A guerra dos EUA-NATO contra a Síria: Forças navais do ocidente frente às da Rússia ao largo da Síria

“Quando voltei ao Pentágono em Novembro de 2001, um dos oficiais superiores do staff teve tempo para uma conversa. Sim, ainda estamos a caminho de ir contra o Iraque, disse ele. Mas havia mais. Isto estava a ser discutido como parte de um plano de campanha de cinco anos, disse ele, e havia um total de sete países, a começar pelo Iraque, a seguir a Síria, Líbano, Líbia, Irão, Somália e Sudão”.
Wesley Clark, antigo comandante-geral da NATO

“Deixe-me dizer aos soldados e oficiais que ainda apoiam o regime sírio – o povo sírio recordará as escolhas que fizerem nos próximos dias…”
Secretária de Estado Hillary Clinton, conferência Friends of Syria, em Paris, 07/Julho/2012

Enquanto a confrontação entre a Rússia e o Ocidente estava, até recentemente, confinada ao âmbito polido da diplomacia internacional, dentro do recinto do Conselho de Segurança da ONU, agora uma situação incerta e perigosa está a desdobrar-se no Mediterrâneo Oriental.

Forças aliadas incluindo operativos de inteligência e forças especiais reforçaram a sua presença sobre o terreno na Síria a seguir ao impasse da ONU. Enquanto isso, coincidindo com o beco sem saída no Conselho de Segurança da ONU, Moscovo despachou para o Mediterrâneo uma frota de dez navios de guerra russos e navios de escolta comandados pelo destróier anti-submarino Almirante Chabanenko. A frota russa está actualmente estacionada ao largo da costa Sul da Síria.

Em Agosto do ano passado, o vice-primeiro-ministro da Rússia, Dmitry Rogozin, advertiu que “a NATO está a planear uma campanha militar contra a Síria para ajudar a derrubar o regime do presidente Bashar al-Assad com um objectivo de longo alcance de preparar uma cabeça de ponte para um ataque ao Irão…” Em relação à actual deslocação naval, o chefe da Armada da Rússia, vice-almirante Viktor Chirkov, confirmou, entretanto, que se bem que a frota [russa] esteja a transportar fuzileiros navais, os navios de guerra “não seriam envolvidos em Tarefas na Síria”. “Os navios executarão manobras militares planeadas”, disse o ministro russo da Defesa.

A aliança EUA-NATO retaliou à iniciativa naval da Rússia, com uma deslocação naval muito maior, uma formidável armada ocidental consistente de navios de guerra britânicos, franceses e americanos, previstos para serem ali instalados neste Verão no Mediterrâneo Oriental, levando a uma potencial “confrontação estilo Guerra Fria” entre a Rússia e forças navais ocidentais.

Enquanto isso, planeadores militares dos EUA-NATO anunciaram que várias “opções militares” e “cenários de intervenção” estão a ser contemplados na sequência do veto russo-chinês no Conselho de Segurança da ONU.

O planeado posicionamento naval é coordenado com operações aliadas no terreno em apoio ao “Exército Sírio Livre” (ESL) patrocinado pelos EUA-NATO. Quanto a isto, os EUA-NATO aceleraram o recrutamento de combatentes estrangeiros treinados na Turquia, Iraque, Arábia Saudita e Qatar.

Navio russo.
(Navios de guerra russos entram no Mediterrâneo, rumo à Síria, timesofmalta.com, 24/Julho/2012)

Navio russo atracado em Tartus.

A França e a Grã-Bretanha participarão este Verão em jogos de guerra com o nome de código Exercise Cougar 12 [2012]. Os jogos serão efectuados no Mediterrâneo Oriental como parte de um “Response Force Task Group” franco-britânico envolvendo o HMS Bulwark britânico e o grupo de batalha do porta-aviões Charles De Gaulle da França. O centro deste exercício naval serão operações anfíbias envolvendo a colocação em terra firme de tropas no “território inimigo” (simulada).

