Trump e Facismo. Exacerbação da Intolerância Racial e Religiosa Prenuncia Novas Tragédias

Embora não seja nenhuma novidade, intolerância branca e protestante nos Estados Unidos acirrará tensões em um mundo já conturbado

“Se o governo dos Estados Unidos realmente quisesse acabar com o terrorismo, atacaria os terroristas brancos de direita dentro dos Estados Unidos, e imporia um maior controle sobre quem pode obter armas”, Marjorie Cohn, jurista norte-americana entrevistada para esta reportagem.

“O Ocidente gosta de se criar inimigos para justificar suas políticas agressivas. Os muçulmanos são, somente, as últimas vítimas. O establishment norte-americano é um circo, e Trump é o perfeito palhaço”, Catherine Shakdam, analista política do sítio de notícias norte-americano Mint Press, e diretora-adjunta do Beirut Center for Middle Eastern Studies, entrevistada para esta reportagem.

Donald Trump venceu as eleições presidenciais dos Estados Unidos em 8 de novembro do ano passado com 81 por cento dos votos entre os cidadãos brancos-evangélicos. Logo após a divulgação definitiva dos resultados do pleito, era comum observar por todo o território norte-americano cartazes com dizeres relacionando a vitória do candidato republicano à obra e graça de Deus: “Obrigado, Senhor, por Trump”, era, então, a mensagem mais visualizada nas ruas do País ao norte do Rio Bravo. Ao apoio a Trump, incluem-se líderes evangélicos de extrema-direita. Por outro lado, o novo ocupante da Casa Branca tem sido demonizado pela grande mídia local pelo conteúdo dos discursos e pelas medidas tomadas nestes poucos meses desde que assumiu o cargo: tal fato se configura, certamente, uma grande surpresa em se tratando do histórico e dos próprios interesses, bem sabidos, que envolvem o “Pentágono midiático”.

Durante a campanha, na qual defendia a utilização de métodos de tortura, especialmente afogamento simulado para que suspeitos confessem supostas práticas terroristas, e prometia ainda a manutenção ilegal da prisão de Guantánamo em território cubano, Trump foi apoiado também pela liderança da organização terrorista norte-americana Ku Klux Klan, protestante e extremamente reacionária que, há mais de século e meio, prega entre outras coisas a supremacia branca e a anti-imigração prestando-se a assassinar negros e imigrantes em nome da purificação da raça, considerada superior e predestinada por Deus para salvar o planeta. Àquela época constantemente desafiado a se pronunciar sobre o que pensava da Ku Klux Klan, Trump sempre se negou a fazê-lo. Assim, a agressiva “Guerra Santa” norte-americana já começa em casa, e remonta ao século XIX. No que diz respeito à deportação de imigrantes indocumentados, o que muito pouco se diz na mídia internacional é que Barack Obama foi o presidente que mais deportou imigrantes na história dos Estados Unidos: um total de três milhões – e projeto de sua administração era chegar a 11 milhões. Mas nada disso, jamais, perturbou a mídia predominante.

Pois logo que assumiu a Presidência o magnata republicano cumpriu as promessas de campanha em relação aos imigrantes indocumentados e muçulmanos, além de levar adiante a ideia de construir um muro que separe os Estados Unidos do México, com tudo isso superando, na agressividade, até (pasmem) George W. Bush e seu sucessor, o mais belicista da história dos Estados Unidos, exatamente Barack Obama o “Nobel da Paz”. Desta maneira, Trump indica levar às últimas consequências a doutrina religiosa extremista do pastor evangélico William Branham (1909-1965): precisamente que os Estados Unidos libertem a humanidade do “mal” pela espada, isto é, que se valha se necessário até da força para impor os valores estadunidenses ao mundo. O mandatário estadunidense aprovou, em 27 de janeiro, a Ordem Executiva 13769, intitulada Protegendo a Nação da Entrada de Terroristas Estrangeiros aos Estados Unidos, através da qual proibia a entrada de cidadãos muçulmanos oriundos de sete países de maioria islamita: Iêmen, Irã, Iraque, Líbia, Síria, Somália e Sudão por 90 dias. Além disso, suspendia a entrada de refugiados de qualquer local do planeta por 120 dias, e no caso de refugiados sírios, por tempo indeterminado gerando, com isso tudo, fortes e massivos protestos por todos os Estados Unidos.

