Print

O drone Itália vai à Libia
By Manlio Dinucci
Global Research, March 01, 2016
ilmanifesto.info
Url of this article:
https://www.globalresearch.ca/o-drone-italia-vai-a-libia/5511336

Desempenhando o papel de um Estado soberano, o governo Renzi “autorizou caso a caso” a partida de drones armados dos Estados Unidos desde a base italiana de Sigonella para a Líbia e outros países. Sabe-se que já em 2011 um drone Usa Predator Reaper decolou de Sigonella e foi telecomandado desde Las Vegas para atacar na Líbia o comboio em que se encontrava Kadafi, jogando-o nas mãos dos milicianos de Misurata. A Itália entra assim no elenco oficial das bases de drones de ataque dos Estados Unidos, sob o controle exclusivo do Pentágono, junto a países como o Afeganistão, a Etiópia, o Níger, a Arábia Saudita, a Turquia.

O ministro das Relações Exteriores, Gentiloni, deixando claro que a utilização das bases não requer uma comunicação específica ao parlamento”, garante que isto “não é o prelúdio de uma intervenção militar” na Líbia. Quando na realidade a intervenção já começou: forças especiais estadunidenses, britânicas e francesas – como confirmam The Telegraph e Le Monde – estão operando secretamente na Líbia.

Desde o hub aeroportuário de Pisa, limítrofe à base estadunidense de Camp Darby, decolam continuamente aviões de transporte C-130 (provavelmente também estadunidenses), levando materiais militares às bases meridionais e talvez ainda a alguma base no Norte da África.

Na base de Istres, na França, chegaram aviões Usa KC-135 para o reabastecimento em voo dos caças-bombardeiros franceses. A operação é dirigida não só à Líbia. Istres é a base da “operação Barkhane”, que a França conduz com 3 mil militares na Mauritânia, no Mali, Níger, Chade e Burkina-Faso. Na mesma área, na Nigéria, operam os Estados Unidos com forças especiais e uma base de drones em Camarões. Sempre com a motivação oficial de combater o chamado Estado Islâmico (EI) e seus aliados.

Simultaneamente, a Otan deslocou para o Mar Egeu o Segundo Grupo Naval Permanente, sob comando alemão, e aviões radar Awacs (centros de comando voadores para a gestão do campo de batalha), com a motivação oficial de “apoiar a resposta à crise dos refugiados” (provocada pelas guerras dos EUA/Otan contra a Líbia e a Síria).

Junta-se a tais operações a “Dynamic Manta 2016”, exercício militar da Otan no Mar Jônico e no Canal da Sicília com forças aeronavais dos Estados Unidos, da França, Grã Bretanha, Espanha, Grécia, Turquia e Itália, que forneceu as bases de Catânia, Augusta e Sigonella.

Prepara-se desse modo a “operação de peacekeeping (manutenção da paz) sob liderança italiana” que, com a motivação de libertar a Líbia do EI, visa a ocupar sua zona costeira, econômica e estrategicamente mais importante. Falta apenas o “convite”, que poderá ser feito por um fantasmagórico governo líbio.

Quem está pressionando para a intervenção na Líbia, desde Washington, é Hillary Clinton, candidata à presidência, que – escreve o New York Times em uma ampla reportagem – tem “a abordagem mais agressiva sobre as crises internacionais”. Foi ela quem em 2011 convenceu Obama a romper as hesitações. “O presidente assinou um documento secreto, que autorizava uma operação clandestina na Líbia e o fornecimento de armas aos rebeldes”, enquanto o Departamento de Estado dirigido pela [Hillary] Clinton os reconhecia como “legítimo governo da Líbia”.

As armas, inclusive os mísseis antitanques Tow e radares anti-bateria, foram enviados pelos Estados Unidos e outros países ocidentais a Bengasi e alguns outros aeroportos. Simultaneamente, a Otan sob comando estadunidense, realizava ataques aéreos e navais, com dezenas de milhares de bombas e mísseis, desmantelando do exterior e do interior o Estado líbio.

Quando em outubro de 2011 Kadafi foi assassinado, a Clinton vibrou com um “Uau!”, exclamando: “Nós viemos, nós vimos, ele morreu”. Não sabemos que líder ela citará para a segunda guerra na Líbia. Mas sabemos quem a telecomanda.

Manlio Dinucci

Fonte em italiano: Il Manifesto

Tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

 

Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.