Líbia: Washington está forçando uma Guerra Civil para justificar uma intervenção militar dos EUA e OTAN?

Trípoli está sendo forçada a uma Guerra Civil para justificar uma intervenção militar dos EUA e da OTAN no país rico em petróleo?

As conversas sobre sanções são um prelúdio para uma intervenção como a do Iraque?

Algo está podre no chamado “Jamahiriya” da Líbia

Não há dúvida que o Coronel Muammar Al-Kadafi seja um ditador. Ele tem sido o ditador e assim chamado “Qaid” da Líbia há cerca de 42 anos. Até agora, parece que as tensões estão sendo elevadas e as chamas da revolta tornando a situação mais intensa dentro da Líbia. Por exemplo as declarações anteriores feitas pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros Britânico William Hague que o Coronel Kadafi fugira da Líbia para Venezuela.[1] Esta declaração serviu para eletrificar a revolta contra Kadafi e seu regime na Líbia.

Embora os três tenham a ditadura em comum, Kadafi na Líbia é um pouco diferente de Ben Ali na Tunísia ou Mubarak no Egito. A liderança na Líbia não é completamente servil às vontades dos Estados Unidos e a União Europeia. Diferente dos casos da Tunísia e do Egito, o relacionamento que existe entre Kadafi e ambos, EUA e União Europeia, é um modus vivendi. Simplesmente, Kadafi é um ditador árabe independente e não um “ditador gerenciado” como Ben Ali e Mubarak.

Na Tunísia e no Egito o status quo prevalece, a máquina militar e neoliberalista permanecem intactas; ela trabalha para os interesses dos EUA e União Europeia. Na Líbia, entretanto, perturba a ordem estabelecida pelos propósitos da EUA e União Europeia.

Os Estados Unidos e União Europeia agora buscam tirar proveito da revolta contra Kadafi e sua ditadura com esperanças de construir uma posição muito mais forte na Líbia que anteriormente. Armas também estão sendo levadas para Líbia pelas fronteiras do sul para promover a revolta. A desestabilização da Líbia também teria significantes implicações para o Norte da África, Oeste da África e, as reservas mundiais de energia.

  

Coronel Kadafi em um breve resumo

Ao subir ao poder, Kadafi começou como um capitão líbio entre um grupo de oficiais militares que realizou um golpe de estado. O golpe de 1969 foi contra a jovem monarquia do rei Idris Al-Sanusi. Sob a monarquia, a Líbia era amplamente vista como sendo condescendente para os EUA e os interesses europeus ocidentais.

Embora ele não tenha um estado oficial ou posição no governo, Kadafi tem nutrido e enraizado profundamente uma cultura política de clientelismo, corrupção e privilégio na Líbia desde o golpe de 1969. Adicionado a isso está a cortina de fundo do “culto da personalidade” que ele promove, que também é aplicada na Líbia.

Kadafi têm feito tudo para representar a si como um herói para as massas, especialmente os árabes e africanos. Suas aventuras militares em Chade foram também entrelaçados para deixar sua marca na História e criando um Estado-cliente com o desmembramento de Chade. O chamado “Livro Verde” de Kadafi tem sido vigorosamente retratado e venerado como uma grande façanha no pensamento político e filosófico. Numerosos intelectuais foram forçados ou subornados a elogiá-lo.

No passar dos anos, o Coronel Kadafi tem tentado cultivar uma romântica figura de si como um homem simples do povo. Isso inclui fingir morar em uma tenda. Ele fez tudo para destacar-se. Sua reprovação em relação aos outros ditadores árabes, como o Rei Abdullah da Arabia Saudita, nas reuniões da Liga Árabe fizeram manchetes e foram acolhidas por muitos árabes. Enquanto no estado de visitas ele deliberadamente cercou-se com uma comitiva feminina de guarda costas com a intenção de começar a virar cabeças. Além disso, ele também apresentou a si como um assim chamado líder religioso ou líder dos muçulmanos e homem de Deus, palestrando sobre o Islamismo dentro e fora da Líbia.

