Print

O Mundo Pós-Pandemia numa Bola de Cristal
By Aquiles Fraga
Global Research, June 03, 2020

Url of this article:
https://www.globalresearch.ca/o-mundo-pos-pandemia-numa-bola-de-cristal/5714971

Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem segundo a sua livre vontade; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. (Marx, 18 de Brumário)

Muitos intelectuais estão escrevendo artigos premonitórios sobre este período histórico que estamos vivendo. David Harvey, em “Política anticapitalista em tempos de coronavírus”, escreve muito, mas fecha sua análise com críticas ao autoritarismo “draconiano” da China e na previsão de uma crise iminente no país asiático. Zizek, em recente artigo, conjectura a “necessidade de um comunismo reinventado” sobre uma base “de confiança nas pessoas e na ciência”, destilando seu eurocentrismo e uma completa desatenção à geopolítica global. E assim, sucessivamente, destacados intelectuais, articulados na “Sopa de Wuhan” (livro digital produzido pela Pablo Amadeo, Editorial Aspo), expõem sua visão eurocêntrica e seu indisfarçável sentimento antichinês que, tal como o antissovietismo de ontem, a russofobia de hoje, e seu primo pobre brasileiro, o antipetismo, são todos mutações de um mesmo vírus, o anticomunismo (embora alguns daqueles intelectuais se autodeclarem comunistas).

O “Marxismo Ocidental”, ao qual Domenico Losurdo dedicou grande esforço para elucidar, não tem nestes expoentes do pensamento ocidental respostas satisfatórias para conjecturar o mundo pós-pandemia. Simplesmente, eles não fazem as perguntas concretas, e são míopes sobre a realidade concreta do sistema (“sistema mundo”) internacional, por não terem incorporado organicamente ao seu “marxismo” a disciplina crucial da geopolítica. Em outras palavras, por mais nobreza, humanidade e coerência que possa conter uma peça literária, ela não deixará de ser o que é: uma obra ficcional. A redundância deliberada de Lenin em “A Revolução Proletária e o Renegado Kautsky” quando afirma: “a essência, a alma viva, do marxismo é a análise concreta de uma situação concreta” expressa exatamente o que é preciso remarcar: o movimento do real se dá por suas próprias contradições, não por aquelas que venhamos a cozinhar em nosso cérebro. No entanto, estas são palavras frequentemente esquecidas pelos marxistas ocidentais em geral, e pelos da “Sopa” em particular, e se aproximam muito dos demiurgos da realidade, de que falava Marx no posfácio da segunda edição do “Capital”. Dizia Marx: “meu método dialético não só se diferencia do hegeliano, mas também é seu oposto direto. Para Hegel, o processo de pensamento, que ele, sob o nome de ideia, transforma num sujeito autônomo, é o demiurgo do real, real que constitui apenas a sua manifestação externa. Para mim, pelo contrário, o ideal não é nada mais que o material, transposto e traduzido na cabeça do homem”. A menos que acreditemos na possibilidade encantadora de vermos uma vaca parindo uma gaivota, e recusemos a ideia de tornar a virose um sujeito autônomo, impõe-se perguntar em qual conjuntura internacional surge este “mundo autônomo” pós-pandemia? Se é por demais inconsistente do ponto de vista lógico, por demais absurdo do ponto de vista histórico, é canalha por demais, do ponto de vista político, a perspectiva de ocultar as contradições que atravessavam as relações internacionais no mundo pré-pandemia. Neste, estavam, e a despeito dos desejos e do diversionismo da casta dos demiurgos, e continuarão operando no mundo pós-pandemia as contradições agudas entre os interesses imperialistas e o projeto civilizatório encabeçado pela China. Ocultar esta dinâmica, ou tentar equidistar e refugiar-se numa posição nem-nem, obviamente não é uma postura desinteressada, mas, no limite, seu sucesso poderá apenas retardar um processo inexorável, jamais detê-lo. Em outras palavras, o que se apresenta diante de nós, de forma insistente, é, no fundo, o problema fundamental da filosofia: a disputa, desde o mundo pré-socrático, entre o idealismo e o materialismo. Se buscássemos uma explicação para esse fenômeno em Nietzsche, poderíamos dizer que “estes problemas são sempre os mesmos que teimam em retornar eternamente, sob outras formas ou condições”.

