, portanto, podem conviver dentro da unidade; aliás, muitas delas acabam sendo menos uma diferença e mais um complemento, que reforçam o partido.

Nossa estrutura segue esse processo de integração, possível apenas através da ampla democracia interna, da discussão fraterna a fim de que possamos atingir a coesão necessária para as tarefas às quais nos propomos: a libertação do Brasil do atual jugo, corrupto e entreguista que nos trouxe à catástrofe que nós, brasileiros, vemos, sentimos e sofremos hoje em dia.

Retornando ao Jango: diante de todas as evidências de que seu pai foi assassinado, quais forças estavam por trás disso em seu entendimento, e o que falta para que realmente seja feita justiça?

É um processo longo, penoso, de muita dor passar por este tipo de investigação; principalmente quando temos um país subserviente aos Estados Unidos da América, que há quase dois anos recebeu um pedido de oitiva dos agentes americanos, por parte do Brasil, que teriam participação no atentado contra a vida de meu pai, Jango, em 1976 na Argentina, onde teria tomado um medicamento trocado mas, até hoje, sequer recebeu resposta alguma do Departamento de Estado americano, que está se lixando para o pedido brasileiro.

Falta soberania ao nosso Itamaraty para “exigir” dos americanos uma resposta, afinal, trata-se de um ex-presidente constitucional do nosso país. Os indícios que constam no processo investigatório são os mais amplos possíveis: fotos do serviço secreto DOPS dentro da nossa casa no exílio, documentos que provam a subtração de forma clandestina de documentos pessoais do meu pai dentro do nosso apartamento no exílio, pelo agente “B” do quarto onde ele dormia, declaração a nossa Polícia Federal do agente secreto uruguaio Mario Barreiro que participou da reunião em agosto de 1976, na sede da polícia secreta uruguaia com a presença do delegado Fleury, do Chief of Station da CIA Frederick Latrash, com o embaixador Slauderman dos EUA, com o chefe das Forças Armadas uruguaias, com agentes chilenos que traziam de Santiago os venenos de extermínio da Operação Condor, capitaneados pelo químico da DINA (polícia secreta chilena) “Hermes” Berríos e pelo agente Michael Townley, que vive sob proteção do Estado americano com outro nome.

Alguns dos requeridos já morreram, e certamente estão esperando que os outros morram para enterrar definitivamente a investigação. São tantos os indícios de provas que o próprio Ministério Público Federal do RS, conduzido pela procuradora Suzete Bragagnolo, não encerrou a investigação, mesmo depois da exumação dos restos mortais que ainda não foi conclusivo, pelo tempo que passou entre a morte e a exumação.

Ainda estão disponíveis amostras de tecidos no Instituto de Criminalística da Polícia Federal, para uma nova perícia pois esperam-se novos indícios, caso possamos ter a desclassificação de novos documentos e depoimentos que venham a trazer novas informações.Nos primeiros resultados analisados, apareceu uma substância em quantidades ínfimas, mas que não deveria estar em um corpo humano, o tetranitrato de pentaeritritol ou tetranitrato de eritrina, também conhecido como pentrita, pois é uma substância química com característica e fim de explosivos qu, à época, só era controlada como arma de uso exclusivo do Exército americano.

Diante de tudo isso, estamos cientes das dificuldades que continuamos enfrentando quando se fala em Jango. O Brasil ainda precisa de um longo caminho na área de direitos humanos não só na revisão da Lei de Anistia, auto-outorgada pelos agentes de Estado que participaram de torturas, sequestros, desaparecimentos e mortes no período da ditadura, como também na revisão de um modelo de uma sociedade mais fraterna, sem privilegio das elites, sem violência.

Sabemos que a elite brasileira não cabe em Miami, portanto o diálogo tem de ser feito em busca da melhor distribuição da riqueza do nosso Brasil. Darcy Ribeiro dizia, há vinte anos, que se não construíssemos escolas dignas teríamos que construir presídios, mas hoje podemos ir ainda mais longe e dizer que se se não distribuirmos a riqueza do país e continuar ignorando essa imensidão marginalizada do nosso povo, vamos ter que construir imensas fortalezas transformando nossas cidades em praças de guerra, com brigadas de mercenários armados para proteger essas elites donas do poder que continuam sem entender que esta terra é de todos, e não de quem tenha mais.

Vamos construir o Brasil fraterno e justo que aguardamos há tantos anos. Um Brasil que onde o lucro e a propriedade privada, que nós os trabalhistas defendemos, esteja a serviço do bem social, da saúde, da educação, da segurança, da paz e da construção de uma Pátria Livre. O Brasil de todos os brasileiros, de todas as culturas, de todas as cores e gêneros.

Como foram os últimos momentos com seu pai, como ele estava, o que dizia e planejava para a vida?

Tristes, muito tristes; mas sempre pensando no retorno à sua terra quando, enfim, esta conquistasse a liberdade, a soberania e a justiça social para um povo tão sofrido, quanto merecedor de seu destino.
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Fotos de João V. Goulart ainda criança com seu pai, o então presidente Jango, gentilmente enviadas pelo entrevistado para Pravda Brasil


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