Logo revogada por juízes federais, ao invés de entrar com recurso que levaria algum tempo para ser julgado, em 6 de março o Poder Executivo norte-americano, profundamente indignado, acabou revisando a nova Lei de Imigração que proíbe a entrada de islamitas dos sete países já mencionados por outra, bastante semelhante que apenas exclui cidadãos iraquianos da lista, e não suspende mais os refugiados sírios por tempo indeterminado, igualando-os aos demais. “Esta ordem é parte de nossos esforços para eliminar as vulnerabilidades”, disse no mesmo dia o secretário de Estado Rex Tillerson, em entrevista coletiva. Procuradas por esta reportagem, as renomadas juristas estadunidenses Azadeh Shahshahani, ativista pelos direitos humanos além de diretora do Projeto de Segurança Nacional/Direitos dos Imigrantes para a renomada organização União Americana de Liberdades Civis (ACLU, na sigla em inglês), e Marjorie Cohn, analista política e autora de diversos livros no campo jurídico, é professora emérita na Thomas Jefferson School of Law, são categóricas ao afirmar que a Ordem Executiva de Trump é inconstitucional, ao fazer uma interpretação da Primeira Emenda constitucional norte-americana. “Essas medidas são inconstitucionais conforme já foi determinado pelos tribunais, incluindo o 9 º Tribunal no Âmbito de Apelações, o qual concluiu que a proibição viola os direitos do devido processo de indivíduos sujeitos à proibição. A proibição. indiscutivelmente, também viola a Cláusula de Estabelecimento (na Primeira Emenda) da Constituição dos Estados Unidos, que sustenta que o governo não pode estabelecer uma religião oficial, nem favorecer uma religião sobre outra”, explica Azadeh. Tal Emenda diz que o Estado norte-americano está impedido de proibir o livre exercício da religião, e que deve haver separação total entre Estado e Igreja.

A administração de Trump tem protestado contra a decisão da Justiça, reclamando fortemente que a Suprema Corte dos Estados Unidos está ferindo o poder presidencial de tomar determinadas decisões, e neste caso específico, é responsável por submeter os cidadãos estadunidenses ao risco de sofrer ataques terroristas dentro de casa, cujas alegações ambas as juristas refutam frontalmente. “O presidente tem o dever de proteger a segurança nacional dos Estados Unidos, mas ele não pode tomar ações ilegais”, afirma Marjorie ao mesmo tempo que observa que Trump desconsidera que há separação de poderes nos Estados Unidos. “O Poder Judiciário tem autonomia para revisar qualquer ação do presidente, para se certificar de que não há violação da Constituição”.Também procurado por Caros Amigos, John Kiriakou, ex-consultor sobre terrorismo da rede de notícias ABC News dos Estados Unidos e ex-agente da CIA que renunciou ao cargo em dezembro de 2007 por negar, pessoalmente, tomar parte nas torturas da CIA contra suspeitos de práticas terroristas, mantido preso por dois anos pelas denúncias de que a administração de Bush era a mandante daquelas práticas, afirma que a Ordem Executiva de Trump não levará mais segurança ao seu país. “Não há terroristas entrando nos Estados Unidos como refugiados”.

Marjorie lembra que não houve, nunca, ataques terroristas nos Estados Unidos por pessoas dos sete países listados. “Excluídos da Ordem Executiva estão Arábia Saudita, Paquistão, Egito, países com os quais Trump, aparentemente, mantém negócios”. A essas observações da jurista vale acrescentar que a Arábia Saudita, berço do extremismo religioso e uma das maiores violadoras dos direitos humanos em todo o mundo, é aliada histórica dos Estados Unidos como é, aliás, o caso dos próprios Emirados Árabes, e que 19 dos 15 supostos sequestradores do 11 de Setembro eram sauditas, enquanto os outros quatro eram egípcios. Além disso, levantamento do FBI que incluiu o período que se estendeu de 1980 a 2005, evidenciou que os islamitas se colocaram entre os últimos praticantes de atos terroristas dentro dos Estados Unidos da lista com 6 por cento, à frente apenas de comunistas (5 por cento), e atrás de, por exemplo, judeus extremistas, com 7%. “Outros” na lista do FBI dos atos de terror no período de tempo pesquisado incluem cidadãos estadunidenses, brancos e protestantes: estes cometeram nada menos que 16 por cento dos crimes à época (o documento Terrorism 2002-2005, pode ser encontrado na Internet). Esses números significam que atos de terror não-muçulmanos em território norte-americano superaram os 90 por cento entre 1980 e 2005, e de lá para cá o cenário não se alterou no que diz respeito aos islamitas, enquanto o terror branco-evangélico, sim, apenas cresceu.