O vir-a-ser do mundo aparece a muitos de nós, e também aos pensadores da “Sopa”, como uma representação (aleatória/distorcida) da realidade, derivada, muito mais da sua “vontade desejante” (e do enquadramento teórico por eles utilizado como instrumento para elaborar suas conclusões) do que uma construção centrada nas contradições do mundo “realmente existente”. Nessas representações, a visão distorcida do “Oriente”, o “orientalismo” (objeto já examinado por Said) e, principalmente, o “eurocentrismo” (tema central na obra do filósofo latino-americano Enrique Dussel) dão mostra de sua vivacidade e persistência entre os pensadores do Ocidente: é a força do seu ethos judaico-cristão, que reiteradamente cobra desses intelectuais que assumam sua “missão civilizadora”, que tomem para si a nobre tarefa de, carregando o “fardo do homem branco” europeizado, “iluminar” o caminho dos “infiéis” rumo a um “paraíso futuro” de um “comunismo reinventado”. Nada mais torpe e subserviente às pretensões do imperialismo.

O mundo pós-pandemia pouca coisa trará de novo além daquilo que já estava dado desde muito antes da própria pandemia, há pelo menos 40 anos. Desde a crise sinalizadora dos 70, que marcou o início de um longo processo de decadência imperial norte-americana (Wallerstein, Arrighi, Theotonio dos Santos), aliviado parcialmente durante o período da hegemonia unipolar dos 90 (muito mais pelo fator extrassistema do fim da URSS): esse fenômeno de decomposição de um mundo centrado nos EUA já estava em transição para algo novo. Essa novidade é o ressurgimento da China como potência mundial, e da Ásia como centro econômico de um novo período pós-hegemonia do Império (tema já largamente estudado por Arrighi, Andre Gunder-Frank, entre tantos outros). Essa é a realidade que está se desenvolvendo desde meados dos anos 70, e de forma particularmente acelerada a partir da crise ainda não-solucionada iniciada em 2008. Este fenômeno, ou é ignorado ou é menosprezado pelos intelectuais da “Sopa de Wuhan”, talvez influenciados por Mészáros, que também subavaliou a profundidade da crise do império e sua decadência.

Para tentarmos entender o efeito da pandemia sobre a decadência do imperialismo norte-americano, um processo há muito em curso, podemos lembrar do contexto similar da Peste de Atenas durante a Guerra do Peloponeso. Tucídides nos conta que todos os elementos do declínio da hegemonia ateniense estavam dados, apontando inclusive a “arrogância imperial” ateniense sobre as outras polis gregas. Dizia que a guerra pela hegemonia no Peloponeso era inevitável. Naquele contexto, a praga de febre tifoide que se abateu sobre Atenas, e que levou para o “Olimpo” um terço da sua população, tornou insustentável a crise interna, tendo acelerado a derrota dos atenienses. Nos Estados Unidos de hoje, também inflado de arrogância excepcionalista, a praga do Covid-19 vai provocar, inevitavelmente, um efeito semelhante, talvez até mais terrível do que na antiga Atenas, pois a polis grega naquela altura contava com Péricles como governante, o filósofo Anaxágoras como conselheiro de Estado, Hipócrates como médico e primeiro combatente contra a epidemia, e no comando do exército de Atenas estava ninguém menos que o grande estrategista Alcibíades. Em contraste, os Estados Unidos hoje tem Trump, Pompeo, Bannon e Mark Esper para afrontar esse período histórico profundamente complexo e conturbado. E, como comprovou a história, mesmo com o aporte dos homens mais geniais da sua época, os atenienses não estiveram à altura do desafio do seu tempo; certamente, nada pode nos levar a pensar que a derrota do hegemon de nosso tempo possa ser evitada por esse patético quarteto norte-americano.

