Flagelados houthis humilham os vassalos dos EUA no Oriente Médio

Arábia Saudita, Catar, Egito, Turquia e Irã são potências regionais e, portanto, lideranças na região do Oriente Médio e entre os países de maioria islâmica. Contudo, a maioria desses países tem sido complacente com a humilhação imposta por Israel ao povo árabe e muçulmano nas últimas décadas, e o atual genocídio em Gaza é o episódio mais explícito dessa longa agonia.

De fato, a postura do conjunto das lideranças do Oriente Médio nestes últimos dois meses causa vergonha e indignação aos que guerrearam em 1948, 1967 e 1973 contra os ocupantes da Palestina. Apenas se observa o martírio de milhares de crianças, mulheres, idosos e homens sob os foguetes e bombas de Tel Aviv.

O Catar atua basicamente nos bastidores da diplomacia. A Arábia Saudita nada faz senão pedir, envergonhada, para Israel pegar leve. O Egito chegou ao cúmulo de fechar, em conluio com o regime israelense, o passo fronteiriço de Rafah. Síria e Líbano não respondem aos ataques diários a seus territórios. Jordânia e Tunísia limitam-se a oferecer caridade aos refugiados palestinos. Azerbaijão e Cazaquistão fornecem 60% do petróleo importado por Israel. A Turquia comporta-se como um cão que late, late e não morde, fazendo pura encenação demagógica. O Irã é o único que cumpre um papel minimamente decente, patrocinando a resistência palestina sem, no entanto, envolver-se diretamente.

Coube a um movimento guerrilheiro composto por indivíduos flagelados romper com a inércia dos dirigentes islâmicos. Os houthis iniciaram ataques contra navios israelenses e americanos que navegam pelo Mar Vermelho, anunciando represálias ao massacre de seus irmãos palestinos. Na prática, entraram na guerra. Trata-se de uma atitude extremamente corajosa e digna do mais profundo respeito e admiração, uma vez que estão comprando uma briga (que já tinham, mas que assim se torna muito maior) com o poderoso hegemon imperialista.

O movimento Ansarallah, dos rebeldes houthis, controla somente uma parte do miserável e minúsculo Iêmen, devastado por uma década de bombardeios sauditas patrocinados pelos Estados Unidos. Detém menos recursos que o Hamas, a Jihad Islâmica, o Hezbollah e o Talibã – e, logicamente, que qualquer governo nacional. Porém, ao contrário da maioria dos regimes árabes e muçulmanos, petrificados diante do suplício palestino, os houthis têm o respaldo de seu povo. Ou seja, têm um moral incomparável. E seu posicionamento lhes têm garantido uma admiração cada vez mais elevada não só dos iemenitas, mas dos povos árabes e muçulmanos de todo o mundo. Todos estão vendo que os houthis não são demagogos: suas declarações são seguidas de ações concretas e suas confiscações de navios e ataques, mesmo que interceptados pelos israelenses, ainda que não causem grandes danos ao inimigo, valem mais para a opinião pública do que qualquer coisa que os outros países fizeram até agora.

Os monarcas e burocratas do Oriente Médio desmoralizam-se a cada dia, à medida que o genocídio em Gaza se aprofunda e é exposto ao mundo inteiro. Embora tenham maior responsabilidade em acabar com os crimes de Israel do que quaisquer outros, ficam para trás até mesmo de nações irrelevantes no cenário internacional, como Belize, que rompeu relações com Tel Aviv devido a suas barbaridades.

Diariamente amplas manifestações ocorrem nas ruas das principais capitais do Oriente Médio em repúdio ao genocídio e em apoio aos palestinos. Certamente a indignação popular e o sentimento de que estão sendo humilhados por Israel exerce uma pressão crescente sobre os regimes da região, submissos ao domínio imperialista. Quanto menos se movem e mais se arrasta o suplício em Gaza, mais esses regimes serão vistos como traidores da causa palestina e de todos os povos árabes e islâmicos.

Situação semelhante já aconteceu 40 anos atrás, a partir da traição de Anwar Sadat do Egito, da vassalagem do xá Reza Pahlevi e da falta de independência dos burocratas nacionalistas no Afeganistão. O Hamas nasceu da capitulação vergonhosa da OLP diante do sionismo, e neste exato momento é o maior símbolo da resistência ao domínio imperialista na região.

Em um cenário como o atual, a tendência é o desenvolvimento da simpatia para com a resistência armada, livre das amarras com seus opressores que significa a detenção do poder oficial. Isso significaria não apenas uma agudização e radicalização da luta contra os ocupantes sionistas e senhores ocidentais, como também a desestabilização dos próprios regimes vassalos de Washington, pois apenas a superação de sua política conciliadora poderia levar à expulsão dos inimigos dos povos árabes e muçulmanos. Uma nova época de revoluções anti-imperialistas está sendo aberta, e elas poderiam varrer do mapa não apenas as forças ocupantes, mas também seus funcionários locais. O que ocorreu no Afeganistão em 2021 é um prelúdio e a ação do Hamas em 7 de outubro um desdobramento disso. Os exaltados estão sendo humilhados, e aqueles que sempre foram humilhados caminham em direção à exaltação.

Eduardo Vasco

 

Imagem : Pessoas agitam bandeiras palestinianas em Sanaa, a capital do Iémen controlada pelos Houthi. (Mohammed Huwais/AFP)

Eduardo Vasco : Jornalista e analista de política internacional, correspondente de guerra e autor dos livros O povo esquecido: genocídio e resistência no Donbass e Bloqueio: a guerra silenciosa contra Cuba.


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