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Escalation nucleare in Europa
By Manlio Dinucci
Global Research, April 20, 2016
ilmanifesto.info
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https://www.globalresearch.ca/escalation-nucleare-in-europa-2/5521005

A Casa Branca está « preocupada » porque caças russos sobrevoaram de perto um navio estadunidense no Mar Báltico. Assim informam as agências noticiosas. Sem dizer, entretanto, de que navio se trata e por que estava no Mar Báltico.

Trata-se do USS Donald Cook, um dos navios dentre as quatro unidades lança-míseis deslocados pela Marinha dos EUA para a « defesa de mísseis da Otan à Europa ». Essas unidades, que serão aumentadas, são dotadas de radar Aegis e de mísseis interceptadores SM-3, mas ao mesmo  tempo de mísseis de cruzeiro Tomahawk de dupla capacidade convencional e nuclear. Em outros termos, são unidades de ataque nuclear, dotadas de um « escudo » destinado a neutralizar a resposta inimiga.

O Donald Cook, partindo em 11 de abril do porto polonês de Gdynia, cruzou por dois dias a apenas 70 quilômetros da base naval russa de Kaliningrado, e por essa razão foi sobrevoado pelos caças e helicópteros russos. Além dos navios lança-mísseis, o « escudo » EUA/Otan na Europa inclui, na sua conformação atual, um radar « na base avançada » da Turquia, uma bateria de mísseis terrestres estadunidenses na Romênia, composta de 24 mísseis SM-3, e uma outra análoga que será instalada na Polônia.

Moscou adverte : essas baterias terrestres, tendo capacidade de lançar também mísseis nucleares Tomahawk, constituem uma evidente violação do Tratado INF, que proíbe o deslocamento para a Europa de mísseis nucleares de médio porte.

Que fariam os Estados Unidos – que acusam a Rússia de provocar com os sobrevoos « uma escalada inútil de tensões» – se a Rússia enviasse unidades lança-mísseis ao longo das costas estadunidenses e instalasse baterias de mísseis em Cuba e no México?

Ninguém pergunta sobre isso na grande mídia, que continua a mistificar a realidade. Última novidade escondida : a transferência de F-22 Raptors, os mais avançados dos caças bombardeiros estadunidenses de ataque nuclear, da base de Tyndall na Flórida à de Lakenheath na Inglaterra, anunciada em 11 de abril pelo Comando europeu dos Estados Unidos. Da Inglaterra os F-22 Raptors serão « deslocados para outras bases da Otan, em posição avançada para maximizar as possibilidades de treinamento e exercer uma dissuasão em face de qualquer ação que desestabilize a segurança europeia ».

Trata-se da preparação para o iminente deslocamento para a Europa, incluindo a Itália, das novas bombas nucleares estadunidenses B61-12 que, lançadas a cerca de 100 quilômetros de distância, atingem o objetivo com uma ogiva  « de quatro opções de potência selecionáveis ». Esta nova  arma entra no programa de potencialização das forças nucleares, lançado pela administração Obama, que prevê entre outras coisas a construção de 12 submarinos de ataque suplmentares (7 bilhões de dólares a unidade, estando o primeiro já em canteiro de obras), cada um armado com 200 ogivas nucleares.

New York Times informa (17 de abril) que está em curso o desenvolvimento de um novo tipo de ogiva nuclear, o « veículo flutuante hipersônico » que, ao retornar à atmosfera, manobra para evitar os mísseis interceptadores, dirigindo-se para o objetivo a mais de 27 mil quilômetros por hora. A Rússia e a China seguem, desenvolvendo armas análogas.

Durante esse tempo, Washington colhe os frutos. Tranformando a Europa em primeira linha do confronto nuclear, sabota (com a ajuda dos próprios governos europeus) as relações econômicas entre a União Europeia (UE) e a Rússia, com o objetivo de ligar indissoluvelmente a UE aos EUA por intermédio do TIP. Impulsiona ao mesmo tempo os aliados europeus a aumentar a despesa militar, para lucro das indústrias bélicas estadunidenses cujas exportações aumentaram 60% nos últimos cinco anos, tornando-se o mais forte setor das exportações estadunidenses.

Quem disse que a guerra não paga ?

Manlio Dinucci

 

Fonte original :

http://ilmanifesto.info/escalation-nucleare-in-europa/

Tradução de José Reinaldo Carvalho para Resistência

 

Manlio Dinucci é jornalista e geógrafo.

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article.