A Perversidade do Capitalismo: Outro Mundo é Possível

capitalism
Em 2013, três conceituados cientistas da NASA publicaram um impactante estudo no qual, fundamentando-se
em complexos modelos matemáticos, prognosticaram o possível colapso da civilização humana em poucas décadas.
As causas evidenciadas como determinantes para que esses cientistas chegassem a tais conclusões foram, principalmente, duas: a insustentável super-exploração humana dos recursos do Planeta e a crescente desigualdade social, justamente as duas mais fortes características do capitalismo, inerentes à “lógica” deste sistema – que é ilógico, baseado na maximização do lucro, na competitividade e na lei do que mais pode materialmente, não no bem-estar, na solidariedade e na igualdade de direitos.

De acordo com o escritor esloveno Slavoj Žižek, o capitalismo só funciona à medida em que se fundamenta na existência de dois grupos sociais, o dos “incluídos” e o dos “excluídos. Se não fosse assim, isto é, se o sistema capitalista fosse benéfico às massas trabalhadoras, tratados como TPP, TISA e TTIP, estágios mais avançados das leis do mercado que submetem toda a sociedade e até recursos naturais como água e ar aos interesses financeiros (a ditadura do mercado), não estariam sendo discutidos secretamente pelos poucos tomadores de decisão internacionais. Porém, conforme dizia George Orwell, “enxergar o que está diante do nosso nariz exige um esforço constante”.

Observou o mensal Tribuna Popular da Venezuela, em dezembro de 2014:

“O Capitalismo é baseado em crescer ou perder, o que significa dizer que se o capital não cresce, a burguesia não acumula. A questão é que o acúmulo do capital é limitado. Assim, a contradição que emana do capitalismo em sua fase imperialista é insolúvel em seu próprio marco. Disto se compreende a lógica depredatória e agressiva do capitalismo.

“Disto se compreende que a lógica depredatória e agressiva deste sistema. E isso não é uma questão de maldade e nem de distúrbio mental de alguns capitalistas, mas a lógica do próprio capital, que na morte e no saqueio dos nossos povos cifra seu acúmulo. Mas, ainda assim, não pode solucionar sua contradição: a contradição que o desenvolve e o coloca em xeque.”

Segundo reportagem do Instituto Humanitas Unisinos de 25 de junho de 2014, em entrevista com o economista francês Gaël Giraud:

“Os mais ricos, independentemente dos países, são os que mais poluem o planeta causando, portanto, a destruição do clima e da biodiversidade, o que resulta em processo de desumanização.

“Aponta Giraud: ‘(…) Na atualidade, uma pequena centena de pessoas no mundo possui riqueza equivalente à metade da humanidade. (…) A miséria afunda os mais pobres num inferno, e a ultra-riqueza isola os mais ricos num gueto separado do resto da humanidade, em pânico de perderem o seu conforto, incapazes de participar de um projeto histórico e político que ultrapasse as dimensões que são próximas da sua vida de luxo. Praticar justiça é uma libertação não somente das vítimas, mas também dos carrascos.'”

O capitalismo é inimigo declarado da felicidade
Jorge Riechmann, no livro ¿Cómo Vivir?
O sistema dominante disfarçado precariamente de democracia – sistema onde prevaleceria o bem-comum independente do poder aquisitivo de cada um – utiliza-se da ditadura do consumismo e das aparências que cria, diariamente nos laboratórios de publicidade e marketing, necessidades fúteis, concorrentes a serem superados ou até mesmo inimigos a serem combatidos a fim de gerar individualismo, anular ideais e senso cidadão de seres acríticos, conformistas, apáticos, compulsivos e dotados de fobias na busca desenfreada por preenchimento interior de acordo com as sutis imposições do marketing sobre sociedades homogêneas nunca satisfeitas, excludentes e intolerantes com as diferenças, mesmo aquelas que, simplesmente, estejam de alguma maneira fora do agressivo estereótipo preponderante.

Com isso tudo, subproduto do consumo alienado e da imposição de valores, as massas acabam facilmente manipuladas pelo sistema político e por sua porta-voz sustentada exatamente pelos “donos” desse sistema, usurpadores do poder: a grande mídia. Os cidadãos que se recusam a viver aprisionados desta maneira devem ser combatidos como ameaça, através dos mais diversos rótulos – ideólogos, rebeldes, baderneiros, subversivos, autoritários, paranoicos, etc.

Já o grande valor do indivíduo dentro desta lógica reside na capacidade de vender produtos (atendimento médico, aula, etc) a clientes (pacientes, alunos, etc) e no lucro que se gera através deles, não no caráter, na bagagem intelectual nem necessariamente na qualidade real dentro daquilo que se propõe a fazer.