O que teremos depois da pandemia não terá nada de tão novo e surpreendente que já não estivesse visível no horizonte para aqueles que faziam as perguntas corretas, como fez Tucídides. As “novidades” que pretendem prognosticar os intelectuais da “Sopa”, parecem ter vindo diretamente do Oráculo de Delfos ou de Amon. Ao contrário do que querem eles, a “novidade” provocada pela pandemia será simplesmente uma aceleração ainda maior do processo de decadência imperial norte-americana. A crise do Coronavírus criará uma nova Grande Depressão interna (pior que a de 1929), que irá contagiar profundamente a Europa Ocidental. É certo que esta crise também afetará em certa medida a China, mas não com a intensidade com que ela se fará sentir no centro do império, nem da forma apocalíptica como profetizam alguns dos intelectuais da “Sopa de Wuhan”. A capacidade, hoje já prejudicada, de influenciar os destinos da humanidade, de exercer sua hegemonia e seu poder brando sobre o conjunto das nações acabou. Isso já era visível na Síria, no Irã e na Venezuela, e esses desdobramentos não foram causados pela pandemia: a pandemia apenas veio restringir ainda mais o alcance da já desgastada hegemonia norte-americana.

Vamos aos dados. No campo econômico, a profundidade da crise do império pode ser facilmente medida através de estatísticas simples, necessárias a uma análise de conjuntura que pretenda dar conta do mundo real e não pairar no nebuloso “mundo das ideias”. Theotonio dos Santos elencava alguns elementos estatísticos que, segundo ele, devem sempre estar presentes numa análise de conjuntura consequente: o PIB (nominal e por poder de compra), a produção industrial, a taxa de desemprego, a dívida pública e a balança comercial. Em termos de PIB nominal a China (13 trilhões de dólares) alcança rapidamente os EUA (20 trilhões de dólares), e a estimativa é de que a China supere os EUA até 2030. No entanto, se tomarmos os dados do PIB por Poder de Compra (muito mais confiável), a China (23 trilhões de dólares) já ultrapassou os EUA (20 trilhões de dólares) desde 2014. A China hoje produz 28.4% de todos os bens manufaturados no mundo, deixando os EUA em segundo (16.7%). Em 2018 a China ultrapassou os EUA como maior nação exportadora mundial, com 14% de todas as exportações globais daquele ano. Os EUA possuem uma dívida externa de 22 trilhões de dólares, o que corresponde a 107% do seu PIB. O desemprego nos EUA, mascarado por dados artificiais até aqui, será brutal a partir da pandemia: apenas nestas últimas nove semanas (durante a pandemia) 38,7 milhões de trabalhadores norte-americanos ficaram desempregados. Por último, se tomarmos as reservas dos países, temos a China em primeiro lugar, com 3.2 trilhões de dólares, enquanto os EUA possuem apenas 117 milhões de dólares, menos da metade do total de reservas do Brasil. A China é, simplesmente, a maior parceira comercial de 150 países, incluindo os próprios EUA. O maior projeto de integração econômica, política e cultural da história, o projeto Iniciativa Cinturão e Rota(as “Novas Rotas da Seda”) da China pretende interconectar toda a Ásia Central, Sudeste Asiático, África, Oriente Médio e Europa por vias terrestre (com trens de alta velocidade) e marítima (com grandes portos de águas profundas). Interconectividade comercial e investimentos em infraestrutura por todos os países onde passa. Os Estados Unidos não têm nenhum projeto dessa magnitude para oferecer aos países em desenvolvimento. Na verdade, os Estados Unidos nunca tiveram um projeto com este alcance; para a Iniciativa Cinturão e Rota, o governo da China pretende investir 1.9 Trilhões de dólares, 13 vezes mais que o Plano Marshall de 1948.

