A Fragilidade do Mito Reacionário de “Doutrinação” Progressista

O discurso cada vez mais difundido – e agressivo – de que progressistas o são por terem sido “doutrinados” é insustentável por motivos bastante simples, tão simples quanto a baixa estatura intelectual dos setores reacionários, particularmente no Brasil (não que nossa “esquerda” seja uma grande coisa, dona de grandes engenharias intelectuais e morais: pelo contrário).

Sem entrar no mérito da questão progressista, ou mais precisamente da visão de políticas focadas na inclusão social, a primeira grande imbecilidade do mencionado discurso reside no óbvio fato de que elas vão na mais absoluta contramão da “visão” predominante, no Brasil e em praticamente todo o mundo ocidental, contaminado pela grande mídia de idiotização das massas.

O discurso corrente trata de alegar uma tal “liberdade” através do modelo de diminuição do Estado em favor do livre-mercado, a ditadura do capital, e de ridicularizar e até agredir opiniões divergentes.

Portanto, andar em sentido contrário já evidencia, por si só, conscientização e não um cérebro lavado: geralmente, e justamente pela mídia e materiais didáticos predominantes (estes últimos também, nenhuma novidade, elaborado pelas oligarquias nacionais mundo afora, cujos métodos e histórias são ditados pelos donos do poder), dá-se exatamente o oposto, mais uma inversão de papeis neste mundo que prima pela distorção dos fatos.

Neste universo, a posição mais cômoda, evidentemente, é manter-se adequado à “visão” preponderante, sendo o contrário uma árdua tarefa que vale adjetivos pejorativos e, não raras vezes, muita agressão (repita-se: não se trata, até aqui, de uma defesa de nenhum dos espectros políticos).

Assim, pode e deve haver certo número dos chamados doutrinados (popularmente, “cabeça feita”) no campo oposto, mas a porcentagem é sem dúvida nenhuma muito inferior, por questões lógicas, à dos doutrinados pelo discurso predominante, principalmente quando se leva em conta quem lava seus cérebros: uma grande mídia sabidamente desinformativa, e métodos de “ensino” projetados, nas palavras de Noam Chomsky, para imbecilizar indivíduos, preparados apenas para votar e não incomodar os porões do poder. Jamais este sistema visa à formação de cidadãos, na acepção do termo.

Agora sim, aprofundando-se na atmosfera conservadora e progressista, um exemplo de irracionalidade pode facilmente ser observado nos discursos reacionários – e o Fez-se buque do Zückerberg, laranja da CIA, pode ser uma útil ferramenta na checagem do pé que anda a estupidez reaça tupiniquim.

A lista do cúmulo da ignorância neste sentido é vastíssima, portanto fiquemos com uma das últimas postadas pelas “cabeças mais pensantes” da direita tupinica, exatamente os que acusam seus “inimigos”, assim considerados abertamente por eles, de serem sem exceção vítimas de “doutrinação”: O Brasil é comunista, e quem, para ela, iniciou este processo de “comunização” à brasileira? Prepare a gargalhada: nada menos que ele, Fernando Henrique Cardoso!

Para completar esta “análise” que anda difundida, a solução, é claro, não poderia ser outra: intervenção militar já! O que evidencia outra imbecilidade neste festival da ignorância: essa mesma ditadura esteve por 21 anos no Brasil, sem trazer o avanço democrático prometido, sem educar e politizar a sociedade como prometiam em sua “Revolução Democrática” iniciada com o golpe contra o então presidente João Goulart, em 1964. Se a ditadura fosse eficiente, hoje esses mesmos setores reacionários não estariam rosnando tão ferozmente contra a sociedade e a política brasileira.

Outra difundida postagem (in)digna de menção pela inigualável estupidez, alega que após o final da ditadura todos os governos brasileiros foram incompetentes e corruptos (o que não se trata de mentira, é verdade), com a devida foto dos presidentes da República sendo o primeiro da fila nada menos que ele: José Sarney, presidente exatamente da Arena, da mesma ditadura que os mais incautos agora defendem! Parece piada, não? É a direita brasileira “apolítica”, “não-doutrinada”!

Mais uma dentre as inúmeras evidências do “quem é quem” nesta questão, a qual a direita tenta a todo custo transformar em belicista a começar pela difusão da ideia de que progressistas arquitetam aprovação de uma PEC para trocar as cores da “sagrada” bandeira nacional, do “amado” verde e amarelo pelo vermelho “do demônio”, é que os capitalistas defendem concorrência e acúmulo de bens, onde valha a lei do mais forte e poderoso, enquanto os “comunistas comedores de criancinhas” (para eles, qualquer um que defenda políticas sociais), esperam nada mais que um mundo em que haja solidariedade e não competitividade, igualdade e não uns com excesso e outros na miséria (essência do capitalismo).

Diante desse “resumo da ópera”, que cada um possa tirar suas conclusões – que se não forem tiradas por si só, diante desses fatos que falam muito por si mesmos – de nada adiantará se estender em mais análises sócio-econômicas.

Nada disso, contudo, é uma defesa da “esquerda” brasileira de péssimo gosto, em grande parte a outra face de uma mesma moeda politiqueira, demagoga, esquizofrênica, ignorante e corrupta em relação à direita nacional. E aí está a realidade, de novo, para não nos deixar mentir…

Porém, outro Brasil é possível – ainda uma bela utopia sem luz no final do túnel, sem nada em que se apoiar concretamente sendo necessário o que, em inglês, diz-se “OK to be OK”, ou seja, uma grande transformação que torne possível uma profunda mudança nas relações de poder do País e, consequentemente. na estrutura social; mas é possível…

Edu Montesanti

Fonte da foto : http://zonacurva.com.br/sim-outro-brasil-e-possivel/


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