Líbia é dirigida por um governo sob as leis de Kadafi. Medo e nepotismo têm sido as chaves para manter a chamada “ordem” na Líbia entre os funcionários e cidadãos. Libaneses e estrangeiros foram mortos e desapareceram durante quatro décadas. O caso de Al-Sadr, Musa do Líbano, fundadora do Movimento Amal, é um dos o mais famosos destes casos e sempre foi um obstáculo para as relações Líbano-Líbia. Kadafi tem tido muito efeito negativo na criação e condicionamento de toda uma hierarquia de funcionários corruptos em Trípoli. Cada um cuida de seus próprios interesses às custas do povo líbio.

Frações e Tensões dentro da hierarquia no Regime de Kadafi

Devido a personalidade do regime de Kadaf em Trípoli há uma série de tensões internas na Líbia e na estrutura do próprio regime. Uma dessas tensões é entre Saif Al-Islam Kadafi e antigo círculo de ministros de seu pai. Os ministros líbios são geralmente divididos entre aqueles que se reúnem em volta de Saif Al-Islam e aqueles que são parte da velha guarda.

Há ainda as tensões entre Kadafi e seus filhos. Em 1999, Mutassim Al-Kadafi tentou demitir seu pai enquanto o Coronel Kadafi estava fora da Líbia. Mutassim Kadafi detém um gabinete como um conselheiro de segurança nacional da Líbia. Ele também é famosamente conhecido entre os líbios por ser um playboy que gasta muito de seu tempo na Europa e no exterior. Há também Khames Kadafi quem dirige sua própria milícia de bandidos, a qual é chamada de Milícia Khames. Ele sempre foi pensando como um possível candidato para sucessão contra seus próprios irmãos.

Sempre houve medo na Líbia sobre a questão da sucessão do Coronel Kadafi. Ao longo dos anos, Kadafi tem removido completamente da Líbia qualquer forma oposição organizada a ele ou impedido qualquer pessoa, fora de sua família, acumular poder suficiente para desafiar sua autoridade.

A questão da lealdade e deserção na Líbia

Incontestavelmente, uma pequena lealdade é sentida por Kadafi e sua família. Tem sido o medo que mantêm os líbios na linha. Ao nível do governo e o exército líbio, mantém seus funcionários pelo medo e o interesse próprio, bons e corruptos da mesma forma, em consonância. A manta do medo está agora sendo desfeita. Afirmações e declarações de denúncias contra o regime de Kadafi estão sendo ouvidos das autoridades, cidades e quartéis militares pela Líbia.

Aref Sharif, chefe da Força Aérea da Líbia, abandonou Kadafi. O ministro do Interior, Abdul Fatah Al-Yunis (Al-Younis), que é de Benghazi e supervisiona um ramo da obra de operações especiais na Líbia, demitiu-se. Dizem que Yunis é o “número dois” de Kadafi ou segundo no comando, mas isto não está certo. Abdullah Sanusi, o chefe da Inteligência Interna da Líbia e parente de Kadafi através do casamento, é o mais perto de ser o “número dois” dentro da estrutura de poder na Líbia.

Têm-se feito notícias sobre dois pilotos líbios que desertaram para Malte e navios de guerra líbios recusando-se a atacar Benghazi. Deserções são como bolas de neve entre exército e o governo. Assim, deve ser feita uma pausa para analisar a situação.

A oposição líbia

Neste ponte, entretanto, deve ser questionado quem é a “oposição” na Líbia. A oposição não é um corpo monolítico. O denominador comum é a oposição à ordem de Kadafi e sua família. Há que ser dito que “ações de oposição ou resistência contra um opressor” e um “movimento de oposição” são também duas coisas diferentes. Para a maior parte, as pessoas comuns e os funcionários corruptos da Líbia, que nutre ódio por Kadafi e sua família, estão agora no mesmo campo, mas são diferentes.