Alguns elementos ainda importantes para a sustentação da hegemonia dos EUA são o sistema financeiro internacional, por eles criado após a II Guerra Mundial e o papel do dólar como moeda de reserva internacional. Hoje, ambas estas instituições já estão em processo de erosão. O sistema financeiro internacional dirigido pelos EUA, representado pelo FMI e pelo Banco Mundial, perdeu sua capacidade de “seduzir” os países em desenvolvimento com o “canto da sereia” de empréstimos de dólares. Estes “empréstimos”, na verdade, afundavam os países no círculo vicioso dos “mecanismos da dívida eterna”, impondo contrapartidas de austeridade econômica, privatizações de empresas estatais, desregulamentação (precarização) das relações de trabalho, em suma, o receituário neoliberal. Além, é claro, das contrapartidas políticas, como a subserviência aos interesses internacionais dos EUA. O lançamento dos bancos de investimento da China põe em xeque este sistema financeiro centrado nos EUA e na preservação unilateral de seus interesses. O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (BAII) da China, desde sua fundação em 2016, conta com cerca de 90 países membros (excluindo os EUA, Taiwan e Japão) e já tem um capital de 100 bilhões de dólares, metade do capital com que foi formado o Banco Mundial em 1944. Por último, o outro dos pilares de poder hegemônico, representado pelo dólar norte-americano como moeda de reserva mundial, também está com os dias contados, e desde muito antes do Covid-19. Vários países, como Rússia, China, Irã, Venezuela, países da Ásia Central, BRICS (inclusive o Brasil, no âmbito dos BRICS) já não usam mais o dólar em seu comércio bilateral. Lenta mas firmemente, o dólar vai perdendo seu poder diante das moedas nacionais, principalmente do yuan chinês, que recentemente (2016) se tornou uma das moedas com Direitos Especiais de Saque e que podem ser usadas como Moedas de Reserva do FMI.

A multipolaridade já é uma realidade global palpável também no campo militar, embora muitos intelectuais continuem a falar de um “novo século americano” e da “hegemonia militar americana”. O poder militar da Rússia, independentemente da pandemia, já é superior ao poder militar dos Estados Unidos, e a demonização da Rússia responde a esse fato. O bilionário orçamento militar norte-americano, usado por muitos “analistas” como prova de supremacia, nada tem a ver com capacidade militar efetiva, como demonstrou Andrei Martyanov em Losing Military Supremacy, uma vez que muito mais da metade do inflado orçamento militar norte-americano representa apenas verbas de custeio (manutenção de altos salários do oficialato e das quase mil bases militares espalhadas ao redor do mundo). Este orçamento também está completamente “enredado” numa malha de corrupção entre o Estado, os organismos de segurança (a CIA e o Pentágono) e as Empresas do Complexo Industrial Militar dos Estados Unidos, onde o superfaturamento de projetos é a regra. O Destroier Zumvalt de 3.45 bilhões de dólares por unidade, fez água na sua primeira missão e teve de retornar a base para manutenção. O caça F-35 (o projeto mais caro da história da aviação, 400 bilhões de dólares) com um custo unitário próximo de 116 bilhões de dólares, pode ser detectado por radares russos dos anos 70, como ficou confirmado em 2018, quando estes caças, pertencentes a Força Aérea de Israel, foram detectados pelos radares sírios e tiveram que retornar a sua base.

A grande novidade do mundo pós-pandemia, portanto, não se revela pela bola de cristal dos intelectuais da “Sopa de Wuhan”: ela já está visível há muitos anos, e vem tomando forma e se solidificando cada vez mais. A pandemia só fará acelerar, dramaticamente, este processo. A aliança Rússia-China, o maior pesadelo de Brzezinski, já é uma realidade. E a hegemonia norte-americana está oca de base material, sobrando-lhe apenas seu aspecto puramente cultural-ideológico que, por certo é muito poderoso, mas não poderá se sustentar sozinho por muito tempo sem um respectivo recheio econômico. A casca ideológica logo vai deixar ver suas rachaduras, e a pandemia também vai acelerar o desgaste ideológico-cultural do imperialismo: pirataria (roubo) de equipamentos médicos destinados a outros países, as sanções unilaterais, as disputas com a OMS, os desentendimentos econômicos com a União Europeia, a compra de vacinas futuras de uma empresa alemã para uso exclusivo dos norte-americanos (‘America First”), as pressões contra a Rússia, Venezuela e Irã, agressões a países soberanos, cloroquina e desinfetante, estupidez e terraplanismo, fanatismo evangélico, tudo isso aprofundará as fissuras na casca ideológica que envolve um império economicamente oco, esvaziado, que se debate numa Guerra Comercial de vida ou morte contra a China. O único elemento que mantém, por enquanto, coesa esta casca é o anticomunismo, que se manifesta sob os diferentes formatos que ele adquiriu na atualidade: Sinofobia, Russofobia, antichavismo, antipetismo, etc. A crise do império é pois, multidimensional.