HMS Bulwark

Charles de Gaulle

Cortina de fumo: A proposta evacuação de cidadãos ocidentais “Utilizando uma humanitária frota naval de armas de destruição em massa”

Pouco mencionado pelos media de referência, os navios de guerra envolvidos no exercício naval Cougar 12 também participarão na planeada evacuação de “cidadãos britânicos do Médio Oriente, caso o conflito em curso na Síria extravase fronteiras para os vizinhos do Líbano e da Jordânia”.

Os britânicos provavelmente enviariam o HMS Illustrious, um porta-helicópteros, juntamente com o HMS Bulwark, um navio anfíbio, bem como um destróier avançado para providenciar defesa à força-tarefa. Estarão a bordo várias centenas de comandos da Royal Marine, bem como um complemento de helicópteros de ataque AH-64 (os mesmos utilizados na Líbia no ano passado). Espera-se que se lhe junte uma frota de navios franceses, incluindo o porta-aviões Charles De Gaulle, transportando um complemento de caças Rafale.

Espera-se que aquelas forças permaneçam ao longo e possam escoltar navios civis especialmente fretados destinados a recolher cidadãos estrangeiros a fugirem da Síria e países em torno. (ibtimes.com, 24/Julho/2012).

Fontes no Ministério da Defesa britânico, se bem que confirmando o “mandato humanitário” da Royal Navy no planeado programa de evacuação, negaram categoricamente “qualquer intenção quanto a um papel de combate para forças britânicos [contra a Síria]”.

O plano de evacuação utilizando o mais avançado material militar, incluindo o HMS Bulwark e o porta-aviões Charles de Gaulle, é uma cortina de fumo óbvia. A agenda militar não tão escondida é ameaça militar e intimidação contra uma nação soberana localizada no berço histórico da civilização, a Mesopotâmia”:

“Só o Charles De Gaulle é porta-aviões nuclear com todo um esquadrão de jactos mais avançados do que qualquer coisa que os sírios tenham – é especulação de incitamento [dizer] que aquelas forças pudessem ficar envolvidas numa operação da NATO contra forças sírias leais a Bashar al-Assad…

O HMS Illustrious, que está actualmente ancorado no Tamisa, no centro de Londres, provavelmente será enviado para a região no fim das Olimpíadas”. (Ibid)

Este deslocamento impressionante de poder naval franco-britânico poderia também incluir o porta-aviões USS John C.Stennis, o qual está para ser enviado de volta ao Médio Oriente:

[Em 16/Julho/2012], o Pentágono também confirmou que iria reposicionar o USS John C. Stennis, um porta-aviões nuclear capaz de transportar 90 aviões, para o Médio Oriente… O Stennis estaria a chegar na região com um cruzador avançado de lançamento de mísseis, … Já é esperado que o porta-aviões USS Eisenhower esteja no Médio Oriente naquele momento (dois porta-aviões actualmente na região estão para ser aliviados e enviados de volta para os EUA).

Em meio a situações imprevisíveis tanto na Síria como no Irão, que teriam deixado forças estado-unidenses tensas e excessivamente sobrecarregadas se fosse necessária uma firme resposta militar em qualquer circunstância. (Ibid, ênfase acrescentada)

Porta-aviões USS Stennis e Illustrious.

O grupo de ataque USS Stennis está para ser enviado de volta ao Médio Oriente “numa data não especificada no fim do Verão” para ser posicionado na área de responsabilidade do Comando Central:

“O Departamento da Defesa disse que o deslocamento anterior viera de um pedido feito pelo general do Marine Corps James N. Mattis, o comandante do Comando Central (a autoridade militar dos EUA que cobre o Médio Oriente), parcialmente devido à preocupação de que haveria um curto período em que apenas um porta-voz estaria localizado na região”. (Strike group headed to Central Command early – Stripes Central – Stripes, July 16, 2012)

O Gen. Marine James Mattis, comandante do U.S. Central Command, “pediu para avançar o posicionamento do grupo de combate com base num “conjunto de factores” e o secretário da Defesa Leon Panetta aprovou-o”… (ibid)

