Estarão os afiliados libaneses da Al-Qaeda a abrir uma frente libanesa na guerra da Síria?

Os EUA e seus aliados estão a trabalhar para abrir no Líbano uma nova frente do conflito sírio.

O Líbano foi sedado em está num estado de limbo pela falta de um governo e o adiamento das eleições legislativas. Para complicar as coisas, muitas figuras institucionais e os comandantes militares têm-se reformado e o governo interino não é capaz de substituí-los.

A intervenção do Hezbollah no conflito sírio deu um impulso ao governo da Síria contra as forças antigovernamentais que tentam invadir a Síria.

Isso mudou a atenção dos EUA e dos seus dos aliados em relação ao Líbano, vendo este como uma nova arena de batalha. Rockets também estão a ser lançados por forças antigovernamentais da Síria, e até de dentro do Líbano, contra redutos políticos do Hezbollah e contra aldeias xiitas muçulmanos. O objetivo é acender as chamas de sedição entre xiitas e sunitas dentro do Líbano.

Em baixo: Imagem dos Hariris enfeitados com a bandeira do Partido do Futuro, da Al-Qaeda e das forças antigovernamentais da Síria na estrada para Sidon. (Photo by Mahdi Darius Nazemroaya)

 

Al-Qaeda no Líbano

A bandeira da Al-Qaeda voou no Líbano durante anos. Conduzindo perto do aeroporto em Beirute ou na estrada para Sídon (Saida), pode-se ver as bandeiras da Al-Qaeda a voar em preto. O mesmo acontece em Trípoli (Trablos) e em algumas áreas dentro de Beirute. Desde que o conflito sírio começou é possível vê-las a voar ao lado da bandeira dos rebeldes sírios. Os EUA e os seus aliados, na verdade, viraram os olhos ao apoio que o Partido do Futuro de Saad Hariri fornece à Al-Qaeda. É interessante notar que o atual chefe de Departamento da Secretaria de Assuntos Políticos das Nações Unidas, Jeffrey Feltman, que já foi o embaixador dos EUA no Líbano, antes de ser promovido no Departamento de Estado dos EUA, também fez vista grossa para o apoio dado à Al-Qaeda pelo Partido do Futuro, da família Hariri, e pela Aliança de 14 de março.

A família Hariri teve uma longa aliança com os takfiris e com simpatizantes da Al-Qaeda. Estes foram aliados políticos com grupos no Líbano, que abertamente reverenciavam Osama bin Laden. Foi a família Hariri e os membros do seu Partido do Futuro, que também importaram os lutadores que se tornariam a Fatah Al-Islam no Líbano. Esta exploração das milícias takfiri dentro do Líbano por parte da família Hariri destinava-se a atacar o Hezbollah. Regionalmente, a mesma estratégia envolvia patronos sauditas da família Hariri e a administração de George W. Bush, que estavam a preparar e a armar essas milícias como armas contra a Síria e o Irão. Os Hariris ficaram furiosos quando Seymour Hersh os expôs e os repreendeu publicamente.

Meses depois a Fatah Al-Islam ficou fora de controlo. A Aliança de 14 de março liderada por Hariri foi desonesta e tentou culpar a Síria e os palestinianos por apoiarem e criarem o grupo. Seymour Hersh seria inocentado. O conflito no Líbano, entre militares libaneses e Fatah Al-Islam pronunciou os exércitos que estavam a ser reunidos para uma mudança de regime na Líbia e na Síria.

Trípoli e Sídon como extensões do conflito sírio

Na segunda maior cidade do Líbano, Trípoli, viram-se intensos combates entre a comunidade alauita do Líbano, que é representada pelo Partido Democrático Árabe, e os takfiri, aliados da família Hariri. Os aliados de Hariri em Trípoli são partidários abertos da Al-Qaeda e das forças antigovernamentais na Síria; eles têm contrabandeado armas em todo o Líbano-Síria e enviaram um grande número de combatentes para a Síria para derrubar o governo de Damasco. O Partido do Futuro foi, também, envolvido na coordenação desses atos.

