Print

Para onde nos leva o eixo Roma-Paris
By Manlio Dinucci
Global Research, December 04, 2021
ilmanifesto.it
Url of this article:
https://www.globalresearch.ca/para-onde-nos-leva-o-eixo-roma-paris/5763530

O Tratado do Quirinale promovido pelo Presidente da República Mattarella, assinado em 26 de Novembro pelo Primeiro Ministro Draghi e pelo Presidente da República Macron, é um tratado político de 360º no qual a Itália e a França “se comprometem a desenvolver a sua coordenação e a promover a sinergia entre as respectivas acções a nível internacional”, concretizando “parcerias industriais em sectores militares específicos” e outros programas que envolvem encargos financeiros para o Estado. Para ser ratificado pelo Presidente da República, o Tratado teria primeiro de ser autorizado pelo Parlamento com base no Art. 80º da Constituição, segundo o qual “as Câmaras autorizam como lei a ratificação de tratados internacionais que sejam de natureza política, ou que prevejam encargos financeiros”. Em vez disso, o texto do Tratado permaneceu secreto, excepto para um pequeno círculo do governo, até à sua publicação após a assinatura.

O objectivo do Tratado, que veio a público após o final de uma negociação secreta, é claro pela sua calendarização: está a ser concluído numa altura em que, com a saída de cena da Chanceler alemã Merkel, se estabelecem novas relações de força na União Europeia. A França que, em 2022,  assume a presidência semestral da União Europeia, substitui o eixo Paris-Berlim pelo eixo Paris-Roma. No centro do acordo bilateral está o Art.º 2º relativo à “Segurança e Defesa”, composto por sete parágrafos. A Itália e a França comprometem-se a “reforçar as capacidades de Defesa da Europa e, deste modo, operando também para consolidar o pilar europeu da NATO”. Como Draghi sublinhou, em sintonia com Washington, deve-se construir “uma verdadeira defesa europeia, que seja naturalmente complementar da NATO e não uma substituição: uma Europa mais forte torna a NATO mais forte”. Para pagar tanto a Defesa da NATO como a da Europa, será necessário um aumento colossal da despesa militar italiana, que já hoje supera os 70 milhões de euros por dia.

No âmbito das “alianças estruturais” entre as respectivas indústrias militares, a Itália ajudará a França a desenvolver as suas forças nucleares estratégicas e os sistemas espaciais militares. Macron lançou um programa de “modernização” que inclui o desenvolvimento de submarinos de ataque nuclear de terceira geração, armados com novos mísseis balísticos, e um caça de sexta geração (Fcas) armado com novos mísseis de cruzeiro hipersónicos com ogivas nucleares. A Itália, no entanto, já participa no projecto de outro caça de ataque nuclear de sexta geração, o Tempest, promovido pela Grã-Bretanha, pelo que provavelmente colaborará em ambos, a menos que não sejam unificados. O programa de Macron, anunciado em Outubro, que contribui para a “modernização” das forças nucleares francesas, está direccionado para a construção de um sistema de pequenos reactores nucleares modulares com um custo de 30 biliões de euros. Provavelmente o Tratado prevê uma colaboração da Itália também neste campo, como parte do plano de reintrodução da energia nuclear no nosso sistema energético.

Também no Art. 2º, a Itália e França comprometem-se a “facilitar o trânsito e o estacionamento das forças armadas da outra Parte no seu território”, sem especificar para que fim, e a coordenar a sua participação em “missões internacionais de gestão de crises”, em particular no Mediterrâneo, no Sahel e no Golfo da Guiné. Prepara-se um forte aumento da participação das forças especiais italianas – com veículos blindados, aviões e helicópteros de ataque – na Task Force Takuba, que opera no Mali e nos países vizinhos sob comando francês. Está implantada oficialmente nesta região para “combater o terrorismo”, mas na realidade destina-se a controlar uma das áreas mais ricas de matérias-primas estratégicas exploradas pelas multinacionais americanas e europeias, cujo oligopólio está ameaçado pelas mudanças políticas em África e pela presença económica chinesa.

Deste modo – declara o Tratado do Quirinal – a Itália e a França unidas “contribuem para a manutenção da paz e da segurança internacionais e para a protecção e promoção dos direitos humanos”.

Manlio Dinucci

 

Artigo original em italiano :

Dove ci porta l’asse Roma-Parigi

(il manifesto, 30 de Novembro de 2021)

Tradutora: Maria Luísa de Vasconcellos

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.