Um porta-voz do Pentágono declarou que a mudança de posicionamento do grupo de ataque USS Stennis fazia parte de “um vasto conjunto de interesses de segurança dos EUA na região”. “Estamos sempre atentos aos desafios colocados pelo Irão. Deixe-me ser muito claro: Esta não é uma decisão baseada unicamente nos desafios colocados pelo Irão, …”Não é acerca de qualquer país particular ou uma ameaça particular”, dando a entender que a Síria também fazia parte do posicionamento planeado. (Ibid, ênfase acrescentada)

“Cenários de intervenção”

Este maciço posicionamento de poder naval é um acto de coerção tendo em vista aterrorizar o povo sírio. A ameaça de intervenção militar tem em vista desestabilizar a Síria como estado nação bem como confrontar e enfraquecer o papel da Rússia na intermediação da crise síria.

O jogo diplomático da ONU está num impasse. O Conselho de Segurança da ONU está morto. A transição é em direcção à “Diplomacia guerreira” do século XXI.

Se bem que uma operação militar aliada total dirigida contra a Síria não esteja “oficialmente” contemplada, planeadores militares estão actualmente envolvidos na preparação de vários “cenários de intervenção”.

Líderes políticos ocidentais podem não ter apetite por intervenção mais profunda. Mas como a história tem mostrado, nós nem sempre escolhemos que guerras combater – por vezes as guerras escolhem-nos. Planeadores militares tem a responsabilidade de preparar para opções de intervenção na Síria para os seus mestres políticos caso este conflito seja escolhido. A preparação estará a ser efectuada em várias capitais ocidentais e sobre o terreno na Síria e na Turquia. Até o ponto do colapso de Assad, é mais provável que vejamos uma continuação ou intensificação das opções abaixo do radar de apoio financeiro, armamento e aconselhamento dos rebeldes, operações clandestinas e talvez guerra cibernética a partir do Ocidente. Após algum colapso, entretanto, as opções militares serão vistas a uma luz diferente. ( Daily Mail, 24/Julho/2012, ênfase acrescentada)

Observações conclusivas

O mundo está numa encruzilhada perigosa.

A configuração deste planeado posicionamento naval no Mediterrâneo Oriental com navios de guerra dos EUA-NATO contíguo àqueles da Rússia é sem precedentes na história recente.

A história conta-nos que guerras são muitas vezes desencadeadas inesperadamente devido a “erros políticos” e erro humano. Os segundos são os mais prováveis dentro no âmbito de um sistema político desagregados e corrupto nos EUA e na Europa Ocidental.

O planeamento militar EUA-NATO é supervisionado por uma hierarquia militar centralizada. Operações de Comando e Controle são em teoria “coordenadas” mas na prática muitas vezes elas são marcadas pelo erro humano. Operativos de inteligência muitas vezes funcionam independentemente e fora do âmbito da responsabilidade política.

Planeadores militares são agudamente conscientes dos perigos de escalada. A Síria tem capacidades de defesa aérea significativas bem como forças terrestres. A Síria tem estado a instalar seu sistema de defesa aérea com a recepção dos mísseis russos Pantsir S1 . Qualquer forma de intervenção militar directa dos EUA-NATO contra a Síria desestabilizaria toda a região, levando potencialmente à escalada numa vasta área geográfica, que se estende desde o Mediterrâneo Oriental até a fronteira do Afeganistão-Paquistão com o Tadjiquistão e China.

O planeamento militar envolve cenários intricados e jogos de guerra por ambos os lados incluindo opções militares relativas a sistema de armas avançados. Um cenário Terceira Guerra Mundial tem sido contemplado pelos planeadores militares EUA-NATO-Israel desde o princípio de 2000.

A escalada é uma parte integral da agenda militar. Preparativos de guerra para atacar a Síria e o Irão têm estado num “estado avançado de prontidão” durante vários anos.

Estamos a tratar com complexas tomadas de decisão políticas e estratégicas que envolvem a acção recíproca de poderosos grupos de interesses económicos, as acções de operativos de inteligência.