Há uma autêntica forma de oposição, que não é organizada, e uma sistemática forma de oposição, que é ou externa ou liderada por figuras de dentro do regime líbio. A autêntica oposição interna das pessoas na Líbia não é organizada e as “ações da oposição” têm sido espontâneas. Ainda assim, a oposição e a revolta tem sido encorajada e solicitada de fora da Líbia, através de redes sociais, estações internacionais de notícias e eventos no resto do mundo Árabe. [2]

A liderança da oposição interna que está emergindo na Líbia está vindo de dentro do próprio governo. Funcionários corruptos que tem se rebelado contra Kadafi não são os campeões do povo. Esta imagem da oposição não é oposta a tirania; eles são apenas opostos ao comando do Coronel Kadafi e sua família. Aref Sharif e Al-Yunis são eles próprios figuras do regime líbio.

Também tem que ser considerado que alguns oficiais líbios que se viraram contra Kadafi estão fazendo isso para salvarem a si mesmos. Enquanto outros no futuro trabalharão para conservar ou fortalecer suas posições. Abdel Monein Al-Honi, enviado líbio à Liga Árabe no Cairo, pode ser olhado como um exemplo. Al-Honi denunciou Kadafi, mas deve ser observado que ele era um dos membros do grupo de oficiais líbios que executou o golpe de Estado em 1969 com Kadafi, e que, mais tarde, em 1975, ele mesmo tentou tomar o poder em um golpe que falhou. Após o golpe falho, ele iria fugir da Líbia e retornaria somente em 1990 após Kadafi ter perdoado-o.

Al-Honi não é o único diplomata líbio a renunciar. O embaixador líbio para Índia também fez o mesmo. Há uma intenção por parte destes funcionários serem membros da estrutura de poder na Líbia, após a expulsão de Kadafi:

Ali al-Essawi, embaixador líbio para a Índia, disse à BBC que ele estava saindo, opondo-se à violenta repressão do seu governo sobre os manifestantes.

O senhor Al-Essawi foi formado para ser um ministro em Trípoli e poderia ser uma importante figura no governo alternativo, no caso do presidente líbio Muammar Kadafi caísse.

O segundo diplomata líbio a entregar o cargo foi o Representante Permanente da Liga Árabe de Trípoli, Abdel Monein Al-Honi, que disse no Cairo que ele tinha saído de seu emprego para “se juntar à revolução” em seu país.

“Eu apresentei a minha demissão, em protesto contra os atos de repressão e violência contra manifestantes, e eu estou me juntando ao grupo da revolução”, disse Sr. Al-Honi. O segundo secretário Hussein Sadiq al Musrati, anunciou sua demissão da China, em uma entrevista para Al-Jazeera, e chamou o exército a intervir no levante. [3]

Novamente, esses funcionários revoltados, como Al-Yunis e Sharif, estão dentro do regime. Ele não são eles não são simples diplomatas, mas os ex-ministros. Há também a possibilidade que esse tipo de “figuras da oposição” possa ter ou fazer acordos com potências externas

Forças externas em jogo na Líbia

Os governos dos EUA, Britânico, França, Alemanha e Itália todos sabiam muito bem que Kadafi era um tirano, mas isso não impediu nenhum deles a fazer acordos lucrativos com Trípoli. Quando a mídia cobre a violência na Líbia, eles deveriam questionar também, de onde são as armas que estão sendo usadas? A venda de armas que os EUA e a União Europeia tem feito à Líbia deveria ser examinada. Isto é uma parte dos seus programas de promoção da democracia?

Desde a reconciliação entre os EUA e Líbia, as forças militares de ambos os países tem se aproximado. A Líbia e os EUA tem tido transações militares e desde a reconciliação, Trípoli tem sido muito interessada em comprar equipamento militar norte-americano.[4] Em 2009, uma porta-voz do Pentágono, Tenente-Coronel Hibner, afirmou esta relação: “[Os EUA] irão considerar os pedidos de equipamento de defesa que permite [Líbia] a construir áreas que sirvam aos nossos interesses mútuos [ou sincronizar os interesses norte-americanos e líbios].”[5] O qualificador aqui é os interesses dos EUA, o que significa que o Pentágono somente irá armar a Líbia, com base nos interesses dos EUA.

