Onde Está a “Esquerda” Brasileira com “Pedigrí”?

Cara e coroa da moeda tupiniquim são reacionárias, na essência. Todavia, os pretensos “dálmatas”
e “iorque-cháiars” à “esquerda” são bem mais cínicos, além de morderem brabo, convenhamos…
“A revolução não é só uma bisteca no prato em cada mesa, nem muito menos uma TV em cada quarto e nem, absolutamente, um carro em cada porta. A revolução é, sobretudo, uma mudança de atitude nas relações humanas. “Alfredo Maneiro (político venezuelano)

O festival de corrupção e politicagem mais baixo enraizado, sim, no Brasil, não tiveram início em 2003 quando Luiz Inácio assumiu a Presidência, longe disso e bem ao contrário da ideia passada pelos grandes meios de comunicação, pelas ignorantes e devastadoras elites deste País, e até pela “Justiça” brasileira, altamente discriminadora (especialmente contra o 3P).

Contudo, desde então o País assiste a “mais do mesmo” histórico e com um interessante detalhe, que não pode mesmo cair no esquecimento nem se fingir que não é percebido – se é que o Brasil ainda espera algum conserto em contraposição a este concerto ridículo: à “esquerda”!

Pode-se dizer também, com bastante certeza, que envolvendo este setor o cinismo é bem mais gritante – insuportavelmente gritante. Haja vista a agressiva esquizofrenia contra as diferenças causada por tal setor – ainda que as críticas sejam, nos dias de hoje e quando usurpava o poder, idênticas àquelas feitas pelo próprio PT enquanto oposição. É tão desesperador este fato quanto a realidade indisfarçãvel que personagens como Jair Bolsonaro são bem menos indecentes com seu próprio eleitorado que muitos desses ditos de “esquerda”, especialmente o setor a ser abordado a seguir.

Repressão a movimentos sociais, término do genocídio contra povos originários, nem sequer proposta de reforma agrária, precarização crônica do trabalho como sempre foi, saneamento básico, saúde, segurança e educação públicas tragicamente abandonadas, milhões e milhões de reais anuais despejados como jamais antes sobre uma grande mídia nunca regulada (a mesma grande midia ferozmente atacada hoje pela “esquerda de raça”! Cínicos!!), bilhões e bilhões de lucros aos grandes bancos e outros tantos bilhões fugindo do país anualmente (evasão de divisas), como jamais antes… isso e muito mais em nome da “governabilidade” do PT: afinal, como se tratava do “nosso governo”, a imbecilidade que fazia dos ouvidos alheios um verdadeiro penico esborrifava que, exatamente isso tudo, decorrência natural de abraços físicos, políticos e morais em certas figuras da política e do alto empresariado nacional, eram grandes exemplos de… “democracia” (!).

Luiz Inácio é “um gênio político”. (Parágrafo dedicado apenas a mais esta grande sacada da teoria política “progressista” brasileira).

No “raciocínio” dessa gente – sectários de plantão que, recentemente, levaram o devido e previsível bico nos fundilhos dos ex-“companheiros” (peemedebistas, demos, etc) e do próprio povo, o qual os gozadores dos privilégios do poder nunca se preocuparam em politizar mas apenas transferir migalhas de renda e imbecilizar -, a sucessão de tragédias políticas, sociais e econômicas – que faziam da economia brasileira uma bolha prestes a estourar, e o próprio “governo” vulnerável ao ódio político – eram justificadas na “profundamente democrática capacidade de negociar” de Luiz Inácio.

Por exemplo no Equador, onde determinados movimentos sociais exercem forte oposição ao governo de Alianza País, este extrai recursos naturais, fornece lucros no mínimo questionáveis aos banqueiros entre outras medidas, nada à esquerda; porém, asisim como outros governos da região – em cuja Revolução Bolivariana o PT tenta oportunisticamente embarcar, declarando-se pertencente a tal grupo -, além de ganhos sociais inquestionáveis, não se tem praticado alianças baixas que, no caso tupiniquim com histórico tão oligárquico e opressor quanto as outras nações em questão, soam como piada em qualquer lugar do mundo. E dentro de casa, geram ainda mais ojeriza societária à política sobre a qual embarcam, é claro, as elites a fim de aplicar um golpe militar.

Assim, a sucessão de horrores pós-2003, que marca este País por 518 anos e que, antes dessa data, tanto indignava tais setores, já não causava mais indignação. Mas o furor, sim, era e ainda é – sem ter tirado nenhuma lição dos rotundos fracassos – levantado quando se sentia e se sente os interesses do partido em questão, outrora dominante e dominador, “ameaçados” pelas críticas. Ou seja: o poder e não a sociedade, era o centro das atenções. Nada mudou.

