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Brasil Tornou-Se a “Venezuela” das Lendas Reacionárias
By Edu Montesanti
Global Research, March 26, 2018

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Enquanto nunca importou que a Venezuela sofre boicote econômico e invasão de capangas colombianos devidamente pagos, atual tragédia brasilera traz contra si o fato de ter contado com amplo apoio popular desde as raízes, nanificado moralmente na ridícula “Ponte para o Futuro”. Mas em terras tupiniquins, cinismo ilimitado é sempre a ordem do dia

Venezuela vive guerra econômica – nada nova na história – que inclui comprovado contrabando e armazenamento ilegal de toneladas e mais toneladas de produtos básicos a fim de gerar escassez no país caribenho; não fosse assim, não teria ao longo de todos esses anos acumulado vitórias eleitorais,com maciço apoio social através de pleitos elogiados internacionalmente, inclusive pelo ex-presidente estadunidense Jimmy Carter: “Mais seguro sistema eleitoral dos 92 paises que observei. Os EUA têm muitas lições a tirar da Venezuela, (…) melhor sistema eleitoral do mundo“.

Além disso, capangas especialmente da Colômbia têm cruzado a fronteira a fim não apenas de assassinar políticos bolivarianos, como também eleitores do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) – ou “suspeitos” de serem tais, isto é, cidadãos venezuelanos de pele mais escura. Tudo isso, apoiado abertamente pela oposição política e mídia locais.

Mesmo assim, o presidente Nicolás Maduro, favorito para vencer as eleições de abril, entregou até agora nada menos que dois milhões de casas populares de alto padrão que incluem centros de lazer e de saúde, construídas em quinze anos, e com os ganhos da criptomoeda denominada Petro, atrelada ao petróleo venezuelano, já promete mais 236 mil casas para este ano Maduro e o antecessor Chávez nunca dexaram de cumprir tais promessas, daí os números de residências entregues como parte de investimentos sociais que têm recebido elogios de diversos organismos internacionais). E até 2019, serão contruídas mais residências populares que totalizarão três milhões entregues pelo governo bolivariano.

Não sem razão, não há páreo contra ele entre uma oposição, lá, semelhante à direita brasileira no que diz respeito à baixeza intelectual e moral, e à agressividade exagerada.

Enquanto isso, ao longo desse tempo todo foi impossível dialogar, tentar levar aos reacionários brasileiros uma outra narrativa envolvendo essa questão: a da artificialidade comprovada da crise econômica – não tão grave quanto se diz, mas uma crise, sim -, e de uma violência em grande parte programada, e completamente invertida pelos meios de comunicação – tanto quanto têm sido difundidas diversas imagens de supermercados vazios que não são venezuelanos, sendo um deles até nova-iorquino travestido pela mídia, sabidamente manipuladora, de venezuelano.

Diante do boicote econômico, por algum período chegou a faltar papel higiênico porém não em escala alardeada pela grande mídia: foi o suficiente para seres sequer capazes de localizar no mapa o país caribenho, apresentarem mais um festival da ignorância e do ódio, sem aceitação de nenhuma vírgula que fugisse do que lhes impõe meios como Rede GloboVejaEstadão etc.

Se quando, recentemente, faltou papel no Brasil por razoavemente longo perído a fim de se emitir passaportes este autor questionou esses setores da sociedade brasileira (calada), e agora que o Brasil, insatisfeito com as taxas anuais de 60 mil mortes violentas além da polícia mais violenta do mundo, tem ido além e assassinado semanalmente políticos como Marielle, a resposta que se recebe dos conservadores em geral é que se trata de “mais um(a), vítima da violência”, nada mais que isso. Indiferença com o objetivo claro de se “deixar passar…”. Por quê?

Enfim, acusavam e acusam equivocadamente a Venezuela de viver sob ditadura, algo não dito por todo o país caribenho sequer entre cidadãos que não votam no PSUV, enquanto advogam para dentro de casa (Brasil).. exatamente um regime ditatorial! Isso vai muito além da contradição: é idiotice ou até mesmo problema patológico de alto grau, enquanto acusa (equivocadamente e sem margem ao contraditório) o outro, daquilo que aprova para si. Há algo mais enfermante?

Nem a oposição venezuelana, fundamentada em acusações mentirosas, acusa Maduro e Chávez de abusarem do erário e de casos de corrupção diversos, a não ser alguns factóides sem nenhum sentido que acabaram se perdendo nas próprias contradições e boatos. Se entre opositores comuns, não-eleitores do PSUV por toda a Venezuela costumam negar que se vive ditadura quando perguntados – “a liberdade é tanta ue chega a ser até libertinagem”, chegou a ouvir este autor -, entre eleitores bolivarianos é muito comum chorar de emoção ao se referir à Revolução Bolivariana, como pode ser visto nesta série de videoentrevistas.

