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O voto China-Rússia
By Pepe Escobar
Global Research, November 05, 2020
Asia Times 3 November 2020
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https://www.globalresearch.ca/o-voto-china-russia/5728690

Sejam quais forem as consequências geopolíticas e geoeconômicas da espetacular distopia norte-americana, a parceria estratégica Rússia – China, em seus específicos registros levemente diferentes, já votaram e decidiram o próprio caminho adiante.

Aqui (ing.) e aqui (port.) o modo como expus o coração do plano quinquenal da China para 2021-2025 aprovado no Pleno em Pequim, semana passada.

Aqui (ing.) a interpretação publicada de um think-tank chinês padrão.

E Aqui, contexto especialmente pertinente de explicação de o quanto a cinofobia rampante é impotente, quando encontra pela frente um modelo de governança made in China extremamente eficiente. Esse estudo mostra que os complexos axiomas civilizacionais e da história e cultura da China simplesmente não cabem na visão de mundo hegemônica ocidental e cristã.

O ‘segredo’ nem tão secreto do plano quinquenal da China para 2021- 2025 – que Global Times descreveu como a “confiança na autossuficiência econômica” – está em basear em avanços tecnológicos, o crescente domínio geopolítico buscado pelo estado-civilização.

Crucial, para que se compreenda o processo, é que a China põe-se numa trilha “autoconduzida” – que depende pouco, ou nada, de impulso exterior. Está proposto até um claro horizonte “pragmático”: 2035, fixado como marco intermédio, entre hoje e 2049. Até 2035, a China deve estar no mesmo patamar que os EUA, ou talvez mesmo já os tenha ultrapassado, em poder geopolítico, geoeconômico e techno.

Essa é a razão de fundo que explica que a liderança chinesa estude tão ativamente a convergência de dois campos: da física quântica e das ciências da informação – convergência considerada a espinha dorsal do movimento “Made in China” rumo à 4 a Revolução Industrial.

O plano quinquenal expõe bem claramente que os dois vetores chaves são Inteligência Artificial e Robótica – nos quais a pesquisa chinesa já está bastante avançada. Inovações nesses campos gerarão uma matriz de aplicações em praticamente todas as áreas, de transportes a medicina, para nem falar de armamentos.

Huawei é essencial nesse processo em curso, e não é simples gigante em matéria de “dados”, mas também como fornecedor de hardware, que cria plataformas e a infraestrutura física para que muitas empresas desenvolvam as respectivas versões de cidades inteligentes, cidades seguras – ou de medicamentos.

O Big Capital – do Oriente e do Ocidente – está muito finamente sintonizado no que tenha a ver com o rumo que tudo isso vai tomando, processo que também implica os principais entroncamentos das Novas Rotas da Seda. Sintonizado com o roteiro da “terra de oportunidades” do século 21, o Big Capital cada vez mais estará tomando o rumo do Leste da Ásia, China e desses entroncamentos da Novas Rotas da Seda.

Essa nova matriz geoeconômica repousará, sobretudo, no que brote da estratégia “Made in China 2025”. Uma escolha a ser oferecida com clareza à maior parte do planeta: jogo de “ganha-ganha” ou jogo de “soma zero”.

Fracassos do neoliberalismo

Tendo já podido observar o violento confronto, agravado pela pandemia do Covid-19, entre o paradigma neoliberal e  “socialismo com características chinesas”, o Sul Global está apenas começando a extrair as conclusões necessárias.

Não há tsunami de propaganda ocidental que consiga convencer a opinião pública e seus ‘especialistas de TV’ quanto às ‘vantagens’ de algo que, com efeito, não passa de devastador, avassalador colapso ideológico.

O abjeto fracasso do neoliberalismo na luta contra o vírus Covid-19 é manifesto, evidente em todo o Ocidente.

A distopia que são as eleições nos EUA apenas exibem, consumado, o abjeto fracasso da “democracia” liberal ocidental: que espécie de “escolha” estaria dada aos eleitores, entre Trump e Biden?

E acontece no mesmo momento em que o eternamente e incansavelmente demonizado e ultraeficiente “Partido Comunista Chinês” expõe, claríssimo, o mapa do caminho para os próximos cinco anos. Washington não consegue planejar nem o dia de amanhã!

O movimento inicial de Trump, sugerido por Henry Kissinger antes da posse em janeiro de 2017, seria – e que outra ideia teriam?! – Dividir para Governar. Que Trump seduzisse a Rússia, contra a China…

Era, como ainda é, anátema absoluto para o Estado Profundo e seus cachorrinhos Democratas amestrados. Daí a subsequente infindável demonização de Trump – com “Russiagate” à frente e acima de todos os crimes imagináveis. Então, Trump decidiu unilateralmente sancionar e demonizar também a China.

Se os democratas ficarem com a presidência, o cenário passa a ser de demonização ainda mais ensandecida contra a Rússia, mesmo que persista em todos os fronts a Guerra Híbrida mais histérica – uigures Tibete, Hong Kong, Mar do Sul da China.

  1. Então comparem tudo o que aí se lê, e o mapa do caminho dos russos. Está claramente posto nas intervenções decisivas do Ministro Sergey Lavrov de Relações Exteriores e do Presidente Putin em recentes reuniões do Valdai Club.

Numa de suas falas crucialmente importantes sobre o papel do Capital, Putin destacou a necessidade de “abandonar a prática de consumir sem restrições e sem limites – o superconsumo –, e de favorecer a suficiência judiciosa e razoável, quando não se vive só para o dia de hoje, mas também se pensa no amanhã.

E, fazendo eco à continuada experimentação chinesa, acrescentou que, de fato, nenhuma regra econômica é eterna e imutável: “Nenhum modelo é puro ou rígido, nem na economia de mercado nem a economia controlada que se tem hoje. Simplesmente, temos de determinar o nível de envolvimento do estado, na economia. E o que usamos como fator básico para essa decisão? A necessidade e a utilidade para dado fim. Temos de evitar usar qualquer modelo e, até aqui, temos conseguido;.”

Pragmático, Putin definiu como “uma forma de arte”, o modo como regular o papel do estado.

Ele exemplificou: “manter a inflação um pouquinho elevada facilitará o pagamento dos empréstimos tomados por consumidores e empresas russas. Economicamente é mais saudável que as políticas deflacionárias levadas a efeito pelas sociedades ocidentais.”

As políticas pragmáticas de Putin tiveram consequências diretas – programas sociais abrangentes e grandes projetos nacionais – enquanto isso, o ocidente ignora que a Rússia pode estar no caminho para superar a Alemanha como a quinta maior economia mundial.

O resultado é que a combinação da parceria estratégica entre Rússia e China oferece, em especial para o Sul Global, duas abordagens radicalmente diversas em oposição ao axioma padrão neoliberal do ocidente. Ocorre que isso é anátema para o conjunto do establishment dos Estados Unidos.

Então, não importa qual o resultado da “escolha” entre Trump e Biden, o choque entre a potência hegemônica e os Dois Soberanos está destinado se tornar cada vez mais incandescente.

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Artigo original em inglês : Bidding farewell to America’s failed democracy. Neither Trump nor Biden can stop a China-Russian partnership that is blazing new state-led paths to progress and prosperity, Asia Times, le 3 novembre 2020.

Tradução : Roberto Pires Silveira

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.