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Camponeses e militantes pró-Morales são assassinados na Bolívia
By Global Research
Global Research, September 15, 2008
CPT 15 September 2008
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A crise na Bolívia tem ocupado bastante espaço na mídia nacional, sobretudo pela possibilidade de corte do fornecimento de gás natural ao Brasil. Mas a situação é muito mais grave do que tem aparecido. Houve massacre de camponeses na Província de Pando, fronteira com Brasil e Peru, como muito bem relata a nota emitida pela Secretaria de Direitos Humanos da Diocese Anglicana de Brasília (leia abaixo). O massacre, porém, é citado pela imprensa como confronto entre governistas e oposicionistas. Mais grave ainda é que governadores de Beni, Tarija e Santa Cruz, também estados de oposição a Morales, querem imputar o massacre às tropas do Exército a serviço de Morales, como noticiou a Folha de São Paulo de sábado, 13 de setembro.

Após o assassinato de cerca de 30 camponeses na noite da última quinta-feira, 11 de setembro, por ordem de Leopoldo Fernández, governador de Pando, o governo de Evo Morales decretou estado de sítio no Estado. Entretanto, Fernández aceitou o decreto somente ontem, 14 de setembro, permitindo, a entrada do exército boliviano no Estado. De acordo com depoimentos de moradores da região e de sobreviventes do ataque, o governador de Pando contratou mercenários e narcotraficantes do Peru e do Brasil para atuar no confronto. Fernández nega a acusação, mas admite que grupos armados participaram do massacre dos camponeses.

O governo boliviano prometeu na noite deste domingo, condenar Leopoldo Fernández a 30 anos de prisão por crimes de lesa humanidade. O vice-ministro da Coordenação com os Movimentos Sociais da Bolívia, Sacha Llorenti, declarou que esse crime não ficará impune, “Quero deixar absolutamente claro que este caso não vai cair na impunidade, porque vamos mostrar que as instituições do Estado boliviano funcionam e que Leopoldo Fernández terá uma sentença de 30 anos sem direito a indulto pelos crimes que cometeu”.

Llorenti afirmou, ainda, que o crime foi premeditado e planejado já que os principais alvos dos pistoleiros eram os dirigentes dos camponeses, e quase todos os mortos receberam os tiros na cabeça e no coração.

Leopoldo Fernández é político de extrema direita, membro do Podemos, principal partido de oposição ao governo Morales, e integrou o segundo governo do general Hugo Banzer Suárez (1997-2001).

Leia abaixo a Nota da Secretaria de Direitos Humanos da Diocese Anglicana de Brasília:

SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA DIOCESE ANGLICANA DE BRASÍLIA

MATANÇA DE CAMPONESES EM PORVENIR, BOLÍVIA

 

Porvenir é um povoado situado a 30 km da cidade de Cobija, capital do Departamento de Pando na Bolívia, um dos cinco estados que se rebelaram contra o Governo Central daquela república. Ali ocorreu, no dia 11 de setembro, o que tem sido considerado o pior massacre da Bolívia em seu período democrático. Trinta camponeses mortos já foram contados, e se calcula que tenham ocorrido pelo menos mais 20 mortos, além de dezenas de feridos. Homens, mulheres e crianças, inclusive mulheres grávidas e idosos.

Segundo uma série de entrevistas ao vivo com sobreviventes, realizadas pela rede de rádio comunitárias boliviana “Red Erbol” (http://www.erbol.com.bo/index.php), na noite do dia 11, cinco veículos com camponeses se dirigiram, desarmados, a um “ampliado” governamental convocados pela federação de camponeses para a localidade de Filadelfia, por uma estrada no meio da mata. Às 8h30 do dia 12, eles foram retidos, ainda na estrada, por um destacamento da polícia estadual de Pando. Os policiais detiveram-nos ali, despistando-os por cerca de três horas; pouco depois das 11 horas, surgiram subitamente veículos contendo de 30 a 50 paramilitares armados de fuzis, revólveres, escopetas e metralhadoras, e foram logo atirando nos camponeses surpreendidos. A polícia se retirou, e os camponeses que não tombaram tentaram fugir pela mata, perseguidos pelos paramilitares. Quando estes os alcançavam, derrubavam-nos e matavam-nos a sangue frio. Alguns, mesmo feridos, conseguiram chegar a um rio próximo e jogaram-se nas águas. Mesmo assim, os assassinos os metralharam, e muitos morreram nestas circunstâncias.

Os paramilitares, ligados ao prefeito (governador) do Estado de Pando Sr. Leopoldo Fernandez e ao “Comitê Cívico” estadual mataram indiscriminadamente mulheres grávidas, idosos e crianças, segundo relatos feitos na rádio educativa captados aqui em Brasília via internet. Os veículos dos camponeses foram queimados e seus pertences roubados. Não houve nenhuma resistência por parte dos camponeses, que foram surpreendidos na operação. A polícia estadual a tudo assistiu sem tomar providências, e a matança prosseguiu até cinco horas da tarde.

Muitos corpos estão ainda no meio do mato e no rio; e as autoridades estaduais rebeladas contra o governo central não estão permitindo a entrada de socorro na área. Organismos de diferentes instituições têm tentado chegar ao local, mas as autoridades estaduais vedam o aceso à área do conflito e impedem que entrem na cidade. Muitos feridos têm se dirigido aos hospitais, e outros não tiveram coragem de procurar ajuda por medo de serem mortos, pois não existe nenhuma segurança na cidade, que vive uma situação de caos, sem policiamento, onde mesmo os feridos continuam sendo ameaçados impunemente, e a população se recolhe as suas casas temendo os saques que ocorrem com freqüência.

A Secretaria de Direitos Humanos da Diocese Anglicana de Brasília solidariza-se com as famílias dos falecidos; pede paz, justiça, solidariedade e diálogo na Bolívia; conclama a todos e todas para protestarem contra esse ato de barbárie perpetrado pelas autoridades do Departamento de Pando e seus grupos paramilitares protegidos; e exige que as autoridades brasileiras detenham o Sr. Leopoldo Fernandez e outras pessoas responsáveis por esse crime caso entrem em território nacional, para que possam ser processados e julgados por crime contra a humanidade.

Brasília, 14 de setembro de 2008

Paulo Couto Teixeira
secretário

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Assessoria de Comunicação
Comissão Pastoral da Terra
Secretaria Nacional – Goiânia, Goiás.
Fone: 62 4008-6406/6412/6400
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