«Soberania» de Bruxelas, não de Washington?

Arte da Guerra

Hoje, 21 dos 27 países da União Europeia (depois da Brexit), com cerca de 90% da população da União, fazem parte da NATO, cujas “normas” permitem que os EUA mantenham, desde 1949, a posição de Comandante Supremo Aliado na Europa e de todos os outros comandos-chave; eles permitem que os Estados Unidos determinem as escolhas políticas e estratégicas da Aliança, concordando, em segredo, especialmente com a Alemanha, França e Grã-Bretanha, tornando-as aprovadas pelo Conselho do Atlântico Norte, no qual, de acordo com as “regras” da NATO, não há voto ou decisão maioritária, mas as decisões são sempre tomadas por unanimidade.


Steve Bannon – o antigo estratéga de Donald Trump, teórico do nacional-populismo – exprimiu o seu apoio entusiástico à aliança Lega-Movimento 5 Stelle para «o governo da mudança». Numa entrevista (Sky TG24, 26 maggio)  declarou:«Durante Março, a questão fundamental, em Itália foi a questão da soberania. O resultado das eleições foi ver estes italianos que queriam recuperar a soberania, controlar o seu país. Basta de regras que chegam de Bruxelas».

No entanto, não diz «basta de ordens que chegam de Washington».

Não é apenas a União Europeia que exerce pressão sobre a Itália para orientar as suas escolhas políticas, dominada pelos poderosos círculos económicos e financeiros, especialmente os alemães e os franceses, que temem uma rotura das “normas”, úteis aos seus interesses.

É exercida uma forte pressão  sobre a Itália, pelos Estados Unidos, de maneira menos evidente, mas não menos agressiva, que temem uma ruptura dos “preceitos” que subordinam a Itália aos seus interesses económicos e estratégicos.

Isto faz parte das políticas que Washington adopta para a Europa, através de diversas administrações e com métodos diferentes, perseguindo sempre o mesmo objectivo: manter a Europa sob a influência dos EUA.

A ferramenta fundamental desta estratégia é a NATO. O Tratado de Maastricht estabelece, no art. 42,   que “a União respeita as obrigações de alguns Estados membros, que acreditam que a sua defesa comum é conseguida através da NATO”. E o protocolo n. 10 sobre a cooperação, estabelece que a NATO “continua a ser a base da defesa” da União Europeia.

Hoje, 21 dos 27 países da União Europeia, com cerca de 90% da população da União, fazem parte da NATO, cujas “normas” permitem que os EUA mantenham, desde 1949, a posição de Comandante Supremo Aliado na Europa e de todos os outros comandos-chave; eles permitem que os Estados Unidos determinem as escolhas políticas e estratégicas da Aliança, concordando, em segredo, especialmente com a Alemanha, França e Grã-Bretanha, tornando-as aprovadas pelo Conselho do Atlântico Norte, no qual, de acordo com as “regras” da NATO, não há voto ou decisão maioritária, mas as decisões são sempre tomadas por unanimidade.

A adesão dos países de Leste à NATO – anteriormente membros do Pacto de Varsóvia, da Federação Jugoslava e mesmo da URSS – permitiu aos Estados Unidos ligar esses países (além da Ucrânia e da Geórgia, de facto, já na NATO), mais a Washington do que a Bruxelas.

Washington conseguiu, assim, empurrar a Europa para uma nova Guerra Fria, colocando-a  na primeira linha da frente, de um confronto cada vez mais perigoso com a Rússia, útil aos interesses políticos, económicos e estratégicos dos Estados Unidos.

Típico é o facto de que, na semana em que a Europa se debatia arduamente sobre a “questão italiana”,desembarcava em Antuérpia (Bélgica), a 1ª Brigada Blindada da 1ª Divisão de Cavalaria dos EUA,proveniente de Fort Hood, no Texas, sem causar qualquer reacção significativa. Desembarcaram 3.000 soldados, com 87 tanques Abrams M-1, 125 veículos de combate Bradley, 18 canhões móveis Paladin, 976 veículos militares e outros equipamentos, que serão posicionados em cinco bases na Polónia e enviados daí para contornar o território russo.

Continua-se a “melhorar a prontidão e a letalidade das forças USA na Europa”, destinando 16,5 biliões de dólares  desde 2015.

Assim, enquanto desembarcavam na Europa os tanques enviados por Washington, Steve Bannon incitava os italianos e os europeus a “reconquistar a sua soberania” que se encontra na posse de Bruxelas.

Manlio Dinucci

 

Artigo original em italiano :

«Sovranità» da Bruxelles, non da Washington

Il manifesto, 29 de Maio de 2018

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

 

VIDEO por PandoraTV :

 

 

Links:

https://tg24.sky.it/politica/2018/05/26/maria-latella-intervista-steve-bannon.html

http://eur-lex.europa.eu/resource.html?uri=cellar:9e8d52e1-2c70-11e6-b497-01aa75ed71a1.0019.01/DOC_2&format=PDF

https://taskandpurpose.com/army-ironhorse-brigade-deployment-russia/


Articles by: Manlio Dinucci

About the author:

Manlio Dinucci est géographe et journaliste. Il a une chronique hebdomadaire “L’art de la guerre” au quotidien italien il manifesto. Parmi ses derniers livres: Geocommunity (en trois tomes) Ed. Zanichelli 2013; Geolaboratorio, Ed. Zanichelli 2014;Se dici guerra…, Ed. Kappa Vu 2014.

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