O papel da propaganda de guerra é fundamental não só para moldar a opinião pública, levando-a a aceitar a agenda de guerra, como também para estabelecer um consenso dentro dos escalões superiores do processo de tomada de decisão. Uma forma selectiva de propaganda de guerra destinada a “Top Officials” (TOPOFF) em agências do governo, inteligência, militares, aplicadores da lei, etc destina-se a criar um consenso firme em favor da Guerra e do Estado Policial.

Para o projecto guerra ir em frente é essencial que tanto os planeadores políticos como os militares estejam legitimamente comprometidos em conduzir a guerra “em nome da justiça e da democracia”. Para que isto se verifique, eles devem acreditar firmemente na sua própria propaganda, nomeadamente em que a guerra é “um instrumento de paz e democracia”.

Eles não têm preocupação para com os impactos devastadores de sistemas de armas avançados, rotineiramente classificados como “danos colaterais”, muito menos o significado e significância de guerra antecipativa (pre-emptive), utilizando armas nucleares.

As guerras são invariavelmente decididas por líderes civis e grupos de interesse e não pelos militares. A guerra serve interesses económicos dominantes os quais operam a partir dos bastidores, por trás de portas fechadas em salas de reunião corporativas, nos think tanks de Washington, etc.

As realidades são invertidas. Guerra é paz. A Mentira torna-se a Verdade.

A propaganda de guerra, nomeadamente as mentiras dos media, constituem o mais poderoso instrumento guerreiro.

Sem a desinformação dos media, a agenda guerreira conduzida pelos EUA-NATO entraria em colapso como um castelo de cartas. A legitimidade dos criminosos de guerra em altos postos seria rompida.

Portanto é essencial desarmar não só os media de referência como também um segmento dos media alternativos auto proclamados como “progressistas”, os quais têm proporcionado legitimidade para a obrigação da “Responsabilidade de proteger” (“Responsibility to protect, R2P) da NATO, em grande medida tendo em vista desmantelar o movimento anti-guerra.

A estrada para Teerão passa por Damasco. Uma guerra ao Irão patrocinada pelos EUA-NATO envolveria, como primeiro passo, a desestabilização da Síria como uma nação-estado. O planeamento militar relativo à Síria é uma parte integral da agenda de guerra ao Irão.

Uma guerra contra a Síria poderia evoluir na direcção de uma campanha militar EUA-NATO contra o Irão, na qual a Turquia e Israel estariam envolvidas directamente.

É crucial difundir esta notícia e romper os canais de desinformação dos media.

Um entendimento crítico e não enviesado do que está a acontecer na Síria é de importância crucial na reversão da maré de escalada militar rumo a uma guerra regional mais vasta.

Nosso objectivo em última análise é desmantelar o arsenal militar EUA-NATO-israelense e restaurar a Paz Mundial.

É essencial que o povo no Reino Unido, na França e nos Estados Unidos impeça o próximo posicionamento naval de ADM no Mediterrâneo Oriental.

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26/Julho/2012

Do mesmo autor:

  • SYRIA: NATO’s Next “Humanitarian” War?

  • “A opção salvadorenha para a Síria”

  • Uma “guerra humanitária” à Síria? Escalada militar. Rumo a uma guerra mais vasta no Médio Oriente-Ásia Central?

    O original encontra-se em http://www.globalresearch.ca/index.php?context=va&aid=32079

    Este artigo foi traduzido em português por http://resistir.info/


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    Michel Chossudovsky is an award-winning author, Professor of Economics (emeritus) at the University of Ottawa, Founder and Director of the Centre for Research on Globalization (CRG), Montreal, Editor of Global Research. He has taught as visiting professor in Western Europe, Southeast Asia, the Pacific and Latin America. He has served as economic adviser to governments of developing countries and has acted as a consultant for several international organizations. He is the author of 13 books. He is a contributor to the Encyclopaedia Britannica. His writings have been published in more than twenty languages. In 2014, he was awarded the Gold Medal for Merit of the Republic of Serbia for his writings on NATO's war of aggression against Yugoslavia. He can be reached at [email protected]

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