No que parece ter acontecido durante a noite, um novo arsenal inteiro de equipamentos militares dos EUA apareceu na Líbia. Caças F-16 norte-americanos, helicópteros Apache, e veículos terrestres estão sendo usadas dentro da Líbia por Kadafi. [6] Isto é uma revelação chocante, se corroborada. Não há registros públicos sobre alguns desses equipamentos militares norte-americanos no arsenal no exército líbio. Em relação ao F-16, aviões líbios são tradicionalmente franceses Mirages e russos Mig-made.

Silvio Berlusconi e o governo italiano também tem sido fortes apoiadores do regime de Kadafi. Há informação saindo da Líbia que pilotos italianos também estão sendo usados pela Força Área líbia.[7] Mercenários do Chade, Sudão, Níger e Nigéria também estão sendo usados. Isto foi verificado através de um vídeo vindo da Líbia. O regime líbio também está considerando contratar firmas de segurança americanas ou europeias (mercenários). [8]

A política da Al Jazeera

O governo líbio desligou a internet e as linhas telefônicas e uma guerra de informação está em andamento. Apesar de ser uma das redes de notícias mais profissional do mundo, tem de ser advertido de que a Al Jazeera não é um personagem neutro. É subordinada à Emir do Catar e do governo do Catar, o qual também é uma autocracia. Pegando e escolhendo o que noticiar, a cobertura da Al Jazeera da Líbia é tendenciosa. Isto é evidente quando se estuda a cobertura da Al Jazeera do Barein, o qual foi restringido devido às relações políticas entre os líderes de Barein e Catar.

Noticias da Al Jazeera sobre os disparos dos jatos líbios nos protestantes em Trípoli e nas grandes cidades são questionáveis. [9] Anexo, os relatórios que os jatos líbios que foram atacando as pessoas nas ruas não foram verificados. Nenhuma evidência visual dos ataques do jato foi mostrado, enquanto que a confirmação visual sobre outros eventos têm saído da Líbia.

Al Jazeera não está sozinha nestas reportagens tendenciosas da sobre a Líbia. A mídia saudita também está publicando os eventos na Líbia. Asharq Al-Awsat é um dono de jornal saudita que é estritamente alinhado aos interesses dos EUA na região do Oriente Médio-Norte de África. Seu editor-chefe já está publicando editoriais glorificando a Liga Árabe pela sua decisão de suspender a Líbia por causa do uso da força por parte de Trípoli contra manifestantes líbios – porque essas medidas não foram tomadas para o Egito, Tunísia, Barein ou no Iêmen?

O papel dos interesses estrangeiros na Líbia

Kadafi e seus filhos têm governado a Líbia como um Estado privado. Eles tem desperdiçado a riqueza e os recursos naturais. Um dos filho de Kadafi é conhecido por ter pago a cantora norte americana Beyoncé Knowles 1 milhão ou mais de dólares americanos por um show privado. [10] Corporações estrangeiras também têm feito um papel nessa história.

As posições e ações das corporações estrangeiras, dos EUA e da União Europeia em relação à Líbia não podem ser ignoradas.

Questionar o papel dos governos e corporações estrangeiras na Líbia é muito importante. Os governos italianos e norte-americanos deveriam ser questionados sobre o papel que pilotos de nacionalidade italiana e armas norte-americanas recentemente compradas estão fazendo na Líbia.

É muito claro que a democracia somente é usada como um pretexto conveniente contra ditadores e governos que não se curvam e servem os interesses dos EUA e da União Europeia. Tudo o que precisa fazer é apenas olhar para a forma como Mutassim Kadafi foi recebido de braços abertos, em Washington em 21 de abril de 2009 por Hillary Clinton e a administração Obama. Em seu encontro, a Secretária Clinton disse publicamente:

Estou muito agradecida por receber Kadafi no Departamento de Estado. Nos profundamente valorizamos a relação entre Estados Unidos e Líbia. Nos temos muitas oportunidades para aprofundar e ampliar nossa cooperação e estou muito ansiosa para a construção desse relacionamento. Então Sr. Kadafi seja muito bem vido aqui. [11]

O que os Estados Unidos e a União Europeia querem fazer agora é maximizar seus ganhos na Líbia. Uma guerra civil parece ser o que Bruxelas e Washington têm em mente.

