Crise financeira no Dubai: Rumo a um cenário de pesadelo?

O incumprimento verificado no Dubai não é o princípio do Colapso Financeiro Nº2. Não veja dominós aqui. Sim, ele levanta questões graves acerca da ameaça da dívida que paira sobre economias emergentes – particularmente a Europa do Leste. Mas isto não é um “incumprimento soberano” no sentido estrito, nem há qualquer grande contágio de risco. O Abu Dhabi rico em petróleo está carregado de activos líquidos, possivelmente tanto quanto US$800 mil milhões. Eles poderiam liquidar a miserável dívida de US$60 mil milhões do Dubai num piscar de olhos. Mas o Abu Dhabi quer dar ao seu perdulário irmão mais jovem um sinal para acordar forçando o Dubai a reestruturar a sua dívida. Isto significa que bancos, possuidores de títulos e empreiteiros terão de se encolher, o que não é surpreendente dada a condição abissal do mercado imobiliário comercial.

Os proprietários do Dubai World foram apanhados na mesma vertiginosa farra da construção comercial alimentada pela dívida que varreu os Estados Unidos. O problema tem a ver com padrões de empréstimo laxistas e baixas taxas de juro. Agora a procura caiu um precipício e o crédito está a ficar mais apertado. O Dubai World não pode rolar a sua dívida ou cumprir as suas obrigações. Isto é o que tipicamente acontece quando estouram bolhas de crédito.

Na quinta-feira, analistas do Bank of America emitiram uma declaração: “Ninguém pode descartar – como um risco final – a possibilidade de que isto escalasse num grande problema de incumprimento soberano, o qual então repercutiria por todo o globo nos mercados emergentes do mesmo modo que o da Argentina no princípio de 2000 ou a Rússia no fim dos anos 1990”.

Isto é asneira. Não haverá incumprimento soberano. O Abu Dhabi não vai remeter os mercados globais para um mergulho vertical a fim de poupar uns poucos milhares de milhões de dólares. O Bank of America está a soprar fumaça. O petróleo já deslizou US$3 por barril desde que a crise começou. Provavelmente haverá uma tentativa de resolução quando os mercados abrirem segunda-feira. Isto não significa que não haja importantes lições a serem retiradas desta mais recente calamidade financeira. Há.

Primeiro, ela ilustra que a crise financeira não está ultrapassada – famílias, negócios e países ainda estão a desalavancar. Este processo em andamento reduzirá gastos e aumentará incumprimentos, bancarrotas e arrestos. Garantias governamentais e programas de estímulo não reverterão as tendências prevalecentes. Mais incidentes como o do Dubai World seriam expectáveis. Estes “eventos do crédito” perturbarão a recuperação e estimularão maior aversão ao risco, a qual pressionará acções para a baixa.

Amab Das, do RGE Monitor, resume isto assim: “Somos obrigados a ver um aumento da aversão ao risco. A situação do Dubai significa que embora os principais bancos centrais de todo o mundo tenham estabilizado o sistema financeiro, eles não podem fazer com que todos os excessos simplesmente desapareçam. Ainda temos de resolver aquelas tensões dos balanços. A recuperação prossegue, mas ainda há desafios significativos pela frente”. (Bloomberg News)

Segundo, quando estes incidentes se verificam, provavelmente há um considerável dano colateral decorrente de apólices de seguro não regulamentadas (credit default swaps) dos que subscreveram os títulos. Estes derivativos CDS não são vendidos numa bolsa pública de modo que ninguém sabe quem os possui, em que quantidade, ou se o emissor tem suficientes reservas de capital para liquidar as exigências. Deveríamos esperar uma repetição da AIG múltiplas vezes novamente (embora mais pequenas) até que o sistema esteja regulado ou os CDS estejam proibidos. O resultado final é que a actual arquitectura financeira não é concebida para funcionar; é concebida para tornar um punhado de especuladores muito rico. Estes especuladores possuem o Congresso, a Casa Branca e os media financeiros, razão pela qual não tem havido mudança significativa nas regulamentações.

O Dubai não é a Argentina. Haverá uma resolução e os empreiteiros serão pagos, embora não “plenamente”. Haverá perdas, grandes perdas. Mas não contágio.

A notícia da “paralização” dos pagamentos do Dubai enervou os mercados globais, onde a confiança do investidor já é diminuta. O dólar e o yen fortaleceram-se os Títulos do Tesouro dos EUA subiram. A “fuga para a segurança” está a tornar duplamente difícil para o Fed reflacionar preços de activos. Eventos de crédito como o do Dubai tornam nervosos os investidores e eles escoiceiam. Isso estende a queda e aprofunda a recessão.

Se a crise do Dubai se arrastar, o dólar ficará mais forte e o florescente carry trade será esmagado. Isso significa que os bancos no limite da capacidade (o quais investiram pesadamente em posições de alto risco) ficarão esmagados mais uma vez. Este é o cenário de pesadelo.

O Fed tem amparado ao colo o sistema financeiro e proporcionou garantias ilimitadas sobre milhões de milhões (trillions) de dólares de colaterais comprometidos. Mas isso pode não ser suficiente.

28/Novembro/2009

O original encontra-se em http://globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=16310

Este artigo foi traduzido por http://resistir.info/ .


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Articles by: Mike Whitney

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