Esta realidade permeia todos os segmentos de uma sociedade que rezam a excludente cartilha das leis do capital, onde “quem pode manda, e que tem juízo obedece cegamente”, ou seja, as virtudes e o respeito são divisíveis, absolutamente relativos de acordo com os privilégios e a escassez das respectivas classes sociais. Assim, até a honra e o opróbrio são mercantilizados, tanto quanto a água e o ar que se respira. 

Pois é por obra e graça do sistema capitalista que grandes estúpidos, ao realizar atividades medíocres acabam aplaudidos alegremente pelas multidões pelo alto retorno financeiro, enquanto mentes brilhantes e trabalhos formidáveis podem ser “chutados” por todos os lados se os ganhos forem baixos (o sistema capitalista tende a premiar os medíocres, já que se apoia fundamentalmente neles para sobreviver), ou mesmo se essas mentes simplesmente não aparentarem ter e poder. Neste sistema competitivo por natureza em que vale a cavernosa lei do mais forte, é também preciso parecer ser e parecer ter.

Os defensores desse sistema têm como principal argumento o precário subterfúgio regressivo que afirma que o ser humano e o mundo são “assim mesmo”, ou seja, o homem é egoísta por natureza e vale a lei do mais forte, geralmente tendo como exemplo, para dar um toque de naturalismo e talvez de ingenuidade, o fato de alguns animais se alimentarem de outros: “é a lei da vida”. Alguns “mais religiosos” apontam, “sabiamente” e “cheios de fé”, que Deus quis assim – “do contrário, não seria assim”, palram.

Os “mais religiosos”, por sua vez, marcando o histórico atraso intelectual deste segmento costumam dizer (justo eles, “cheios de fé” que reivindicam ser!) que “essa coisa de mundo solidário e igualitário em que não haja necessidades, é lá para o Céu”, ironicamente esbanjando ceticismo ao mesmo tempo que trazem implícito, neste argumento, o reconhecimento de que o capitalismo é um sistema fracassado já que não prioriza o bem-estar dos habitantes desta terra. Para parte deste setor, que não admite questionamentos (outra desalentadora contradição, característica que também os marca), um sistema baseado nos princípios de igualdade entre os seres humanos e na preservação ambiental seria impositor, mas não: seus impositores de “cabrestos ungidos” sim, é que são impostores.

Já os mais “técnicos” saem-se com ilusões do tipo, “todos têm a chance de se tornar milionários” no sistema capitalista apresentado como “um mundo de possibilidades”, o qual não precisa ser pensado muito profundamente para que seja constatado exatamente o inverso disso: vale e pode (inclusive moralmente) quem tem e, tão importante quanto isso, quem aparenta ter.

Do contrário, não se terá a possibilidade sequer de se mover do bairro de Santo Amaro ao Parque do Ibirapuera em São Paulo – ou se se conseguir chegar lá, ainda que a pé, o pior ainda estará por vir: no maior parque da América Latina, o cidadão comum das classes menos favorecidas ou que aparente certa simplicidade, terá de vencer a agressiva exclusão social, com todo o mal-estar bem conhecido que envolve esse ambiente no que deveria ser um período de lazer; e se for o caso, na tentativa de vender algo como artesanato ou uma série de livros para sobreviver, sofrerá forte repressão policial, apreensão dos produtos além da própria ridicularização societária, apenas para citar alguns exemplos menos dramáticos deste “mundo de possibilidades” em que, “dependendo apenas do esforço, qualquer um pode se tornar milionário”.

Assim, em nome do excesso nas mãos de algumas dúzias de famílias nacionais e do 1% mundial, devemos todos nos conformar com o status quo opressor sobre as miseráveis maiorias, sem nenhuma perspectiva de mudança como se todo ser humano fosse melancólico como eles que inclusive primam, segundo imposição também da ditadura do capital e da informação rendida às “leis do mercado”, pela glorificação dos iguais não admitindo diferenças, questionamentos nem muito menos afirmação e avanço cultural (esta, também negociável no sistema capitalista).

Devido ao “raciocínio” dos aiatolás do capital que apostam na ingenuidade alheia e extravasam a estupidez, povos e culturas milenares têm sido completamente dizimados ao longo da impiedosa história, ditada pelos donos e usurpadores do poder em nome de um suposto progresso financeiro e tecnológico que, à frente do bem comum, trouxe o mundo a este estado caótico onde se multiplicam velozmente fome, doenças facilmente tratáveis, violência, roubalheira indiscriminada, guerras, degradação ambiental, extinção de espécies e, logo, da espécie humana pela própria espécie.