Que dizer, pois, do Planalto e Congresso brasileiros nestes sentidos, corrupção e excesso de arbitrariedades? Vale ressaltar que esta pergunta, como todas as demais, não são direcionadas a cidadãos venezuelanos, em geral não entremetidos em assuntos alheios a fim de não ferir soberanias nacionais, mas a brasileiros alegadamente incomodados com ditadura, corruppção, violência e falta de dinheiro no bolso… do outro. Ainda que um outro ilustremente deconhecido – e nem se queira conhecê-lo bem. Que dizer, pois, deste Brasil de hoje entregue às dessa gente – Temer, MBL, Bolsonaro, Rodrigo Maia, João Doria “gestor, não político”, Alckmin -, escolhida a dedo pela mídia e por grande parte da sociedade?

Há sete dias da morte da Marielle no Rio, em uma missa de “Ipanema” o padre tentou lembrar e rezar por esta que foi brutalmente assassinada, tendo sido interrompido e xingado por dois “católicos” que tiveram que ser retirados por seguranças do encontro de “paz” e “oração”.

Aliás, e se seguranças não tivessem retirado nossos “democráticos” reaas tupiniquins da missa da riquíssima Ipanema, teriam agredido fisicamente ou até mesmo assassinado o sacerdote? Neste caso, tampouco mereceria a indignação do setor brasileiro em questão,pois seria algo que confrontaria suas patologias e interesses, certamente.

Além da severa crise econômica, e crescente (o buraco será ainda mais fundo) pós-Ponte para o Futuro de Temer e das classes média e alta cujoo presidente da República, com meia dúzia de palavras de péssimo gosto capazes de enganar apenas um perfeito ignorante, nunca aceitou contra-argumentação de que, inevitavelemente, dar-se-ia com os burros n’água como todos sentimos diariamente no bolso e na geladeira de nossas casas. E nas próprias ruas, cada vez mais violentas.

Até porque, atualmente, mesmo organismos como FMI condenam políticas econômicas neoliberais, que andam na contra-mão das políticas da grande maioria dos governos internacionais, baseadas em invetimentos sociais, em maior ou menor grau dependendo de cada caso, para sair da crise: tomemos como exemplo de rotundo fracasso das mesmas políticas adotadas pela marionete Temer hoje, nos casos de Espanha, Portugal e Grécia – além de uma breve espiadinha na própria história do século XX.

Contudo, essa discussão toda sem dúvidas foge das habilidades dos nervosos miolos dos teólogos do livre-mercado irrestrito, outros tantos milhões de fantoches nas mãos da mídia predominante deste país – este setor sequer se interessa por isso… Folha de S. Paulo, Silvio Santos, Rede Record etc, são extremamente eficientes na arte de alienar (= emburrecer) as massas.

Na elitizada Santa Catarina brasileira (não por acaso, o estado em que menos se lê no Sul-Sudeste nacional), este jornalista tentou argumentar isso mesmo, que a imoral Ponte para o Futuro seria um rotundo fracasso – em 2016 já dizia que este 2018 seria o pior ano da história do Brasil -, e terminou ameaçado de agressão para, semanas depois, acabar agredido verbal e fisicamente na mesma época em que capas da revista Caros Amigos, para a qual este comunicador escrevia à época, eram atacadas diariamente nas bancas de jornal da cidade de São Paulo, em julho do ano passado.

Tudo isso, para nem mencionar a corrupção indiscriminada, encrustrada na política brasileira a qual, até antes de ontem, era motivo do profundamente histérico berreiro entre brazucas mais “moralistas”… hoje substituído por coisas como vídeos de Ronald Golias nas redes sociais (exatamente como se deu nas primeiras horas pós-assassinato da Marielle por este setor doentio), e nenhuma manifestação popular desde que esta cumpriu, em 2013 e 2016, a agenda claramente politiqueira.

Pois não é que o Brasil tornou-se a “Venezuela” do imagináio midiático e reacionário tupiniquim?

A diferença é que se na Venezuela o grosso da população, cerca de 90% constantemente se opõe ao jogo violento da direita e à sua (falta de) proposta econômica ao país, enquanto no Brasil desavergonhado essa tragédia tem se dado exatamente sob a Presidência de um fantoche conclamado pelo segmento reacionário nacional – a autoconsiderada “nata intelectual e moral”, elite econômica e nada mais que isso incapaz de algo mais que escolher a marca do papel higiêncio, por falar nisso -, e todo esse cenário tem também o apoio, ou ao menos a cumplicidade, de uma das sociedades mais ignorantes do planeta.

Outra gritante diferença é que a violência de Roraima para baixo, até o Rio Grande do Sul, em enorme medida possui raízes na incompetência local, sobretudo na repressão estatal histericamente defendidas pelas classes dominantes.

E agora, onde está a indignação contra o próprio umbigo? O pedestal imaginário era hiperdimensionado para si mesmo, de maneira que agora não há condição de se fazer auto-crítica neste sentido.

É estranho que durante todos esses anos tenha-se apontado canhões tão agressivos contra um país que, repita-se, o grosso dessa gente mal sabe localizar em um mapa, nação pela qual nunca se houve o menor interesse anteriormente, enquanto essa mesma gente esteja, agora, em silêncio diante do que o Brasil acabou sendo transformado – e transformado por eles mesmos, os quais sabem bem disso.

Sociedade que, em geral, insiste em não tomar lições da história – e bem antes da Venezuela, muitos sequer são capazes de localizar no mapa nacional a própria capital Brasília. Alguma dúvida?

Edu Montesanti

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