Sobre a deportação de imigrantes indocumentados, Marjorie Cohn comenta indignada: “Os imigrantes cometem menos crimes e utilizam-se de menos benefícios sociais que os cidadãos dos Estados Unidos, e eles contribuem muito para a economia do País. A decisão do governo norte-americano de deportar muito mais imigrantes indocumentados, mesmo que eles não tenham cometido crimes, não se baseia em considerações de segurança nacional. É uma tentativa racista de tornar a América mais branca, e menos diversificada.”. A jurista possui total base no que diz: Steve Rattner, conselheiro de Barack Obama em 2009 para a Força Tarefa da Indústria Automobilística, publicou um estudo em 28 de fevereiro no sítio norte-americano de pesquisas Pew Research, revelando que “enquanto 25 por cento dos nativos de 16 anos de idade estiveram envolvidos em pelo menos um crime no ano passado, entre os recém-chegados o número esteve em cerca de 16 por cento”. E em todas as outras faixas etárias, segundo mostra o gráfico elaborado por Rattner, cidadãos norte-americanos cometem mais crimes que imigrantes.

“Todo mundo nos Estados Unidos, exceto os nativos norte-americanos, vieram ao País como um imigrantes. As leis de imigração dos Estados Unidos preveem asilo e legalização”, lembra Marjorie, afirmando que o novo ocupante da Casa Branca, ao ordenar que seus funcionários deportem mais imigrantes indocumentados ao invés de legalizá-los, está dividindo famílias e mandando embora cidadãos que contribuíram para a sociedade de seu país através de importante trabalho e do pagamento de impostos. “Essa política, aparentemente, vem do estrategista-chefe do presidente Trump, Steve Bannon, quem acredita firmemente na supremacia branca. Se o governo dos Estados Unidos realmente quisesse acabar com o terrorismo, atacaria os terroristas brancos de direita dentro dos Estados Unidos, e imporia um maior controle sobre quem pode obter armas”. Enquanto isso, crescem os ataques brancos e protestantes contra todas as minorias por todos os Estados Unidos. Para Hatem Abudayyeh, cidadão norte-americano filho de palestinos, líder de comunidade árabe em Chicago que, em 2010, foi injustamente tratado como terrorista, perseguido e reprimido pelo FBI, segundo ele pela origem árabe e por sua defesa da Causa Palestina, o motivo dessa escalada da violência racista dentro dos Estados Unidos é uma só: “Enquanto Trump normalizou o racismo contra negros, latinos, árabes, muçulmanos e tantos outros, os supremacistas brancos perpetraram crimes racistas de ódio contra todas essas comunidades”.

A respeito da aprovação aberta de Trump dos métodos de tortura, principalmente o afogamento simulado contra prisioneiros arbitrariamente considerados suspeitos e detidos sem prévia ordem judicial, sempre que os donos do poder de Washington assim sentenciem, Kiriakou garante que são totalmente ineficazes e que a CIA está, simplesmente, parada no tempo. “Nossos métodos de inteligência estão exatamente da mesma maneira”, isto é, baseados no uso excessivo da força, e sem nenhum amparo legal. Frontalmente contrária às práticas de tortura e da manutenção de Guantánamo, Marjorie aponta que Trump, tanto quanto seus dois últimos antecessores na Casa Branca, esquece-se de se amparar em princípios legais: “Afogamento simulado é tortura, e tortura é ilegal segundo a lei dos Estados Unidos e de acordo com a lei internacional. A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, assim como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, proíbe tortura e tratamentos cruéis. A partir do momento que os Estados Unidos ratificaram estes dois tratados, eles fazem parte da lei do País sob a Cláusula de Supremacia da Constituição dos Estados Unidos. O governo norte-americano deve fechar a prisão e devolver Guantánamo ao seu legítimo proprietário, que é Cuba”.

