O modelo USA do governo «soberanista»

A Arte da Guerra

Embora a oposição ataque sempre o governo e existam divergências no seio do próprio governo, em todo o arco parlamentar não se ergueu uma única voz, quando o Primeiro Ministro Conte expôs as linhas de orientação da política externa, na Conferência dos Embaixadores (em 26 de Julho), o que prova o amplo consenso multipartidário.

Conte definiu, antes de tudo,  qual é o fundamento da posição da Itália no mundo: “O nosso relacionamento com os Estados Unidos continua qualitativamente diferente do que temos com outras Potências, porque é baseado em valores, em princípios partilhados, que são o próprio fundamento da República e parte integrante da nossa Constituição: a soberania democrática, a liberdade e a igualdade dos cidadãos, a salvaguarda dos direitos humanos fundamentais”.

O Primeiro Ministro Conte não só reitera que os EUA são o nosso “aliado privilegiado”, como também afirma um princípio orientador: a Itália considera os Estados Unidos como um modelo de sociedade democrática. Uma mistificação histórica colossal.

Ø  No que diz respeito à “liberdade e à igualdade dos cidadãos”, basta lembrar que os cidadãos americanos ainda hoje são oficialmente registados com base na “raça” – brancos (distintos entre não hispânicos e hispânicos), negros, índios americanos, asiáticos, nativos havaianos – e que as condições de vida médias dos negros e dos hispânicos (latino-americanos pertencentes a todas “raças”) são, de longe, as piores.

No que diz respeito à “salvaguarda dos direitos humanos fundamentais”, basta lembrar que nos Estados Unidos mais de 43 milhões de cidadãos (14%) vivem na pobreza e cerca de 30 milhões não possuem plano de saúde, enquanto muitos outros possuem seguro de saúde insuficiente (por exemplo, para pagar uma longa quimioterapia contra um tumor).

E no que diz respeito à “salvaguarda dos direitos humanos”, basta recordar os milhares de negros desarmados, assassinados impunemente, por polícias brancos.

No que diz respeito à “soberania democrática”, basta recordar a série de guerras e golpes de Estado, efectuados pelos Estados Unidos, desde 1945 até hoje, em mais de 30 países asiáticos, africanos, europeus e latino-americanos, causando 20-30 milhões de mortes e centenas de milhões de feridos (ver o estudo de J. Lucas apresentado pelo Prof Chossudovsky em Global Research).

Estes são os “valores partilhados” sobre os quais a Itália baseia a sua relação “qualitativamente diferente” com os Estados Unidos. E, para demonstrar como ela é profícua, Conte assegura: “Encontrei sempre no Presidente Trump, um interlocutor atento aos legítimos interesses italianos”.

Interesses que Washington considera “legítimos” enquanto a Itália permanecer associada à NATO, dominada pelos EUA, seguir os EUA, de guerra em guerra, aumentar a sua despesa militar, a seu pedido, colocar o seu território à disponísição das forças e bases USA, incluindo as nucleares.

Conte procura fazer crer que o seu governo, habitualmente designado como “soberanista”, tem um amplo espaço autónomo de “diálogo com a Rússia com base de aproximação NATO de duplo binário” (diplomático e militar), uma abordagem que, na realidade, segue o binário único de um confronto militar cada vez mais perigoso.

A este respeito – refere ‘La Stampa’ (26 de Julho) – o Embaixador dos EUA, Eisenberg, telefonou ao Vice Presidente Di Maio (considerado por Washington o mais “confiável”), pedindo esclarecimentos sobre as relações com Moscovo, em particular do Vice Presidente Salvini (cuja visita a Washington, apesar dos seus esforços, teve um “resultado decepcionante”).

Não se sabe se o governo Conte vai passar no exame. Sabe-se, no entanto, que prossegue a tradição, segundo a qual, em Itália, o governo deve ter sempre a aprovação de Washington, confirmando qual é a nossa “soberania democrática”.

Manlio Dinucci

 

Artigo original em italiano :

Il modello USA del governo «sovranista»

Tradutora: Maria Luísa deVasconcellos


Articles by: Manlio Dinucci

About the author:

Manlio Dinucci est géographe et journaliste. Il a une chronique hebdomadaire “L’art de la guerre” au quotidien italien il manifesto. Parmi ses derniers livres: Geocommunity (en trois tomes) Ed. Zanichelli 2013; Geolaboratorio, Ed. Zanichelli 2014;Se dici guerra…, Ed. Kappa Vu 2014.

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