A terceira maior cidade do Líbano, Sídon, também tem sido palco de lutas e tensões entre Ahmed Al-Assir, um aliado de Hariri e partidários e aliados do Hezbollah. Os homens de Al-Assir tentaram matar um dos principais clérigos muçulmanos sunitas de Sídon,Maher Hammoud, porque ele tem saído constantemente a dizer que há uma tentativa de incendiar o conflito entre xiitas e sunitas no Líbano e em toda a região. Um contingente do exército libanês teve de se deslocar para manter a paz na cidade.

Os homens de Al-Assir atacaram e mataram membros do exército libanês, sem motivo aparente, a 23 de junho de 2013. Isso deu início a uma batalha em Sídon. Vê-se fumo negro vindo da cidade a grandes distâncias. Tem sido relatado que os membros das forças antigovernamentais da Síria também se juntaram a eles. O Exército libanês enviou armas pesadas para combater o grupo de Al-Assir.

O objetivo de atacar no Líbano é forçar o Hezbollah a retirar da Síria

Militares libaneses entrando em Sidon (Photo Mahdi Darius Nazemroaya)

 

O Líbano é agora um alvo. Tem havido um número crescente de ataques contra o exército libanês da fronteira com a Síria desde que o Hezbollah interveio na Síria. Já havia ataques no Líbano antes mesmo de o Hezbollah intervir no conflito sírio, mas estes foram destinados principalmente a provocar Hezbollah.

Aqueles que estão a transformar o Líbano num alvo estão a aproveitar a falta de governo e a falta de liderança de várias instituições nacionais libanesas para assim criarem um estado de caos no Líbano. Houve ataques a aldeias xiitas e sunitas no vale de Bekaa começando assim um ciclo de violência. É claro que o objetivo é colocar xiitas e sunitas uns contra os outros. É por isso que o Hezbollah pediu aos clãs xiitas de Bekaa para manterem a calma. Protestos eclodiram no Líbano, também.

 

Checkpoint das forças armadas libanesas em Sidon. (Photo by Mahdi Darius Nazemroaya)

A violência em Sidon faz parte de uma estratégia. O ataque, não provocado, de Al-Assir contra o exército libanês pretende criar pressão sobre o Estado libanês e exacerbar as tensões entre xiitas e sunitas.

O Hezbollah recusa envolver-se numa batalha sectária no Líbano. Enquanto o Movimento Amal, partido político xiita que é parceiro do Hezbollah, mobilizou as suas milícias e começou a ocupar as estradas do sul e leste de Sidon, o Hezbollah manteve a calma. Os media do Amal também informaram sobre o incidente profusamente e até mesmo de forma sectária, mas a media do Hezbollah declararam calma e falaram pouco.

Líbano está a aceso com o objetivo de forçar o Hezbollah a retirar da Síria correndo para dentro.

Essencialmente o Líbano é agora uma segunda frente do conflito sírio.

Os EUA e a Arábia Saudita provavelmente já pediram à família Hariri para alertar os seus clientes afiliados da Al-Qaeda para iniciarem a violência no Líbano e capitalizar sobre a ausência do debilitado Estado libanês.

 

Mahdi Darius Nazemroaya é sociólogo e pesquisador associado do Centro de Investigação sobre a Globalização (CRG). Atualmente, está relatando do Líbano. Ele estava em Sídon durante os combates e o progresso dos militares libaneses.

Original aqui.

Ahmed Al-AssirAre Al-Qaeda’s Lebanese Affiliates Opening a Lebanese Front in the Syrian War?, 23 de Junho de 2013

Traduzido de inglês por Filipe T. Mor


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About the author:

An award-winning author and geopolitical analyst, Mahdi Darius Nazemroaya is the author of The Globalization of NATO (Clarity Press) and a forthcoming book The War on Libya and the Re-Colonization of Africa. He has also contributed to several other books ranging from cultural critique to international relations. He is a Sociologist and Research Associate at the Centre for Research on Globalization (CRG), a contributor at the Strategic Culture Foundation (SCF), Moscow, and a member of the Scientific Committee of Geopolitica, Italy.

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