Tudo já se tornava natural: a aliança do então presidente Luiz Inácio com ele, ele mesmo, o senhor engenheiro, doutor Paulo Maluf (repetida nas eleições municipais de São Paulo no ano passado, quando o defunto do golpe parlamentar-jurídico-midiático ainda estava fresquinho); ”quero fazer justiça ao Collor”, noticiava-se – não através da mídia “alternativa e independente” deste País, mas da grande mídia – em julho de 2009: “Lula agradeceu Collor pelo apoio que tem prestado ao governo no Congresso e chegou até mesmo a comparar seu nome ao do presidente Juscelino Kubitschek (1956-1961). Sorrindo e trocando abraços, após terem viajado juntos no avião presidencial, o Aerolula, nada neles lembrava o fato de já terem sido inimigos políticos, dos mais ferozes”; a escolha de ninguém menos que Michel Temer para ocupar a vice-presidência da República e a indicação dele, dele mesmo, José Sarney, ex-presidente da Arena, partido da ditadura militar, para presidir o Senado logo em 2003 (até 2005, para depois retornar em 2009, emesteando a Casa sob auspícios petistas até 2013). E que se repita: um abraço admirado em aliança com Bolsonaro – que, com toda a razão, causa tanto horror na “esquerda” – não será agraciado por Luiz Inácio, até que aquele aceite efetivá-lo.

E nem poderia ser diferente: “Passado é passado”, disse no segundo mandato presidencial Luiz Inácio sobre revogação da Lei de Anistia a ex-ditadores militares perpetradores de crimes de lesa-humanidade no Brasil, condenado até pela OEA pela impunidade neste caso – único no mundo a não julgar ex-ditadores. Porém, em tempos de poder, altíssima popularidade e baixíssimas taxas de rejeição (ao contrário do que ocorre hoje), tudo isso passava desapercebido – e deveria passar, sob ameaça do rótulo de cão vira-latas a qualquer um que apontasse que as coisas não iam tão bem, e que poderiam acabar muito mal…

São estes “apenas” (desgraça pouca é sempre uma grande bobagem neste País onde habita uma “esquerda” do mais fino pedigrí, altamente intelectualizada, cheia de brios!) de alguns banhos de democracia que a cúpula petista exportou ao mundo!

Embora recheado de retóricas das mais vazias como “modernizar de acordo com o século 21 a ‘esquerda’ nacional” (sem dizer como nem por quê, o que implicaria necessariamente auto-crítica que o PT não quer por nada fazer), as quais apenas os incautos sub-produzidos pela cúpula petista e seus ferrenhos defensores de interesses político-partidários podem alegremente aplaudir, o projeto do PT hoje é ainda mais precário que em 2002: nada mais que retomar o poder já que, às vésperas das primeiras eleições presidencias vencidas pelo PT, Luiz Inácio e seus “companheiros” ainda faziam mais uso da capacidade da mentira deslavada ao, pelo menos, incluir algum projeto. lembremo-nos também desta palrada do então presidenciável petista nos idos de 2000, pois:

“Lamentavelmente, no Brasil o voto não é ideológico, lamentavelmente as pessoas não votam partidariamente e, lamentavelmente, você tem uma parte da sociedade que, pelo alto grau de empobrecimento, ela [sic] é conduzida a pensar pelo estômago e não pela cabeça. É por isso que se distribui tanta cesta básica. É por isso que se distribui tanto ticket de leite. Porque isso, na verdade, é uma peça de troca em época de eleição. E assim você despolitiza o processo eleitoral. Você trata o povo mais pobre da mesma forma que Cabral tratou os índios quando chegou no Brasil, tentando distribuir bijuterias e espelhos para ganhar os índios, eles [políticos à época da fala] distribuem alimento. Você tem como lógica manter a política de dominação que é secular no Brasil.”

É também deste iorque-cháiar da política nacional, a seguinte célebre filosofia sócio-política noticiada em dezembro de 20015 pelo jornal Folha de S. Paulo:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) arrancou, na noite desta segunda-feira, risos e aplausos de uma platéia formada por empresários e intelectuais ao, de certa forma, desmerecer a esquerda brasileira. Segundo ele, trata-se de uma ideologia típica da juventude.

“‘Se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema’ [risos e aplausos]. ‘Se você conhecer uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema’, afirmou o presidente depois de receber o prêmio ‘Brasileiro do Ano’ da revista IstoÉ.

Lula explicou que, em sua opinião, as pessoas responsáveis tendem a, conforme amadurecem, abrir mão de suas convicções radicais para alcançar uma confluência. Tal fenômeno ele classificou de ‘evolução da espécie humana’.

“‘Quem é mais de direita vai ficando mais de centro, e quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata, menos à esquerda. As coisas vão confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos, e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito'”.