 

A balcanização da Líbia e ao impulso à Guerra Civil

O filho de Kadafi, Saif Al-Islam fez declarações na televisão líbia sobre como os Talibãs, organizações baseadas na fé, tomaram controle da Líbia ou pretendem fazê-lo. Nada está perto da verdade. Ele também alertou sobre a destruição e a guerra civil. Isto é parte dos esforços da família de Kadafi para se manter no poder da Líbia, mas um caminho para a guerra civil na Líbia é infundado.

Entre os membros do ranking militar, Mahdi Al-Arab, deputado chefe os militares líbios, disse ter renunciado Kadafi.[12] Al-Arab, entretanto, tem modificado sua posição dizendo que não quer ver a Líbia caminhar à uma guerra civil que permitirá intervenções e tutelas estrangeiras.[13] Isto porque Al-Arab preveniu as pessoas de sua cidade, Zawarah, para juntar-se à revolta e ir para perto de Trípoli.[14]

O caminho para a guerra civil na Líbia é alimentado por dois fatores. Um é a natureza do regime de Kadafi. O outro é um desejo externo para enfraquecer e dividir a Líbia.

Kadafi sempre trabalhou para manter os líbios divididos. Por anos houve medo que os filhos de Kadafi pudessem começar um guerra civil entre eles mesmos ou que algum outro alto escalão de oficiais pudessem tentar por todos os meios tomar o poder uma vez que Kadafi estivesse partido. A guerra civil com base na etnia, regionalismo, tribalismo não é uma grande ameaça. Tribos e regiões podem ser cooptadas ou aliadas, mas as pessoas que podem despertar para uma guerra civil são personagens do regime. As ameaças de guerra civil surgem nas rivalidades entre os funcionários do regime. No entanto, deve ser entendido que essas rivalidades estão deliberadamente sendo incentivadas a dividir a Líbia.

As chamas da revolta estão sendo ventiladas dentro da Líbia. O caos no mundo árabe tem sido visto como benéfico em muitos círculos estratégicos em Washington, Tel Aviv, Londres, e na Sede da OTAN. Se a Líbia cai em um estado de guerra civil ou se torna balcanizado, isso vai beneficiar os EUA e a União Europeia a longo prazo e terá sérias implicações geopolíticas.

Todos os Estados vizinhos no norte da África seriam desestabilizados pelos acontecimentos na Líbia. África Ocidental e África Central também seriam desestabilizadas. As fronteiras tribais correndo na Líbia e Chade se estendem em países como a Nigéria, Argélia e Sudão. O caos na Líbia também teria um efeito significativo sobre a Europa e a energia global. Já os acontecimentos na Líbia estão sendo usados para validar a unidade de controle do Círculo Polar Ártico e seus recursos energéticos[15]

Qual será o fim de Kadafi?

É muito provável que Kadafi não terá uma saída feliz do poder como Ben Ali na Tunísia e Mubarak no Egito. Encontrar refúgio para Kadafi não será fácil. No geral, Kadafi é considerado uma responsabilidade pelos outros governos. Arábia Saudita, que pode ser retratada como um refúgio para os ditadores árabes, muito provavelmente não irá dar refúgio à Kadafi. Líbia e Arábia Saudita têm más relações. Ele também é procurado para a investigação no Líbano. Geralmente, a relação de Kadafi com os líderes dos petrosheiks árabes no Golfo Pérsico é tensa e negativa. Ele não terá refúgio concedido em qualquer lugar do Golfo Pérsico.

No geral, os governos árabes também terão medo de recebê-lo. Em seus esforços para se apresentar como um defensor do povo, ele insultou muitos de seus colegas ditadores árabes. Há algo a ser dito, entretanto, quando as declarações de Kadafi em reuniões da Liga Árabe, ou sobre a Palestina e Iraque são muito mais populares ou sinceras do que o resto dos ditadores árabes.

É altamente improvável que todos os países latino-americanos, europeus, ou ex-União Soviética venham a dar-lhe refúgio. Um país na África sub-Saara é o lugar mais provável onde Kadafi podia buscar refúgio.