Antes de adotar tais medidas extremistas, desde que fora eleito Trump já gerava profundo entusiasmo nos setores brancos-evangélicos do país ao nominar diversos extremistas cristãos, com discurso e histórico altamente reacionários para os mais importantes cargos de sua administração tais como a secretária de Educação Betsy DeVos, e Ben Carson para a Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano. O juiz ultraconservador Neil Gorsuch, considerado por cristãos conservadores de confiança por discriminar judicialmente a comunidade LGBT em nome da “liberdade religiosa”, foi designado para o Supremo Tribunal. O próprio vice-presidente Mike Pence é um político ultraconservador e neoliberal: como congressista (2001-2013) e governador de Indiana (2013-2017), foi marcado pela intolerância religiosa e pela defesa de projetos econômicos elitistas. Assim, a administração de Trump “está cheia de seguidores de Cristo”, conforme se jubilou Ronnie Floyd, pastor de uma megaigreja batista de Arkansas, ao jornal The Washington Post, ressoando a euforia dos cristãos fundamentalistas por toda a parte dos Estados Unidos hoje.

Hatem Abudayyeh afirma que embora não haja diferença hoje entre democratas e republicanos, Trump apresenta diferenças perigosas – mas as que a elite norte-americana sempre carregou, claramente, dentro de si, aflorando-se nos piores momentos de sua história. “Trump e os outros racistas e supremacistas brancos no seu governo são extremamente perigosos, não só para árabes e muçulmanos, mas também para os imigrantes em geral, negros, trabalhadores, mulheres e todas as outras comunidades marginalizadas e oprimidas nos Estados Unidos”. O líder árabe parafraseia o lema de campanha de Trump, “Fazer a América grande de novo”, dizendo que isso significa “Fazer a América branca de novo”. “Trump está claramente aliciando com o pior racismo na sociedade dos Estados Unidos, colocando os supremacistas brancos declarados em seu governo e atacando imigrantes, negros e trabalhadores com todas as ordens executivas que assina”.

Conforme apontado no início, é de se gerar no mínimo muita curiosidade a acintosa postura midiática contra Trump agora, a mesma que sempre se calou diante do Estado policialesco, do racismo branco-evangélico e da histeria contra imigrantes que fazem parte da história dos Estados Unidos; o mesmo setor da mídia que tem se prestado a alimentar a criminosa “Guerra ao Terror” desde o início, e em demonizar os muçulmanos – incluindo a indústria do cinema – como justificativa para que Washington espalhe mais bases militares pelo mundo, especialmente no Oriente Médio, região mais rica em petróleo do planeta. Catherine Shakdam, analista política do sítio de notícias norte-americano Mint Press, e diretora-adjunta do Beirut Center for Middle Eastern Studies foi ouvida por Caros Amigos, e é contundente ao observar a hipocrisia das “críticas” sistemáticas da mídia norte-americana à nova administração do país. “Ser muçulmano na América não tem sido fácil desde que as Torres Gêmeas ruíram (em 11 de setembro de 2001). Os muçulmanos têm sido demonizados, humilhados, ofendidos e ostracizados pela elite política e por seus muitos instrumentos de eco, através da mídia corporativa”. Para ela, a mídia nunca tolerou Trump e, agora, usa os muçulmanos, uma vez mais, como bola da vez para atingir fins políticos.”Falamos sobre os direitos civis dos muçulmanos estarem no paredão diante de Trump como se as administrações anteriores os protegessem. Esquecemos as muitas e graves violações dos direitos humanos e civis contra cidadãos norte-americanos por conta da sua fé desde o 11 de Setembro? Era culpa do senhor Trump tudo aquilo?”.

Hatem denuncia o mesmo, indicando que a opressão antecede aos atentados do 11 de Setembro, e que ela se dá contra árabes em geral, transformados em potenciais terroristas nos Estados Unidos: “Os árabes nos Estados Unidos enfrentaram a opressão nacional e o racismo por muitas décadas, desde muito antes dos ataques do 11 de Setembro, e agora com Trump, os desafios estão muito mais agudos”. Para ele, que denuncia as constantes intimidações contra árabes em geral ao longo da última década e meia, o 11/9 apenas acirrou uma situação que se estendia há muito. “As políticas pós-11 de setembro de 2001 criminalizaram árabes e muçulmanos de tal forma, que estamos vivendo em constante medo de detenção, deportação, vigilância e repressão geral”. Para ele, a mídia também tem desempenhado papel fundamental nesta estigmatização de árabes, independente da profissão religiosa.