Sem a menor intenção de ofender a dignidade dos dálmatas da plateia tupiniquim à “esquerda”, que modernização de que esquerda, Luiz Inácio? Ou será que, de acordo com a mais recente cartilha da teoria política elaborada pelos tão polidos lordes de nossa “esquerda”, questionar também é algo… desagradável demais? Lembremos que uma das mentalidades mais respeitadas por nossa “esquerda”, o militante petista Emir Sader qualificou em 2014 ativistas do Movimento dos Trabalhadores sem Teto, que protestavam em São Paulo pelos despejos em favor das pompas e segurança da Copa do Mundo da FIFA, exatamente de cães vira-latas. Com um detalhe: o prefeito da capital paulistana de então era o também petista Fernando Hadda,.

Pois o Brasil nunca correu tanto risco de sofrer mais um golpe militar quanto nas últimas semanas, que na verdade sempre esteve latente, na pauta das elites, enquanto Luiz Inácio desfilou abraçado harmoniosa, fraternalmente com um dos mentores do golpe paramentar-jurídico-midiático contra a “companheira” Dilma, exatamente ele, Renan Calheiros! Por cujo cacique alagoano Luiz Inácio (segure na cadeira!) manifestou… profunda admiração!

Desde o golpe de 2016, o PT vem formando alianças Brasil afora exatamente com o PMDB de Calheiros, Michel Temer e Eduardo Cunha. Outro fato que, lamentavelmente a fim de prestar mais um desserviço à “democracia” nacional, grande parte dos meios “alternativos” não noticiam. Neste cenário caótico reclamar pelo quê, envolvendo a grande mídia de imbecilização das massas?

Onde está a “esquerda” dona de nobre pedigrí deste País? Em lugar nenhum a não ser elaborando suas torias e marquetim político pois não há nada nobre nisso, não há vergonha na cara, com raras e honrosas exceções não há “esquerda” tanto quanto não há movimento social que interesse no Brasil, se não atender os mesquinhos interesses de um bando de falsários da política, estes sim: apáticos, inertes, dessituados, sem a menor capacidade de indignação e de reação, tudo isso deccorente, exatamente, da baixíssima auto-estima estampada na coroa da moeda tupiniquim. E que se salve quem puder!

Pela irreflexão, também consequência da sede pelo poder, Luiz Inácio não apenas é vendido como salvador da pátria, como é a única alternativa apresentada pela “esquerda”; sua incapacidade em produzir mais líderes ao longo de todo esse tempo, e uma alternativa realmente popular, apenas justificam o uso de sapas para esquerda que, no caso do PT e seus aliados, nunca se preocuparam em fazer a economia forte, industrializá-la (embora programas assistenciais sejam fundamentais pela urgência, mas não se pode ficar limitado a eles como o PT se manteve), nem em educar a sociedade (cotas são imprescindíveis, mas não como medidas definitivas como fez o PT, o qual se “esqueceu” de investir em educação basica e em faculdades federais): surgiu o momento que mais precisou dela, sem, todavia, receber nenhuma resposta enquanto insiste em se aliar ao que há de mais corrupto na vida politica e econômica do País. E a economia caiu. E nada muda no caráter dessa gente, conforme os acontecimentos ao longo dos últimos anos – e últimas semanas – demonstram, justificando tudo em “princípios democráticos” evidenciando pela retórica, se já não bastassem os fatos em si, que no Brasil nem sequer muita noção de democracia existe – isso também, por (ir)responsabilidade da “esquerda”.

Para quem não entendeu, há propostas implícitas e outras explícitas como alternativa ao País neste texto; para quem não quer entender, e muitos não querem em nome do poder pelo poder, nada adiantará se encher de dados econômicos e sociais, e fatos políticos como se tem feito nesta página. Para quem não entendeu, se o golpe paramentar-jurídico-midiático foi aplicado na mais absoluta paz pelos porões do poder, nada tendo mudado um ano e meio depois, o próximo golpe militar será aplicado sobre um mesmo cenário em relação a março/abril de 1964: pelas ruas do País os milicos desfilando e os passarinhos cantando alegremente.

Disse certa vez Hugo Chávez: “Me lembrei do Che Guevara [sequestrado e quase assassinado no frustrado golpe de Estado de 48 horas, em 2002], e pensei que era melhor morrer de pé que viver de joelhos”. Pois se o PT e seus neocapachos continuam insistindo em morrer de joelhos, não esperem unanimidade em nome da “esquerda” (= votos e retomada do poder).

Ser brasileiro não deve significar, necessariamente, ser desprovido de vergonha na cara – isso eles não podem nem vão nos impor.

A prática do socialismo exige uma transformação completa no espírito das massas degradadas por séculos de dominação da classe burguesa, instintos sociais em vez de instintos egoístas, iniciativa das massas em vez da inércia, idealismo que supere todos os sofrimentos. (Rosa Luxemburgo)

Edu Montesanti

Foto : O ex presidente Lula da Silva (PT) com o Michel Temer (PMDB), presidente atual do Brasil.


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