Suas opções são limitadas e ele está determinado a se manter no poder. A guerra civil parece estar se aproximando no horizonte. É altamente improvável que ele deixará pacificamente a Líbia e os EUA e seus aliados não têm dúvida desse cenário. Em 23 e 24 de fevereiro de 2010, ele se reuniu com os líderes das três maiores tribos da Líbia (Werfala, Tarhouna e Wershfana), para garantir o seu apoio. [16] Sua própria tribo, Kadafa é apoiadora e parece que o Madarha e tribos Awlad Slieman também estão apoiando ele. [17]

As ameaças de intervenção da OTAN e dos EUA e da União Europeia. O controle sobre a Líbia

A Líbia tem estado na mira do Pentágono por anos. De acordo com Wesley Clark, general aposentado que era o comandante militar supremo da OTAN, a Líbia estava na lista das nações do Pentágono a ser invadida após o Afeganistão controlado pelo Talibã. A lista incluía o Iraque, Somália, Sudão, Líbano, Síria, e Irã por último. Nas palavras do próprio Clark:

Então eu voltei a vê-lo [um oficial militar de alta patente no Pentágono] poucas semanas depois, e por esse tempo fomos bombardeando no Afeganistão. Eu disse: “Nós ainda estamos indo para a guerra com o Iraque?” E ele disse: “Ah, é pior do que isso.” Ele estendeu a mão sobre a mesa. Ele pegou um pedaço de papel. E disse: “Eu só recebi essa lá de cima” – ou seja, o secretário do gabinete da Defesa – “. hoje” E ele disse: “Este é um memorando que descreve como vamos tomar sete países em cinco anos, começando com o Iraque, e depois a Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e, finalizando, o Irã.” [18]

De uma forma ou de outra todas as nações na lista acima tem sido atacadas direta ou indiretamente, e todos eles, exceto a Síria e o Irã, têm sucumbido para os EUA e seus aliados. Novamente, as únicas exceções são Irã e seu aliado, a Síria. No Líbano, os EUA tiveram ganhos parciais, mas agora está recuando com o declínio de Hariri Aliança 14 de Março.

A Líbia iniciou negociações secretas com os EUA em 2001, que se materializaram em uma aproximação formal após a queda de Bagdá pelas tropas britânicas e americanas em 2003. No entanto, os EUA e seus aliados sempre quiseram expandir sua influência sobre o setor de energia da Líbia e à riqueza da Líbia apropriadamente. Uma guerra civil fornece a melhor cobertura para isso.

Líbios devem estar cientes do pretexto da intervenção humanitária

O povo líbio deve ser sua própria guarda. É claro que os EUA e a União Europeia estão apoiando ambos os lados. Os EUA e União Europeia não são aliados do povo do mundo árabe. Sob esse aspecto, os EUA auxiliam Kadafi através de equipamentos militares, enquanto também auxiliam a “oposição”. Se os chamados governos ocidentais forem sérios quanto à democracia, eles poderiam ter cortado seus laços comerciais com a Líbia, em particular no setor de energia, antes de 2011.

Ambos, Washington e o poder em Bruxelas, poderiam cooptar forças da oposição. Eles têm auxiliado Kadafi, mas eles não têm controle sobre eles ou seu regime como controlavam Ben Ali na Tunísia e Mubarak no Egito. Líbia é uma história muito diferente. Os objetivos de Washington e Bruxelas será o de reforçar seu controle sobre a Líbia, quer através da mudança de regime ou a guerra civil.

“Ações da oposição a Kadafi” são fortes, mas não há um forte “movimento de oposição” organizado. Os dois são diferentes. Também não é a democracia garantida, devido à natureza da coalizão contra Kadafi, que inclui funcionários do regime corrupto.

Fala-se agora sobre uma “intervenção humanitária ” na Líbia, semelhante a na Jugoslávia e no Iraque. Uma “zona e exclusão aérea” sobre a Líbia foi mencionada, como a intervenção militar da OTAN. O objetivo por trás de tais afirmações não são humanitárias, mas se destinam a justificar a interferência estrangeira, o que poderia levar a uma invasão. Caso isso se concretizar, a Líbia se tornará um país ocupado. Seus recursos seriam saqueados e os seus espólios privatizados e controlados por corporações estrangeiras, como no Iraque.