A analista nascida em Londres condena abertamente os ditos e feitos de Trump, mas afirma que ele é subproduto da mesma mídia que alardeia a “democracia” dos Estados Unidos, o sufrágio universal, segundo Catherine, elegeu o mais perfeito “palhaço” dentro de um “circo”, que é o sistema estadunidense. “Eu diria que o establishment, a estrutura do Estado da América tem muito a responder quando se trata de marginalizar os muçulmanos e outras minorias religiosas em relação a esse assunto. Há décadas, os Estados Unidos têm subsistido sobre um Estado de oposição e de rejeição a determinados grupos: comunistas, muçulmanos… Em cada etapa histórica, a América tinha que ter seus demônios para odiar e assustar seu público. Será que o senhor Trump é o novo bicho-papão?”. Para a jornalista londrina, a demonização do Islã pelo regime de Washington está enraizada no sistema capitalista em seu atual estágio, o do neocolonialismo e do neo-imperialismo. “O Ocidente gosta de se criar inimigos para justificar suas políticas agressivas. Os muçulmanos são, somente, as últimas vítimas”.

Diante dos argumentos de Catherine, é importante enfatizar que Donald Trump nada mais é que o seguimento exacerbado de uma “política” que tem sido construída ao longo das décadas nos Estados Unidos, atendendo aos anseios de suas classes dominantes, e da classe média branca e protestante, tudo isso, como já foi dito, sempre alimentado pela grande mídia. Baby Bush assinou a Lei da Cerca Segura (Secure Fence Act), a qual deu início, sem ter chamado a atenção da mídia predominante, à construção – levada adiante por Obama – de uma grande e longa cerca que separa seu país da nação vizinha, ao sul (o qual teve o território anexado em 50 por cento pelos Estados Unidos).

O regime de Obama também foi altamente cruel com imigrantes, não apenas deportando alguns milhões deles sumariamente como também no caso que valeu condenação das Nações Unidas em 2014, quando 57 mil crianças, filhas de imigrantes na maior parte dos casos mexicanos, guatemaltecos, salvadorenhos e hondurenhos (países oprimidos, vítimas do imperialismo e dos golpes à democracia patrocinados pela CIA décadas atrás) encontravam-se “depositadas” em campos de concentração, e de lá deportadas sem direito a um advogado, devendo defender-se a si mesmas diante dos tribunais de “Justiça” dos Estados Unidos – o impiedoso Império considerando como excedente, “produtos descartáveis” de seu sistema excludente por natureza até crianças, sem nenhuma indignação midiática. Parte das crianças enclausuradas naqueles centros de detenção provisórios ingressaram aos Estados Unidos através do tráfico de menores denunciado dentro do país, que envolve inclusive agentes federais locais – mais um crime internacional made in USA completamente ignorado por Washington e por seus porta-vozes da mídia. Além da ONU, diversos organismos por direitos humanos, locais e internacionais protestaram, por muito tempo, contra o autoritário regime de Obama por isso, através de intensa pressão também junto ao Departamento de Justiça do país.

O que explica a fúria midiática contra Trump pode, muito provavelmente, resumir-se em três pontos: as manifestações desde a campanha eleitoral do republicano em manter relações diplomáticas com Moscou, as críticas à elite norte-americana como geradora de desigualdades sociais, e à globalização prometendo desfazer a participação dos Estados Unidos em blocos econômicos profundamente elitistas, tais como o Acordo Trans-Pacífico (TPP, na sigla em inglês), e o Acordo em Comércio de Serviços (TISA, na sigla em inglês).

O multimilionário pastor pentecostal Pat Robertson, famoso lobista da política norte-americana e um dos mais extremistas à direita entre os evangélicos no país, quem inclusive foi acusado de possuir vínculos com o ditador da Libéria Charles Taylor em troca de permissão para explorar uma mina de diamantes no país africano utilizando-se, para isso, de meios destinados à caridade, também saiu à defesa de Trump após os massivos protestos que tomam conta das ruas de todo o país: segundo Robertson, as pessoas que se opõem a Trump estão, na verdade, se revoltando contra Deus. Diante dessa velha apelação patriótica-religiosa, matéria-prima de regimes fascistas e totalitários , Marjorie Cohn lamenta: “Deportar imigrantes e proibir a entrada de muçulmanos em nosso território, enviará um sinal ao mundo de que os Estados Unidos são um país mesquinho, que não valoriza a diversidade”. John Kiriakou concorda, e vai além na contundência: “Temos uma democracia profundamente fracassada”. Parece que a grande mídia de desinformação em massa abriu mão, repentinamente, da velha subserviência incondicional diante de Washington, descobriu estas “grandes novidades” apontadas por Marjorie e Kiriakou apenas agora, e vive, assim, sua Primavera libertária. Será?

Edu Montesanti


Articles by: Edu Montesanti

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