Mesmo um sistema capitalista reformado através do neodesenvolvimentismo, que apregoa a expansão do agronegócio e de projetos energéticos apoiada na intensiva extração/mercantilização dos recursos naturais, tem se mostrado inviável: produção e crescimento econômico contínuos não podem ser sustentados pela natureza; o sistema capitalista e seus burros estão, literalmente, dando n’água que deverá ser o maior motivo de guerras no futuro próximo, certamente bem mais grave à humanidade e ao ecossistema que as corridas pelo ouro europeia e norte-americana, que dizimou covardemente povos americanos originários em nome do “progresso mercantilista” que não traz felicidade genuína, satisfação interior, progresso humano. 

Sem capitalismo, sem a exploração do trabalho assalariado e o homem “cobaia” ou escravo do progresso tecnológico, grandes avanços foram conquistados inclusive pelos índios no campo das ciências, da medicina e da astronomia – é evidente que os livros de História elaborados pelos donos do poder e a publicidade a serviço do capital, não contam nada disso. 


Enfim, as evidências mostram claramente que sem capitalismo o mundo seria bem mais satisfatório hoje, a vida seria plena para quem realmente quisesse vivê-la. Apenas um sistema perverso como este seria capaz de tornar regiões que já foram as mais ricas da América Latina (tais como o Nordeste brasileiro, Potosi na Bolívia e partes de Colômbia, Peru e América Central) exatamente nas mais pobres da região hoje. Em tempos de estágio avançado deste sistema podre, ter e receber o mínimo de dignidade são o mais árduo desafio – para algumas bilhões de pessoas em todo o mundo, missão impossível.

Jesus foi o primeiro socialista: dividiu o pão e o vinho; Judas foi o primeiro capitalista: vendeu Jesus por trinta moedas
Hugo Chávez
Disse o papa Francisco em entrevista ao jornal italiano La Repubblica no dia 11 de novembro de 2016: “São os comunistas que pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. Não os demagogos, mas o povo, os pobres, os que têm fé em Deus ou não, mas são eles a quem temos que ajudar a obter a igualdade e a liberdade”.

Quando fez tal afirmação, o papa certamente não tinha em mente o capitalismo de Estado soviético, imperialista, tirânico, mas a organização social, por exemplo, dos povos originários da região hoje conhecida como América Latina baseada na inclusão e no bem-estar acima de tudo: do indivíduo, da família, da comunidade, dos animais e da terra.

Através do Relatório Rockefeller de 1975 substituiu-se na América Latina a Igreja Católica – parceira já não muito confiável – através da criação e financiamento de seitas evangélicas pela CIA, pelo pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos e ONGs de fachada a fim de combater ideais socialistas na América Latina em defesa do imperialismo norte-americano, exercendo lavagem cerebral e até tráfico de armas por meio de lideres supostamente religiosos, o que pode muito bem explicar “igrejas” multimilionárias e, automaticamente, a própria multiplicação de armamentos em territórios nacionais.

Os autores do relatório, arquitetado e financiado pela Fundação Rockefeller que, historicamente, promove políticas de dominação e exploração global através sobretudo da lavagem cerebral induzindo medo às massas, reclamaram, então, do que denominaram “excesso de democracia” alegando que este sistema só funciona se houver apatia e desinteresse societário. Em outras palavras: o capitalismo apenas se sustenta apoiado na alienação e despolitização dos indivíduos, na retirada de seu senso de cidadania e da noção de sua posição no mundo.

Pois WikiLeaks liberou telegrama secreto revelando que realmente existe uma organização secreta da qual a família Rockefeller é uma das 13 dinastias Illuminati, atuando como governo global nas sombras e estreitamente ligada ao governo dos EUA; o próprio Federal Reserve, banco central norte-americano, pertence a oito famílias-membro dos Illuminati, entre elas os próprios Rockefeller.

Opor-se ao monoteísmo do mercado vai muito além de ideologia: cosmovisão, trata-se de questão de sobrevivência. A felicidade e a vida no planeta dependem de um outro mundo, possível, onde prevaleçam cooperação, valorização às diferenças (sejam elas quais forem, desde que não firam o espaço nem a liberdade do outro) e justiça social.

No caso particular do Brasil, altamente despolitizado [para regozijo dos Rockefeller e também por (ir)responsabilidade dos setores pateticamente autodenominados progressistas], a maior desgraça é que se conseguiu transformar até os pobres em seres reacionários e, rezando fielmente a mesquinha cartilha das classes mais abastadas, sem o menor senso de cidadania. Mas outro Brasil também é possível.

Edu Montesanti


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