Excerto: O coma egípcio doerá no império norte-americano

Apesar do que a imprensa-empresa ocidental diz, repete e ‘comenta’, a Fraternidade Muçulmana jamais esteve em pleno comando do Egito ou do governo egípcio.  Teve sempre de dividir o poder com segmentos do velho regime e com “homens de Washington e de Telavive”.  Atores chaves do velho regime foram mantidos em seus cargos, em diferentes setores do governo e corpos da administração.  Até no gabinete do presidente Morsi havia gente do velho regime.  As discussões sobre a lei da Xaria foram predominantemente manipuladas pelos inimigos da Fraternidade Muçulmana, sobretudo para consumo fora do país, para países predominantemente não muçulmanos e para mobilizar contra Morsi os cristãos egípcios e as correntes socialistas locais.

Quanto aos problemas econômicos que o Egito enfrentava, há muito tempo são resultado combinado de vários fatores: o legado do velho regime, a ganância das elites egípcias e dos militares de mais alto escalão, a crise global eo capitalismo predatório que EUA e União Europeia assestaram contra o Egito.  Os que culparam Morsi pelos problemas econômicos do Egito e pelo desemprego fizeram-no ou por erro de análise ou por oportunismo e má fé.  A incompetência de seu governo evidentemente não ajudou a superar as dificuldades, mas com certeza não as criou.  Morsi tentava dirigir um navio que naufragava, depois de ter sido devastado economicamente em 2011 por estados estrangeiros e por financistas, agiotas, especuladores, investidores e empresas estrangeiros e locais.

Houve inegável esforço para sabotar o governo da Fraternidade Muçulmana – o que evidentemente não explica nem justifica a incompetência ea corrupção dos Irmãos.  O esforço para adquirir respeitabilidade internacional mostrando-se em eventos como a Clinton Global Initiative, hóspede da Clinton Foundation, só apressou seu declínio.  A hesitação para restaurar laços diplomáticos com o Irã; o antagonismo contra a Síria, o Hezbollah e seus aliados palestinos só fizeram encurtar cada dia mais a lista de amigos e apoiadores.

A Fraternidade Muçulmana deixou-se usar, praticamente sem qualquer resistência, por EUA, Israel, Arábia Saudita e Qatar, na operação para pacificar o Hamás, na tentativa de separar os palestinos de Gaza eo Bloco da Resistência.

A Fraternidade Muçulmana manteve o sítio contra Gaza e continuou a destruir os túneis usados para abastecer os palestinos com alguns itens de primeira necessidade.  Talvez os Irmãos tivessem medo.  Talvez tivessem pouco a dizer nessas questões.  Mas o fato é que os Irmãos mantiveram as condições pelas quais os militares e os aparelhos de segurança e de inteligência do Egito puderam continuar a colaborar com Israel.  Durante o governo da Fraternidade Muçulmana, grande número de palestinos desapareciam no Egito, para reaparecerem em prisões israelenses.  O governo de Morsi ‘esqueceu’ a anistia que havia dado a apoiadores da Jamahiriya líbia que buscaram refúgio no Egito.

Os EUA e Israel sempre quiseram que o Egito se consumisse olhando sempre para dentro, mantido em estado de patética paralisia.  Washington sempre tentou manter o Egito como estado dependente, que sem a ajuda dos EUA racharia aos pedaços, política e economicamente.  Por isso os EUA deixaram degenerar a situação no Egito, como meio de neutralizar qualquer resistência, mantendo os egípcios divididos e exauridos.  Agora porém, o golpe contra Morsi começará a assustar os EUA, como uma assombração.

Washington sentirá profundamente as repercussões do que aconteceu no Egito.  A derrubada de Morsi envia mensagem muito negativa a todos os aliados dos EUA.  Todos, no mundo árabe – corruptos e semicorruptos – estão hoje mais conscientes do que nunca de que nenhuma aliança com Washington ou Telavive jamais significará proteção eterna.  Diferente disso, começam a dar-se contar de que os que se saem melhor hoje são os que se aliaram aos iranianos e aos russos.

Império incapaz de garantir a segurança de seus sátrapas é império que, mais dia menos dia, perderá muitos dos próprios clientes e aliados, que lhe dão as costas, ou o traem.  Assim como está fracassando o projeto de mudança de regime que os EUA conceberam para a Síria, assim também o ‘turno’ norte-americano no Oriente Médio aproxima-se do epílogo.

Os que apostaram no sucesso de Washington – os reis sauditas, a Fraternidade Muçulmana, o primeiro-ministro turco Recep Erdogan – em breve descobrirão que deixaram-se prender no lado perdedor da equação regional do Oriente Médio…

 

 

Publicado em 6/7/2013, Mahdi Darius Nazemroaya, Strategic Culture Foundation (Moscou, Rússia).


About the author:

An award-winning author and geopolitical analyst, Mahdi Darius Nazemroaya is the author of The Globalization of NATO (Clarity Press) and a forthcoming book The War on Libya and the Re-Colonization of Africa. He has also contributed to several other books ranging from cultural critique to international relations. He is a Sociologist and Research Associate at the Centre for Research on Globalization (CRG), a contributor at the Strategic Culture Foundation (SCF), Moscow, and a member of the Scientific Committee of Geopolitica, Italy.

Disclaimer: The contents of this article are of sole responsibility of the author(s). The Centre for Research on Globalization will not be responsible for any inaccurate or incorrect statement in this article. The Centre of Research on Globalization grants permission to cross-post Global Research articles on community internet sites as long the source and copyright are acknowledged together with a hyperlink to the original Global Research article. For publication of Global Research articles in print or other forms including commercial internet sites, contact: [email protected]

www.globalresearch.ca contains copyrighted material the use of which has not always been specifically authorized by the copyright owner. We are making such material available to our readers under the provisions of "fair use" in an effort to advance a better understanding of political, economic and social issues. The material on this site is distributed without profit to those who have expressed a prior interest in receiving it for research and educational purposes. If you wish to use copyrighted material for purposes other than "fair use" you must request permission from the copyright owner.

For media inquiries: [email protected]