Não haverá novo Plano Marshall norte-americano para reconstruir a economia global pós-pandemia, e o imperialismo não poderá manter a posição dominante que sustentou até aqui. Isto é um fato. O Estado nacional impôs sua importância, sobre as tristes imagens das fossas comuns dos mortos pelo Covid-19, no mundo todo. A política neoliberal do Estado Mínimo, vê-se agora no “grupo de risco”, carregando com ela um “deus mercado” ausente e também infectado pelo Coronavírus. A julgar pelo que ocorre, particularmente na França e no Reino Unido, sua sobrevivência à pandemia não mais está assegurada. Por certo, o imperialismo e seu persistente e universal receituário de políticas neoliberais estão entubados. Mas, como vimos, estes entes políticos não ficaram doentes agora, pela intervenção exógena de um vírus; suas “imunidades” já vinham baixas desde que estalou a crise de 2008, o que favoreceu a sua infecção pelo Covid-19.

O mundo que virá não será necessariamente algo tão novo quanto alguns acreditam, nem tão aberto a reconfigurações como presumem os intelectuais da “Sopa de Wuhan”. Será simplesmente a reafirmação do mundo que já existe hoje como contra-hegemônico; um mundo multipolar que se irá afirmar de forma mais rápida e definitiva. Com ele, muitas oportunidades surgirão para o avanço e a radicalização de processos revolucionários (eleitorais ou insurrecionais); muito espaço irá se abrir para os trabalhadores e para governos progressistas, depois que o imperialismo se veja privado da prerrogativa de exercer o papel de polícia do mundo e impedido de interferir nos assuntos internos de outros Estados. Essa transição abrirá uma nova etapa para o desenvolvimento dos países do “terceiro mundo”, até então fustigados, golpeados (hoje, também pelo lawfare), sancionados e ameaçados pelo imperialismo.

O mundo pós-pandemia pode muito bem ser um mundo pós-imperialista. No fim, é justamente o entendimento do conceito de imperialismo que faz com que todos esses “especialistas” incorram em posturas lamentáveis que beiram a apologia ao Império. É impensável para eles, um mundo onde uma potência não-ocidental (com tudo o que isso implica em todos os terrenos) seja a potência hegemônica. Este fato fere de morte seu congênito eurocentrismo. Tentemos consolá-los lembrando-lhes que a China sempre foi a maior potência mundial: desde o nascimento de Cristo até o século XIX a China foi a maior economia mundial. Uma guerra interrompeu esta condição: a Guerra do Ópio de 1839, quando o imperialismo lançou a China no “Século das Humilhações”. E o espectro de uma nova guerra também hoje ameaça a humanidade. Daqui resulta a importância da Luta pelo Socialismo vir necessariamente acompanhada da Luta pela Paz, uma vez que todas as transições hegemônicas, até hoje, estiveram marcadas por grandes guerras. Então, o predomínio econômico e cultural do Ocidente foi apenas um hiato, um acidente, e o mundo está voltando ao seu histórico centro não-europeu. O verdadeiramente novo é que, pela primeira vez na história, podemos ter uma potência hegemônica dirigida por um Partido Comunista.

Talvez, ao expressar seu medo mais recôndito, o chanceler Ernesto Araújo tenha razão: “depois do coronavírus”, poderá vir realmente o “Comunavírus”!

Aquiles Fraga, historiador

Em 24 de maio de 2020

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.