Hoje, na Líbia e no mundo árabe os fantasmas de Omar Mukhtar e Saladino ainda estão muito vivos e ativos. Livrar-se de Kadafi e seus filhos não é a solução. Todo o sistema corrupto de governo da Líbia e da cultura da corrupção política deve ser desmantelado. Ao mesmo tempo, entretanto, a interferência estrangeira ou dominação também não deve ser permitida a enraizar-se na Líbia. Se o povo líbio está mobilizado e firme, eles podem lutar contra tais esquemas.

Mahdi Darius Nazemroaya especializado no Oriente Médio e Ásia Central. Ele é pesquisador associado do Centro de Investigação sobre a Globalização.
Traduzido para Diário Liberdade por Pamela Penha
O original encontra-se em: Libya: Is Washington Pushing for Civil War to Justify a US-NATO Military Intervention?

 
NOTAS

[1] “UK Hague: some information that Qaddafi on way to Venezuela,” Reuters, 21 de Fevereiro de 2011.
[2] Um deles é levado de volta pela proliferação de pré-golpe de 1969 bandeiras líbias. Onde é que todas essas bandeiras vem?
[3] “3 Libyan Diplomats resign,” The Hindu. 22 de Fevereiro de 2011.
[4] James Wolf, “U.S. eyes arms sales to Libya,” Reuters. 6 de Março de 2009.
[5]Ibid.
[6] Informações de fontes na Líbia, não confirmado ainda.
[7]Ibid.
[8]Ibid.
[9]Ibid.; Eu recebi duas explicações para isso. A primeira explicação é que agentes do governo da Líbia foram divulgando informações errôneas a Al Jazeera. Isso inclui relatórios feitos à Al Jazeera que os jatos estão atacando civis nas ruas. Kadafi tem usado isso para tentar desacreditar o Al Jazeera internamente na Líbia, apontando para o povo líbio que nenhum ataque do jato ocorreu e que a Al Jazeera está transmitindo informações erradas. A segunda explicação é que a Al Jazeera está simplesmente espalhando informações erradas. Seja qual for o caso, ambas as explicações não concordam que jatos líbios atacaram manifestantes ainda.
[10] Marine Hyde, “Beyoncé and the $2m gig for Colonel Gaddafi’s son,” The Guardian (Reino Unido). 8 de janeiro de 2010; foi para Mutassim e não Hannibal Kadafi que o concerto de música era (o artigo está errado). O artigo não é autorizado e tem sido citado para ilustrar que esses tipos de aventuras são ainda vagamente conhecido pela imprensa da Grã-Bretanha e da Europa Ocidental.
[11] Departamento de Estado dos EUA, “Remarks With Libyan National Security Adviser Dr. Mutassim Qadhafi Before Their Meeting”. 21 de abril de 2009.
[12] Informações de fontes na Líbia, não confirmado ainda.
[13] Ibid.
[14] Ibid.
[15] David Ljunggren, “Libya turmoil puts focus on Arctic oil: Greenland,” ed. Robert Wilson, Reuters, 23 de Fevereiro de 2011.
[16] Informações de fontes na Líbia, não confirmado ainda. Foi-me dito que Kadafi prometeu reforma à tribos e que ele iria fazê-la em cerca de um ano. Também fui informado que ele afirmou que nenhum de seus filhos passariam a controlar a Líbia quer.
[17] Ibid.
[18] General (aposentado) Wesley Clark, “92 Street Y Exclusive Live Interview,” entrevistado por Amy Goodman, Democracy Now, 2 de Março de 2007.


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About the author:

An award-winning author and geopolitical analyst, Mahdi Darius Nazemroaya is the author of The Globalization of NATO (Clarity Press) and a forthcoming book The War on Libya and the Re-Colonization of Africa. He has also contributed to several other books ranging from cultural critique to international relations. He is a Sociologist and Research Associate at the Centre for Research on Globalization (CRG), a contributor at the Strategic Culture Foundation (SCF), Moscow, and a member of the Scientific Committee of Geopolitica, Italy.

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